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De migração a desigualdade: confira os principais pontos do discurso de Biden no marco de 100 dias de seu governo

O presidente dos EUA afirmou que o maior teste do país é verificar, antes das apostas dos "autocratas do mundo", que a "democracia ainda funciona
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

O presidente Joe Biden propôs uma ampla reforma migratória, a maior ampliação do gasto social em décadas para apoiar família de trabalhadores, redução da desigualdade econômica; e festejou a ressurreição dos Estados Unidos diante da pandemia e da crise econômica, tanto em casa como no âmbito internacional, em seu primeiro discurso diante de uma sessão conjunta do Congresso ao aproximar-se dos seus 100 dias de governo.

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No recinto legislativo ainda marcado por rastros da invasão de direitistas armados em 6 de janeiro para tentar barrar a certificação dos resultados da eleição presidencial, e com novas medidas de segurança e de saúde – limitou-se a assistência a 200 pessoas, uma fração dos até mais de 1.500 que comparecem normalmente a esses atos – Biden recordou que “chegou à Casa Branca em meio a múltiplas crises, entre elas a pior pandemia em um século, a pior crise econômica desde a Grande Depressão, o pior ataque contra a nossa democracia desde a Guerra Civil”

Declarou que apenas em 100 dias [a data exata dessa centena é na sexta-feira], “estamos vacinando o país, estamos criando centenas de milhares de empregos, estamos encontrando resultados reais que as pessoas podem ver e sentir em suas próprias vidas. Abrindo as portas da oportunidade”

“Estamos optando pela esperança sobre o temor, pela verdade sobre mentiras, pela luz sobre a escuridão”, afirmou. 

O presidente dos EUA afirmou que o maior teste do país é verificar, antes das apostas dos "autocratas do mundo", que a "democracia ainda funciona

Reprodução: Eric Haynes
Biden festejou a ressureição dos Estados Unidos diante da pandemia e da crise econômica

Vacinação

Festejou que se conseguisse dar 220 milhões de vacinas durante seus primeiros 100 dias, e que agora qualquer pessoa de mais de 16 anos pode ter acesso à vacinação. Prometeu que logo os Estados Unidos se tornarão um “arsenal” de vacinas para o resto do mundo. 

Informou que estão sendo enviados cheques de 1.400 dólares a 85% da população em assistência imediata, junto com apoios para pagar aluguéis e também para pequenos comércios e negócios, e está sendo reduzida a explosão de fome que foi detonada durante estas crises. 

Ressaltou que suas massivas propostas para infraestrutura e apoio ao bem-estar social estão dedicadas a gerar empregos bem remunerados para trabalhadores estadunidenses para reconstruir o país, e sublinhou que “Wall Street não construiu este país. A classe média construiu este país, e os sindicatos construíram a classe média”. 

A expansão de programas de assistência social e educação para famílias de 1,8 trilhões de dólares proposto hoje se agrega à sua iniciativa de infraestrutura apresentada há um par de semanas, e a do estímulo econômico que foi promulgada em lei, e em total somam quase 6 trilhões de dólares, um gasto social federal sem precedentes nas últimas décadas, financiado em grande medida com um incremento de impostos sobre os setores mais ricos do país. 

Migração

Ao mesmo tempo, incluiu como parte de sua visão de reconstrução social e econômica uma reforma migratória integral, incluindo vias para legalizar os 11 milhões de indocumentados, mas também indicou sua disposição a que sejam aprovados alguns componentes desta reforma.

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“A imigração sempre foi essencial aos Estados Unidos”, afirmou e instou o Congresso a proceder a reforma migratória que propôs no primeiro dia de seu governo. 

Solicitou que o mais rapidamente possível seja aprovada a legalização permanente de imigrantes que chegaram com suas famílias como menores de idade, conhecidos como “dreamers”.  

Para enfatizar o ponto, entre os cinco convidados especiais para acompanhar a primeira-dama durante o discurso do presidente – embora nesta ocasião se fez de maneira virtual, em vez de estar no palco com ela dentro da câmara legislativa- a Casa Branca convidou o Dreamer de origem mexicana Javier Quiroz Castro, cuja família migrou do México quando ele tinha 3 anos para viver no Tenessee. Agora ele é enfermeiro que trabalha em primeira linha na luta contra a pandemia em Houston, Texas.

Também urgiu uma legislação parcial para permitir que trabalhadores agrícolas no país possam legalizar-se, para ampliar vistos para trabalhadores temporários e para tornar permanente a proteção a imigrantes de certos países afetados por violência ou desastres naturais. 

O mundo

Biden também abordou pontos de sua agenda internacional, incluindo sua decisão de retirar tropas estadunidenses do Afeganistão depois de 20 anos – a guerra mais longa da história do país – como também o retorno do país aos acordos de Paris sobre mudança climática e à Organização Mundial de Saúde e recordou que realizou uma cúpula sobre mudança climática com 40 mandatários na semana passada. 

Deixou claro que a China é o principal desafiador dos Estados Unidos no mundo “para ganhar o século 21”. Assegurou que “diante desse país, como da Rússia e outros, os Estados Unidos não se retirarão de seu compromisso com os direitos humanos e as liberdades fundamentais”

Desafios domésticos

Na frente doméstica, Biden instou os legisladores a aprovar um projeto de lei que leva o nome do afro-estadunidense assassinado por policiais, George Floyd, com reformas sobre práticas policiais, afirmando que “todos vimos o joelho da injustiça sobre o pescoço da América negra”

Sua nova proposta apresentada hoje, chamada de Plano de Famílias Americanas, busca estabelecer creche universal, oferecer dois anos de universidades comunitária de maneira gratuita – recordou que sua esposa continua trabalhando como professora de uma universidade comunitária -, reduzir o custo do cuidado de crianças para famílias de baixa renda, estabelecer novos programas para dias de licença paga por razões de saúde ou atenção à família, redução de impostos e custos de seguros médicos para famílias de menor renda.  

Especialistas dizem que tudo isto poderia reduzir de maneira significativa a desigualdade econômica extrema no país, e até reduzir à metade a pobreza infantil. 

Ante essa desigualdade, Biden declarou que o de infraestrutura é “o maior plano de emprego desde a Segunda Guerra Mundial”, instou a promulgação de um lei para facilitar a sindicalização e aprovar um incremento do salário-mínimo a 15 dólares por hora.  

Ressaltou que a brecha entre a renda de executivos em cargos de chefia e trabalhadores está em seus níveis mais altos, e a pandemia piorou essa desigualdade; enquanto 20 milhões perderam o seu emprego, 650 multimilionários estadunidense incrementaram sua riqueza em mais de um trilhão de dólares. “É hora de fazer com que a economia cresça de baixo pra cima e do meio para fora”

Biden ofereceu seu discurso em um pódio na câmara baixa e a foi a primeira vez na história que um presidente brindou seu informe com duas mulheres atrás dele; a vice-presidenta Kamala Harris em seu papel de presidenta do Senado e a presidenta da câmara Nancy Pelosi, respectivamente segunda e terceira na linha de sucessão presidencial. 

Por causa da pandemia, só assistiu uma fração dos legisladores, um par de representantes do gabinete, em lugar de todos menos um (o sobrevivente designado), e apenas o chefe da Suprema Corte, em lugar de todos seus nove integrantes. Mas o discurso feito do pódio é verdadeiramente para o público estadunidense e apenas simbolicamente para os legisladores. 

Ele concluiu afirmando que o maior teste do país é verificar, antes das apostas dos “autocratas do mundo”, que a “democracia ainda funciona”.

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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