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Direita peruana fala em estimular “patriotismo” em campanha, mas tudo o que deixou ao povo foi fome e miséria

Enquanto para uns, o patriotismo simboliza o combate pelos interesses nacionais, para outros pressupõe a preservação de um certo status social
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul
Lima

Tradução:

Nestas semanas de campanha eleitoral ficou na moda falar da “grandeza do Peru”. Foi uma maneira cômoda de estimular o patriotismo, confundindo-o com uma estranha mistura de rituais concebidos com o propósito de preservar interesses e privilégios da classe dominante.  

O patriotismo, da mesma forma que o nacionalismo, tem diversas modalidades e interpretações. E responde, em boa medida, ao interesse daqueles que o usa, ou se vale dele para sustentar seus pontos de vista. 

Mariátegui encontra que o nacionalismo em países dependentes como o nosso, tem um viés positivo. Nutre-se do amor ao povo que o representa, de suas tradições, de sua cultura e sua história, e também de suas lutas.  

 É revolucionário e pode derivar inclusive no socialismo, porque “nestes povos, a ideia de Nação não cumpriu ainda sua trajetória, nem esgotou sua missão histórica”. 



 Mas com frequência é usada pelos poderosos para afirmar conceitos caducos e ideias do passado; para perpetuar benefícios arrebatados a terceiros, e dobrar vontades. Em nosso tempo temos expressões que confirmam esse signo.  

Enquanto para uns, o patriotismo simboliza o combate pelos interesses nacionais em matéria de riqueza, cultura e povo, para outros pressupõe a preservação de um certo status social herdado da velha aristocracia fossilizada e em derrota.

 Nós, os trabalhadores, devemos ter uma visão do patriotismo, e como consequência, da grandeza do Peru. Afinal de contas, forjamos a riqueza nacional e com ela construímos a estrutura econômica sobre a qual se ergue todo o esquema social. Sem trabalhadores não há riqueza, nem produção, nem vida. 

 O esforço dos trabalhadores – mineradores, pescadores, agricultores, metalúrgicos, professores e outros – permite uma acumulação material e espiritual que constitui o núcleo essencial do que em traços formais se considera o Peru. 

Enquanto para uns, o patriotismo simboliza o combate pelos interesses nacionais, para outros pressupõe a preservação de um certo status social

Agência Brasil
A candidata conservadora Keiko Fujimori.

É a base da estrutura econômica do país, e portanto a verdadeira fonte da riqueza nacional. 

 Pretender mimetizar o conceito de grandeza nacional com a defesa de uma democracia formal e, ainda mais, com um “modelo” econômico pontual, não é uma teoria política, mas sim um estratagema perverso da qual se valem aqueles que até hoje tem o controle do Peru, e travam uma batalha feroz por conservar o que acumularam. 

 Porque usa essa classe de artifícios, a nova oligarquia pretender fazer crer à grande maioria que é ela a que encarna a democracia; e aqueles que pensam o contrário são simplesmente terroristas, socialistas ou comunistas. 

 E gastam fortunas, pregando essa “doutrina”. Não tratam apenas de confundir os incautos. Também de aglutinar bandidos. 

  

Não sem desdém, e com uma forte dose de soberba, sustentam sem escrúpulos que tudo aquilo que “ameaça” o seu, é algo assim como a negação da pátria e, portanto, o antípoda da democracia mais elementar.  

 Ocultam o farisaísmo que os põe em evidência. Falam de riqueza, mas geraram miséria; de progresso, quando estimularam a dependência; de liberdade, quando perseguiram seus adversários e procuraram encarcerá-los e até matá-los; dos direitos da mulher, quando as violaram impunemente e esterilizaram; das populações rurais, quando as aniquilaram sem piedade. Lembram? 

 E hoje, com a ajuda dos meios de comunicação dos politiqueiros locais e com os recursos da CONFIEP, enviam às populações ex-ministros, ex-parlamentares e antigos funcionários de distintos governos para falar de “defender o conquistado”, quando a única coisa que deixaram à população foi fome, miséria e subdesenvolvimento. 

 Houve quem calculasse o custo dos 968 avisos luminosos que foram colocados nas avenidas de diferentes cidades estimulando a população para que “impeça o comunismo”. 68 mil soles custa manter cada um desses cartazes durante 30 dias. 

 Já pensaram quantos leitos de UTI poderiam ser conseguidos com essa soma, quantos tubos de oxigênio, quantas vacinas anti Covid? 

 Bem-merecido seria que os povoadores simplesmente escorraçassem seus emissários que sempre lhe levaram morte e acabassem com essas vitrinas luminosas que só servem de enfeite. 

 A velha ordem reacionária hoje se desmorona sob um impetuoso impulso dos povos. E as antigas camarilhas tremem diante da possibilidade de mudanças. Por isso haverão de somar-se todos, aqueles que eles enganaram sempre, que defraudaram a cada dia, que traíram cotidianamente a causa do Peru. 

 Não terão a ousadia de sair dizendo que Keiko “encarna a democracia”, que é “garantia para o povo”, que serve aos “mais necessitados”.

 É preferível que se calem e que vaiam impudicamente a votar em 6 de junho por seus bolsos e suas moedas. A grandeza do Peru vale muito mais que isso.

*Colaborador de Diálogos do Sul, de Lima, Peru.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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