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Defensor da liberdade de imprensa e criador do La Jornada, Josetxo Zaldua morre aos 70 anos

La Jornada, o periódico mexicano, possui uma grande parceria de longos anos com a Diálogos do Sul
Redação La Jornada
La Jornada
Cidade do México

Tradução:

Josetxo Zaldua Lasa, coordenador geral de La Jornada, pilar deste diário, morreu na última quarta-feira (29). Foi integrante da equipe fundadora em 1984, correspondente em Nicarágua durante os anos duros do processo revolucionário e da contrarrevolução, repórter de assuntos internacionais e finalmente editor chefe deste periódico.

Desta trincheira foi mestre de uma geração de repórteres e fotógrafos que se formaram na escola jornaleira nas últimas décadas. 

Durante os meses da pandemia, teve detectado um processo cancerígeno. Se manteve na sua mesa, como timoneiro do dia a dia deste jornal, até suas últimas forças. 

Josetxo Zaldua nasceu em Elizondo, no Vale do Baztán, Navarra. Estudou jornalismo e exerceu como fotógrafo e repórter em Pamplona no Diário de Navarra.

De profundas convicções independentistas, chegou ao México em 1978. No ano seguinte se integrou ao unomásuno, inicialmente como redator na seção de economia. Pouco tempo depois do assassinato em São Salvador de nosso correspondente Ignacio Rodríguez Terrazas, em agosto de 1980, foi designado correspondente em Manágua. Sua determinação foi, sempre, que a imprensa não devia ser calada, nem com o assassinato de jornalistas. 

Com a fratura do unomásuno, Zaldua se comprometeu com o grupo liderado por Carlos Payán e Carmen Lira, entre outros, para formar La Jornada. Permaneceu cobrindo anos cruciais na história nicaraguense até pouco depois da derrota eleitoral de Daniel Ortega em 1990.

La Jornada, o periódico mexicano, possui uma grande parceria de longos anos com a Diálogos do Sul

La Jornada
Josetxo Zaldua Lasa, coordenador geral de La Jornada morreu na última quarta-feira (29).

De regresso a México cobriu acontecimentos em Haiti, Brasil, Colômbia, Venezuela, El Salvador, Guatemala, Cuba e Peru. Dessa época são suas reportagens magistrais. Depois, por razões familiares, se transladou a Caracas, onde também foi correspondente. 

A partir da eleição de Carmen Lira como diretora geral do diário pela Assembleia Geral de Acionistas, em junho de 1996, o jornalista regressou ao México e desde então esteve à frente da edição. 

A partir de 2001 publicou na seção de esportes esporadicamente uma coluna: Coisas de futebol. 

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Em suas palavras, assim foi a etapa como correspondente, segundo narrou em um inusual arranque autobiográfico em suas sus redes sociais: “Fazendo contas, coisa da idade, caí em que devo muito a não poucos países e gentes. E o digo por meus 70 anos… Meus quase 10 anos da América Central foram mais que importantes em minha vida. Continuo apaixonado por essa região, especialmente pela Nicarágua. Além de conhecer colegas extraordinários de outras latitudes, conheci pessoas que lutavam para sobreviver. Pessoas generosas que compartilhavam seu gallo pinto, frijoles com arroz e tostones de plátano maduro sem pedir nada em troca. Nos coube enterrar não poucos colegas, mas isso criou uns laços muito fortes entre os sobreviventes. Depois me coube viajar por quase toda a América Latina. E aprendi das pessoas sem parar. Desde o México até o Cone Sul. Para um aldeão como eu, esse périplo se converteu em uma enorme fonte de conhecimento”. 

Sobre sua origem e sua madre, Masefa: “Tenho a desgraça, ou o privilégio, quem sabe, de haver nascido em dias diferentes; a certidão de nascimento diz que foi em 16 de agosto, mas minha mãe morreu jurando que foi no dia 17. Segundo ela o tipo que fazia os registros na cidade era meio bebum”.  

Sobre um sonho que não pode cumprir: “Se o maldito bicho me permitir, meus 70 vou celebrá-los na terra que me pariu…Irei a Elizondo, para estar com as pessoas que estimo e darei uma escapadinha para conversar sobre a tumba de meus avós. Alguém vai dirigir, porque não penso soltar a bota carregada de vinho tinto que me acompanhará. Ritos são Ritos”. 

Há alguns dias compartilhou em suas redes sociais o seguinte, a propósito do aniversário do diário. 

“Dizer 37 não diz nada, salvo que os numerinhos estejam ligados a um fato digno de atenção. É o caso; hoje completamos 37 anos trabalhando sem reservas para La Jornada. Antes do mítico número 0, vaticinaram que nascíamos na emergência, e assim foi. A força de golpes de rim saímos para a terapia intermediária, coincidindo com uma avalanche de acontecimentos que abalaram o mundo. Para não falar dos militares.

“Já La Jornada havia superado a fase crítica e, com a mente aberta e as penas como estiletes, nos lançamos a contar às pessoas o que víamos. 

“Internamente não foi um caminho de rosas, consubstancial aos jornais, mas as pessoas leais nunca deixaram que nos prejudicassem. Houve deserções empurradas pela ambição e resistimos. Nos levantaram acusações impossíveis de provar; em suma, trataram de romper-nos eticamente. 

“Mas aqui estamos com nossos 37 fantásticos anos falando por nós. Mas nós não somos nada sem vocês (os leitores). Nos comprometemos a seguir lutando e a seguir dando a voz àqueles que a negam. Obrigados infinitos por sua lealdade e longa e linda vida para todos”. 

Josetxo Zaldua acabava de completar 70 anos. Deixa sua esposa García e sua filha Amaia Zaldua García. No País Vasco, seu filho mais velho, Íñigo, seus netos, seus irmãos Itziar, Jesús Mari Jon. E muitos sobrinhos. 

* La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

** Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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