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Memorando Mallory: Bloqueio econômico dos EUA a Cuba completa 60 anos

Documento pretendia provocar uma mudança de regime na ilha através de “gerar fome, desespero e o derrocamento do governo”, constatam documentos
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Há 60 anos, o presidente John F. Kennedy assinou uma ordem executiva impondo “um embargo sobre todo comércio com Cuba”, uma medida que nasceu de uma recomendação de política exterior de Washington de que a melhor maneira para provocar uma mudança de regime na ilha era através de “gerar fome, desespero e o derrocamento do governo”, constatam documentos oficiais desclassificados e difundidos pelo National Security Archive.

A ordem executiva, conhecida como “proclamação 2447” foi assinada por Kennedy em 3 de fevereiro de 1962 e implementada em 7 de fevereiro, impondo um bloqueio “sobre todo comércio” que até hoje continua vigente e aumentado, 6 décadas depois.

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Há oito anos, classificaram como um fracasso, e que tem sido explicitamente reprovada por quase todos os países do mundo a cada ano na Assembleia Geral da Organização dos Nações Unidas.

Os documentos oficiais desclassificados que estabelecem essa política, uma seleção dos quais foram apresentados hoje pelo National Security Archive – organização independente de investigações e documentação sobre política exterior dos Estados Unidos – demonstram que o propósito de um bloqueio total era gerar “dificuldades” e “desencanto” no povo cubano para minar seu apoio à Revolução que era o que mais entorpecia os desejos de Washington de mudar o regime em Havana.

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De fato, o famoso memorando elaborado pelos subsecretário assistente de Estado para Assuntos Interamericanos, Lestor Mallory, datado de 6 de abril de 1960, resume o raciocínio oficial com que se desenvolveu a política do bloqueio. O tema do memorando é “O declive e a queda de (Fidel) Castro”. 

Enumera considerações sobre o governo de Castro: que a maioria dos cubanos apoiam a Castro; não há uma oposição política efetiva; a “influência comunista” está crescendo dentro do governo; oposição “militante” a Castro a partir do exterior “só serviria à sua causa e à comunista” e que dado tudo isto “o único meio que se pode vislumbrar para alienar o apoio interno é através do desencanto… baseado na insatisfação e na dificuldade econômica.”

O memorando de Mallory conclui que ante essas considerações, “todo meio possível deveria ser levado a cabo o antes possível para debilitar a vida econômica de Cuba” por meio de “negar dinheiro e fornecimentos a Cuba, reduzir os salários reais e monetários e gerar fome, desespero e o derrocamento do governo”. (Embora se conhecesse o texto deste memorando, o Archive pela primeira vez difundiu uma imagem do original).

Documento pretendia provocar uma mudança de regime na ilha através de “gerar fome, desespero e o derrocamento do governo”, constatam documentos

LATUFF
A melhor maneira para provocar uma mudança de regime na ilha era através de “gerar fome, desespero e o derrocamento do governo”

Eisenhower

Eisenhower ampliou sanções comerciais a Cuba em outubro de 1960, apesar de sua preocupação de que isso poderia provocar uma reação adversa do México e fomentar divisão na Organização de Estados Americanos. Seus assessores sugerem eximir do embargo remédios e alimentos para aplacar possíveis reações adversas à medida entre o público estadunidense

Mas não seria até fevereiro de 1961, um mês depois que Kennedy chegou à Casa Branca, que foi intensificada a pressão política para ampliar o embargo comercial parcial de seu antecessor. Seu secretário de Estado, Dean Rusk, ofereceu sua avaliação sobre as implicações de impor um bloqueio comercial total, concluindo que proibir importações de Cuba poria em desvantagem econômica a Castro e seria superior a qualquer benefício político que Castro poderia conseguir ao acusar os Estados Unidos de agressão econômica e da aplicação de medidas unilaterais.

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Rusk assegurou a Kennedy que um bloqueio “oferecerá apoio moral e estimulará aqueles que estão resistindo ao regime de Castro” e que era a melhor opção para minar o governo de Castro. 

Pouco mais de 20 anos depois, em uma avaliação extensa do impacto de sanções econômica estadunidenses no mundo, a CIA concluiu que depois de duas décadas as sanções estadunidenses contra Cuba “não cumpriram com qualquer de seus objetivos”.

Nessa mesma avaliação, a CIA assinala que embora em público Washington promova sua meta de “uma Cuba realmente livre e independente”, o objetivo real sempre foi “remover Castro do poder”.

Segundo Peter Kornbluh, diretor do Projeto de Documentação sobre Cuba do Archivo, sessenta anos depois “este embargo eterno se converteu em um símbolo perdurável da hostilidade perpétua na postura dos Estados Unidos para Cuba”. 

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A coleção de documentos difundida hoje pelo National Security Archive, organização independente de investigações e documentação sobre política exterior em Washington, oferece a evolução desta política, desde o embargo parcial do Presidente Dwight Eisenhower, ao bloqueio impulsionado por Kennedy, bem como modificações e manobras dos presidentes seguintes e outros funcionários desde Lyndon Johnson, Richard Nixon e Jimmy Carter. 

Veja a coleção dos documentos e uma cronologia do bloqueio.

David Brooks correspondente de La Jornada em Nova York
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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