A rede tecida pelo Pacto de Corruptos é forte e compacta; seus operadores – setor político, cúpula empresarial, Exército, sistema judicial e organizações criminosas – agem em estreita coordenação com o propósito de afastar qualquer tentativa de restabelecer o estado de Direito na Guatemala.
Para isso contam com o silêncio de uma cidadania temerosa, uma rede de meios de comunicação vendidos a seus interesses e a passiva anuência de associações de profissionais e universidades.
Reflexo de seu governo, Guatemala se tornou um país corrompido desde o alicerce até o telhado
Na galeria, observando o espetáculo, se encontram o Departamento de Estado, a Organização de Estados Americanos e, é claro, a Organização das Nações Unidas com seu principal operador, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD, cujo representante nesse país não passa de outra mais das presenças diplomáticas carentes de incidência.
Esta última instituição, entre cujos objetivos estão “erradicar a pobreza e reduzir a desigualdade”, tem sido incapaz de impor sua missão no país mais corrupto e empobrecido do continente.
A asfixia do sistema jurídico é uma ameaça à democracia, mas também à vida de seus melhores operadores e se transformou em um espetáculo penoso e descarado do Pacto de Corruptos liderado pelo Presidente e seus acólitos.
Com quase uma vintena de operadores de justiça no exílio por haver-se atrevido a investigar e processar os escandalosos casos de corrupção; e com jornalistas e investigadores éticos ameaçados por revelar os detalhes de seus delitos, Guatemala se instalou no pouco honrado posto das democracias em vias de extinção.
O futuro da Guatemala só depende de uma positiva resposta cidadã
No entanto, isto que sucede no âmbito doméstico tem um impacto importante no nível regional. Se os Estados Unidos e a ONU, como um dos organismos nas quais possui uma influência de primeiro nível, não parecem interessados em apoiar os esforços locais para restabelecer o estado de Direito, a suspeita está centrada em interesses muito mais relevantes, como conservar a Guatemala entre o grupo de nações submetidas às suas políticas neoliberais. O temor, nessas instâncias de poder, tal como sucedeu em Honduras e, para evitá-lo, não lhes tira o sono a destruição de sua institucionalidade.
A traição de quem se considera o epítome da liberdade e da democracia no mundo nada tem que ver com liberdade nem com democracia. Pelo contrário, assenta-se firmemente em uma liderança geopolítica e econômica na qual os direitos humanos e o bem-estar dos povos não têm cabida. Menos ainda lhes preocupa a cooptação da justiça e a perseguição e criminalização de seus melhores juízes, promotores e comunicadores sociais.
A luta, portanto, há de ser interna e sem trégua. A guerra contra a justiça não só se trava nas Cortes, mas sim em todas as instâncias políticas, econômicas e institucionais e sua podridão abarca qualquer âmbito da sociedade.
Os espaços de decisão – Cortes, Congresso e instituições do Estado – foram tomados à força por um grupo criminoso cujo poder se consolida graças ao silêncio de uma cidadania fadada a contemplar como saqueiam seu patrimônio e acabam com seus recursos. Tudo depende da resposta do povo e de quanto demore em reagir diante deste projeto de ditadura.
O futuro da Guatemala só depende de uma positiva resposta cidadã.
Com quase uma vintena de operadores de justiça no exílio por haver-se atrevido a investigar e processar os escandalosos casos de corrupção; e com jornalistas e investigadores éticos ameaçados por revelar os detalhes de seus delitos, Guatemala se instalou no pouco honrado posto das democracias em vias de extinção.
Carolina Vásquez Araya é colaboradora de Diálogos do Sul da Cidade da Guatemala
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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