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Para EUA, é mais vantajoso que Guatemala continue empobrecida e antidemocrática

Há interesses muito mais relevantes, como conservar país centro-americano entre o grupo de nações submetidas às suas políticas neoliberais
Carolina Vásquez Araya
Diálogos do Sul
Cidade da Guatemala

Tradução:

A rede tecida pelo Pacto de Corruptos é forte e compacta; seus operadores – setor político, cúpula empresarial, Exército, sistema judicial e organizações criminosas – agem em estreita coordenação com o propósito de afastar qualquer tentativa de restabelecer o estado de Direito na Guatemala.

Para isso contam com o silêncio de uma cidadania temerosa, uma rede de meios de comunicação vendidos a seus interesses e a passiva anuência de associações de profissionais e universidades. 

Reflexo de seu governo, Guatemala se tornou um país corrompido desde o alicerce até o telhado

Na galeria, observando o espetáculo, se encontram o Departamento de Estado, a Organização de Estados Americanos e, é claro, a Organização das Nações Unidas com seu principal operador, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD, cujo representante nesse país não passa de outra mais das presenças diplomáticas carentes de incidência.

Esta última instituição, entre cujos objetivos estão “erradicar a pobreza e reduzir a desigualdade”, tem sido incapaz de impor sua missão no país mais corrupto e empobrecido do continente.

A asfixia do sistema jurídico é uma ameaça à democracia, mas também à vida de seus melhores operadores e se transformou em um espetáculo penoso e descarado do Pacto de Corruptos liderado pelo Presidente e seus acólitos.

Com quase uma vintena de operadores de justiça no exílio por haver-se atrevido a investigar e processar os escandalosos casos de corrupção; e com jornalistas e investigadores éticos ameaçados por revelar os detalhes de seus delitos, Guatemala se instalou no pouco honrado posto das democracias em vias de extinção.

Há interesses muito mais relevantes, como conservar país centro-americano entre o grupo de nações submetidas às suas políticas neoliberais

UN Women – Flickr

O futuro da Guatemala só depende de uma positiva resposta cidadã

No entanto, isto que sucede no âmbito doméstico tem um impacto importante no nível regional. Se os Estados Unidos e a ONU, como um dos organismos nas quais possui uma influência de primeiro nível, não parecem interessados em apoiar os esforços locais para restabelecer o estado de Direito, a suspeita está centrada em interesses muito mais relevantes, como conservar a Guatemala entre o grupo de nações submetidas às suas políticas neoliberais. O temor, nessas instâncias de poder, tal como sucedeu em Honduras e, para evitá-lo, não lhes tira o sono a destruição de sua institucionalidade.

A traição de quem se considera o epítome da liberdade e da democracia no mundo nada tem que ver com liberdade nem com democracia. Pelo contrário, assenta-se firmemente em uma liderança geopolítica e econômica na qual os direitos humanos e o bem-estar dos povos não têm cabida. Menos ainda lhes preocupa a cooptação da justiça e a perseguição e criminalização de seus melhores juízes, promotores e comunicadores sociais. 

A luta, portanto, há de ser interna e sem trégua. A guerra contra a justiça não só se trava nas Cortes, mas sim em todas as instâncias políticas, econômicas e institucionais e sua podridão abarca qualquer âmbito da sociedade.

Os espaços de decisão – Cortes, Congresso e instituições do Estado – foram tomados à força por um grupo criminoso cujo poder se consolida graças ao silêncio de uma cidadania fadada a contemplar como saqueiam seu patrimônio e acabam com seus recursos. Tudo depende da resposta do povo e de quanto demore em reagir diante deste projeto de ditadura. 

O futuro da Guatemala só depende de uma positiva resposta cidadã.

Com quase uma vintena de operadores de justiça no exílio por haver-se atrevido a investigar e processar os escandalosos casos de corrupção; e com jornalistas e investigadores éticos ameaçados por revelar os detalhes de seus delitos, Guatemala se instalou no pouco honrado posto das democracias em vias de extinção.

Carolina Vásquez Araya é colaboradora de Diálogos do Sul da Cidade da Guatemala
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Carolina Vásquez Araya Jornalista e editora com mais de 30 anos de experiência. Tem como temas centrais de suas reflexões cultura e educação, direitos humanos, justiça, meio ambiente, mulheres e infância

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