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“Não se pode ser imparcial entre bem e mal”: 58 anos sem o jornalista Jorge Masetti

Compatriota de Che Guevara e fundador do Prensa Latina, Masetti buscou romper monopólio informativo das agências dos EUA
Jorge Luna
Prensa Latina
Havana

Tradução:

Há 58 anos, o jornalista Jorge Ricardo Masetti se internou para sempre na selva de Salta, no norte da sua Argentina natal, evitando assim sua captura como “Comandante Segundo” da guerrilha que preparava seu compatriota Ernesto Che Guevara.

Prestes ao seu desaparecimento físico pouco antes de cumprir 35 anos de idade, Masetti deixou em pé uma obra monumental no jornalismo latino-americano do século passado, que transcende até estes dias cheios de fake news, provocações digitais, concentração de meios, manipulação de informação e guerra midiáticas.

Além de descrever como primícia em seu livro “Los que luchan y los que lloran” a gesta cabeçada por Fidel Castro na Sierra Maestra, fundou – a instâncias do líder cubano e de Che Guevara – a agência Prensa Latina, desenhada para defender a nascente revolução de Cuba e as causas justas da América Latina e do Caribe. 

Sua vida e obra estão recolhidas em vários livros testemunhais, pese aos esforço de silenciamento pelos grandes meios internacionais. Entre os testemunhos mais esclarecedores se destaca o do Prêmio Nobel de Literatura, o colombiano Gabriel García Márquez.

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“Foi o melhor jornalista que eu recordo” disse o autor de “Cem Anos de Solidão” no documentário “A palavra empenhada”, dirigido no ano de 2008 por Martin Masseti, neto do relevante jornalista argentino, e Juan Pablo Ruiz.

“Masetti e eu fizemos uma só frente jornalística. Andávamos pesquisando coisas por todos os lados”, sustentou García Márquez no documentário e agregou: “onde aprendi a agarrar a notícia e que não me escapasse foi na Prensa Latina”.

Desde a fundação em 16 de junho de 1959 da agência informativa latino-americana, Masetti e outros jornalistas cubanos e latino-americanos se propuseram romper o monopólio informativo na região da agências estadunidenses Associated Press (AP) e United Press International (UPI).

Contra todo prognóstico, este – o primeiro meio alternativa da região – conseguiu resistir a ações de censura, perseguição e até ao assassinato de seus correspondentes, realizando seu trabalho em numerosos escritórios, especialmente na América Latina.

O fez em meio de um universo informativo totalmente negativo para a Revolução Cubana, incluindo obstáculos tecnológicos, financeiros e jornalísticos similares aos que hoje enfrentam seus mais de 35 correspondentes nos cinco continentes.

Compatriota de Che Guevara e fundador do Prensa Latina, Masetti buscou romper monopólio informativo das agências dos EUA

Prensa Latina – Wikimedia Commons
Masetti buscou romper monopólio informativo de agências estadunidenses como Associated Press e United Press International

Os leitores de Prensa Latina, próximo a celebrar seu 63º aniversário, preferem sua mensagem sobre os acontecimentos internacionais, baseado no postulado de Masetti: “somos objetivos, mas não imparciais porque – disse – não se pode ser imparcial entre o bem e o mal”.

Isto se constata no alto impacto de seus 350 despachos noticiosos diários, que inclusive são tomados como referência informativa por várias agências ocidentais.

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Essa mensagem própria, cubana, latino-americanista, terceiro mundista, se reflete em vários idiomas não só em sua transmissão eletrônica, mas também em uma vintena de publicações próprias, em suas redes digitais e uma ampla programação de rádio e televisão. 

Em um recente aniversário do Prensa Latina, o destacado intelectual cubano Eusebio Leal insistiu em que “(hoje) é mais necessário que nunca o testemunho verdadeiro, a capacidade de transmiti-lo e dá-lo a conhecer”.

É medular compreender, disse, o que sucede com o controle da informação e a suposta neutralidade das agências internacionais.

Em um histórico discurso ante o Segundo Encontro Internacional de Jornalista, em Baden, Áustria, em 1960, Masetti sustentou que dizer a verdade constituía o maior ‘pecado’ e ‘crime’ de Prensa Latina, segundo Washington, os grandes meios estadunidenses e a Sociedade Interamericana de Prensa.

Durante a guerra, recordou, combateram o povo de cuba com metralhas e com bombas; quando terminou a guerra, combateram e combatem a Revolução Cubana com notícias falsas. 

Assim como fizemos a Revolução em nosso povo, nós, os jornalistas revolucionários da América Latina, queríamos revolucionar o ambiente jornalístico latino-americano, revolucioná-lo em uma forma muito simples, muito clara, nada mais que com a verdade, sublinhou.

Jorge Luna é Jornalista e Diretor de Comunicação Social e Imagem da Prensa Latina.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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