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Mesmo excluída, Cuba marca presença entre os principais assuntos da Cúpula das Américas

Enquanto isso, políticos estadunidenses continuaram atacando líderes que criticaram governo Biden por não convidar países
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

No segundo dia da Cúpula das Américas, o governo anfitrião finalmente apresentou uma lista de participantes na qual se revela que se espera um total de 23 chefes de Estado, para quando o presidente Joe Biden presidiasse a cerimônia inaugural nesta quarta-feira (8) em Los Angeles, enquanto Cuba continua entre os países mais presentes apesar de sua ausência.

A cerimônia inaugural estava programada para a tarde de quarta-feira, com o que começará o programa de plenárias e reuniões entre os mandatários convidados ou seus representantes, que continuará até sexta-feira. Enquanto isso, nestes dois primeiros dias houve sessões em fóruns paralelos e oficiais entre diversos representantes da sociedade civil, setor empresarial e jovens que apresentarão suas recomendações à cúpula no final desta semana.

Na terça-feira (7), a vice-presidenta Kamala Harris anunciou, no marco da cúpula, que se conseguiu obter mais de 1,9 milhões de dólares em novos compromissos do setor privado para o esforço que ela lançou em julho do ano passado para gerar oportunidades econômicas no norte da América Central – Guatemala, El Salvador e Honduras – como parte da estratégia do governo de Biden para abordar as “causas fundamentais” da migração. Com isso, o total dos compromissos agora ascendem a mais de 3,2 milhões de dólares. 

Mas como em outros rubros, a participação ou não de vários mandatários está embaçando esforços como estes para o governo de Biden. De fato, por ora não estarão presentes os mandatários de justamente os três países centro-americanos onde Harris está impulsando sua iniciativa. A presidenta Xiomara Castro, de Honduras e o presidente Alejandro Giammattei, da Guatemala, já haviam indicado que não chegarão a Los Angeles e seu contraparte salvadorense, Nayib Bukele, não aparece na lista oficial, apenas seu chanceler.

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Além destes três, os outros países que não estão enviando seus mandatários, mas sim seus chanceleres ou outros representantes oficiais incluem México, Bolívia, Granada e São Cristóvão e Neves. Pelo menos três deles junto com Honduras citaram a exclusão de Cuba, Venezuela e Nicarágua como a razão principal da não participação de seus mandatários.


Cuba presente

Pelo segundo dia, e como se prognostica, será o caso ao longo da semana, Cuba estava presente na Cúpula apesar de sua ausência oficial. 

Nesta terça-feira, o secretário assistente de Estado para o Hemisfério Ocidental, Brian Nichols. denunciou por tuíte que “condenamos as ações do governo de Cuba de negar que assistam sete participantes da sociedade civil cubana à Cúpula das Américas. Não convidaremos os atores não democráticos de Cuba e acreditamos que é vital que participem representantes não governamentais de Cuba”.

Mas Nichols não mencionou que o seu próprio Departamento de Estado de fato negou vistos a uma delegação de 23 cubanos que haviam sido convidados a participar da Cúpula dos Povos, o evento alternativo que começa nesta quarta-feira em paralelo com a cúpula oficial com uma ampla participação de organizações e movimentos progressistas de todo o hemisfério. 

O Departamento de Estado insistiu que é falso que foram negados os vistos, mas que é o resultado de “circunstancias muito limitadas” na embaixada em Havana e que as solicitações tinham que ser feitas em uma embaixada ou consulado fora de Cuba. Por outro lado, Nichols também anunciou que se havia encontrado com o artista cubano Yotuel na Cúpula, e afirmou que Estados Unidos apoiam aqueles cubanos que defendem “pátria e vida”. 

Enquanto isso, políticos estadunidenses continuaram atacando líderes que criticaram governo Biden por não convidar países

Reprodução – Twitter
Alguns políticos estadunidenses continuaram atacando líderes que criticaram o governo estadunidense por não convidar Cuba, Venezuela e Nicar

Os oficiais estadunidenses não responderam a declarações de vários participantes, os quais mesmo antes de chegar fizeram eco da posição de Lopez Obrador de não excluir Cuba entre outros países, incluindo o presidente do Chile Gabriel Boric – posição que reiterou na segunda-feira durante sua visita ao Canadá antes de viajar a Los Angeles – e seu contraparte argentino Alberto Fernandez, entre outros.

Alguns políticos estadunidenses continuaram atacando líderes que criticaram o governo estadunidense por não convidar Cuba, Venezuela e Nicarágua. 

Depois que seu colega cubano-estadunidense, o senador Robert Menendez condenou a decisão do Presidente Andrés Manuel Lopez Obrador de não assistir pessoalmente a Cúpula, o senador republicano Marco Rubio tuitou neste terça-feira que “me alegra ver que o presidente mexicano que entregou seções inteiras de seu país aos cartéis de droga e é um apologista por uma tirania em Cuba, um ditador assassino na Nicarágua e um narcotraficante na Venezuela, não estarão nos Estados Unidos esta semana”. 


O segundo dia

Nas atividades iniciais, a Casa Branca destacou nesta terça-feira que “promover os valores democráticos e boa governança” tem sido um eixo das cúpulas hemisféricas, e que nesta nona edição buscará promover sua chamada “Iniciativa Presidencial para a renovação democrática” sobre a qual informou que o Departamento de Estado e USAID investiram mais de 477 milhões de dólares para apoiar democracia, direitos humanos e a luta contra a corrupção no hemisfério ocidental. 

Também se realizam outros eventos oficiais paralelos, ou com a participação de alguns dos representantes governamentais. O secretário de Estado, Antony Blinken, a vice-presidenta Harris e outros altos funcionários também participaram em foros acadêmicos que se realizam em conjunto com a cúpula.

Enquanto isso, os “milhares” de participantes nas atividades paralelas como nos eventos oficiais da cúpula inundam o centro de Los Angeles. Entre eles, segundo a lista oficial de participantes estarão os secretários gerais da Organização das Nações Unidas e da Organização de Estados Americanos, representantes de várias organizações multilaterais e regionais (Banco Interamericano, Organização Panamericana de Saúde etc.) e uma lista de “delegações de observação” que inclui a União Europeia, Caricom e vários países: Alemanha, Japão, Austrália, Espanha e até Kosovo e Senegal, entre outros. 

Diante disso, para os habitantes de Los Angeles a maior preocupação não são as disputas geopolíticas, mas sim os efeitos da cúpula sobre o pesadelo crônico do tráfico nessa metrópole durante esta semana.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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