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Queda de Castillo? Sem votos, fujimorismo mantém peruanos reféns e difamam governo

Mesmo antes que Castillo tomasse posse, peruanos já sabiam que o partido do Keikismo não lhe daria trégua e somaria forças para desestabilizar gestão popular
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul
Lima

Tradução:

Dois novos episódios marcaram a agravamento da crise política que afeta o país e que foi iniciada realmente há vários anos, quando as forças mais reacionárias resolveram dar uma batalha para ter em suas mãos todas as alavancas do Poder, ungindo Keiko Fujimori — contra a vontade dos peruanos — a Chefe do Estado. 

O primeiro tem que ver com os processos iniciados pela Promotoria contra o presidente e se orientam a despojá-lo de seu mandato. O segundo, com a crise do Gabinete Aníbal Torres, com a carta que este enviara ao Chefe do Estado pondo à sua disposição o cargo de Primeiro-ministro.

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Embora estes dois elementos sejam consubstanciais à atividade do Primeiro Mandatário, uma simples olhada ao cenário nacional nos leva a ver o pó debaixo do tapete e perfila o rosto que aparece a contraluz. Keiko Fujimori brilha ali com luz própria.    

Como se recorda, depois de uma retirada forçada registrada entre o fim da “década dantesca”, Keiko tentou fortuna eleitoral em 2006 conseguindo ser eleita Congressista da República. A partir dali reativou seus apetites eleitorais, mas sofreu severos contrastes em 2011, diante de Ollanta Humala e em 2016, diante de Pedro Pablo Kuczynski. Mais recentemente, uma nova derrota diante de Pedro Castillo.

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O país inteiro sabe que ela nunca aceitou sua derrota em nenhum dos eventos nos quais participou em busca da Chefia do Estado. Seu trabalho sempre colidiu com suas ambições de poder. Como parlamentar, por exemplo, desempenhou uma função muito discreta e até se recolheu ao regime de “licença pessoal” de até 500 dias. Nessas condições, sua função legislativa, virtualmente, foi nula. 

Nas eleições de 2011, Keiko sofreu um contraste sem atenuantes, mas esteve mais perto de alcançar seus objetivos na contenda de 2016. Por isso, na circunstância, não reconheceu o fato e brigou muito para assediar o presidente eleito a quem fez, finalmente, a vida impossível, forçando inclusive sua demissão em março de 2018. 

Todos recordam que nesse período, com uma ostentosa “maioria parlamentar” — 73 congressistas de um total de 130 — minou a atividade presidencial, mas não elaborou nenhum plano de governo, nem aprovou leis que encarassem o drama nacional. Para ela, os problemas dos peruanos revestiam um caráter subsidiário em relação aos seus interesses de ordem pessoal e eleitoral. 

Todos estes fatos formam parte do passado, mas aparecem vinculados à realidade de nossos dias porque têm que ver com o período presidencial iniciado em julho de 2021 e que acaba de completar um ano. 

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Força Popular – o partido do Keikismo

Ainda mesmo antes que Castillo assumisse sua gestão, os peruanos fomos conscientes de que Força Popular — o partido do Keikismo — não lhe daria trégua e que, ao contrário, somaria forças com outros destacamentos da ultradireita para desestabilizar o novo regime, valendo-se para isso de todas as ferramentas de que pudesse dispor. Hoje vemos isso. 

Os processos iniciados pela Promotoria contam com todo o revestimento legal que impõe a circunstância, mas se baseiam em acusações certamente tendenciosas. No que dizem pessoas de muito duvidosa executória — Zamir Villaverde esteve preso por assaltar uma pizzaria revólver em mãos no distrito de Miraflores — e têm por certo muito interesse em “lavar sua imagem” sem sofrer prisões nem condenações.

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Para isso, o único que requerem é lançar barro em quantidade contra Pedro Castillo rebaixando-o com o maior empenho possível. É claro que se algum deles dissesse uma só frase em favor do mandatário, não receberiam nenhum benefício. 

Há quem diga que isso não é tão simples, porque se finalmente não puderam aportar provas reais que confirmassem o que disseram, se lhes cabia toda possibilidade de recompensa judicial ou penal. Isso é relativo.

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A dinâmica do processo se orienta por agora não a condenar Castillo — para o que seria indispensável esse requisito — mas sim simplesmente despejá-lo de sua função governativa, coisa que se poderia conseguir por uma decisão “precautelar”, ou uma resolução do Congresso extraída a fórceps “rebaixando” arbitrariamente o número de votos constitucionalmente requeridos para uma vacância, ou uma suspensão no desempenho do cargo.

Quando isso for conseguido, o processo judicial que se ventilará dentro de alguns anos, passará a segundo plano e carecerá de importância.

O segundo episódio tem que ver com a crise de Gabinete que se desencadeou a partir da carta remetida pelo Presidente do Conselho de Ministros ao Chefe do Estado. Nela, Aníbal Torres não renuncia à função que assumiu há alguns meses, mas sim “põe seu cargo à disposição” do mandatário para que ele opte pela decisão que considerar necessária. 

A saída do Primeiro-ministro implica, certamente, a queda do Gabinete, a designação de uma nova equipe de governo e o pedido à Câmara de outro Voto de Confiança que, dito seja de passagem, já foi negado expressamente pelos porta-vozes da “maioria” congressual. Eles não sabem quem serão os ministros, nem o que dirão ou farão. 

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O que sim sabem é que não devem outorgar-lhes confiança alguma. No momento, em uma decisão que envergonhará o Peru diante do mundo, negaram licença ao Chefe do Estado para assistir à troca de mando na Colômbia. 

Como se vê, o Keikismo e seus aliados buscam pôr o país num beco sem saída. Bateram em vão na porta dos quartéis e fracassaram redondamente na concretização de seus objetivos mais sonhados, pelo qual alinharam suas baterias contra os fardados. 

Agora apontam diretamente à medula do Poder. Poderão ter êxito? A voz final a terá o povo. 

Gustavo Espinoza M. , Colaborador de Diálogos do Sul de Lima, Peru. 

Tradução Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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