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Ana Penido: "Precisamos de civis qualificados pensando segurança, defesa e soberania" (Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil)

Ana Penido: Brasil não discute defesa pois acha que militar só serve pra golpe

“Não é um tema absurdo. Qualquer país discute como controlar seus militares. O problema é que o Brasil trata como tabu”, destaca a pesquisadora

George Ricardo Guariento
Diálogos do Sul Global
Taboão da Serra

Tradução:

“O Brasil não discute defesa porque acha que militar só serve para golpe.” A afirmação contundente da pesquisadora Ana Penido, membra do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social e do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (GEDES), sintetiza sua participação no programa Dialogando com Paulo Cannabrava da última quinta-feira (3). Segundo ela, a esquerda trata o tema como “melindroso”, e o governo evita enfrentá-lo por medo de perder apoio popular.

Ana classifica como “histórica” a decisão do STF de julgar militares na Justiça Civil pela tentativa de golpe de 8 de janeiro. Para ela, o fato de altos oficiais estarem sentados no banco dos réus rompe com uma lógica de impunidade. “Não é porque você é militar ou civil, mas porque cometeu um crime”, destaca.

Mesmo assim, Penido pondera que esse julgamento atinge apenas os “CPFs”, e não o “CNPJ” das Forças Armadas. Ela denuncia que não há mudanças estruturais nas relações entre militares e poder civil, e que o Congresso ignora completamente a Política Nacional de Defesa. “Não teve um parlamentar, da esquerda ou da direita, que se inscreveu para debater o tema.”

A pesquisadora também aponta a influência direta dos Estados Unidos na doutrina militar brasileira. “O Brasil mantém um escritório em Washington para compra de armamentos. E com os equipamentos, vêm a doutrina, o treinamento e a dependência”, explica.

Ela alerta que punir indivíduos não impede novos golpes, e cita o exemplo da Argentina: “Mesmo com uma política forte de memória, verdade e justiça, Milei chegou ao poder e está desmontando tudo.” Nesse sentido, a especialista defende que a esquerda assuma o debate militar como questão de soberania: “Não é um tema absurdo. Qualquer país discute como controlar seus militares. O problema é que o Brasil trata como tabu.”

Questionada se o governo Lula pode usar a responsabilização de militares da ditadura para agradar a esquerda, Ana é taxativa: “Não. Isso não é prioridade nem para a esquerda, nem para o governo.”

Ela ainda faz um apelo à juventude para disputar espaço na burocracia da defesa nacional: “Tem mais de 200 vagas abertas no Concurso Nacional Unificado. Precisamos de civis qualificados pensando segurança, defesa e soberania.”

A entrevista completa está disponível no canal da TV Diálogos do Sul Global, no YouTube:


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

George Ricardo Guariento Graduado em jornalismo com especialização em locução radiofônica e experiência na gestão de redes sociais para a revista Diálogos do Sul Global. Apresentador do Podcast Conexão Geek, apaixonado por contar histórias e conectar com o público através do mundo da cultura pop e tecnologia.

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