“O Brasil não discute defesa porque acha que militar só serve para golpe.” A afirmação contundente da pesquisadora Ana Penido, membra do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social e do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (GEDES), sintetiza sua participação no programa Dialogando com Paulo Cannabrava da última quinta-feira (3). Segundo ela, a esquerda trata o tema como “melindroso”, e o governo evita enfrentá-lo por medo de perder apoio popular.
Ana classifica como “histórica” a decisão do STF de julgar militares na Justiça Civil pela tentativa de golpe de 8 de janeiro. Para ela, o fato de altos oficiais estarem sentados no banco dos réus rompe com uma lógica de impunidade. “Não é porque você é militar ou civil, mas porque cometeu um crime”, destaca.
Mesmo assim, Penido pondera que esse julgamento atinge apenas os “CPFs”, e não o “CNPJ” das Forças Armadas. Ela denuncia que não há mudanças estruturais nas relações entre militares e poder civil, e que o Congresso ignora completamente a Política Nacional de Defesa. “Não teve um parlamentar, da esquerda ou da direita, que se inscreveu para debater o tema.”
A pesquisadora também aponta a influência direta dos Estados Unidos na doutrina militar brasileira. “O Brasil mantém um escritório em Washington para compra de armamentos. E com os equipamentos, vêm a doutrina, o treinamento e a dependência”, explica.
Ela alerta que punir indivíduos não impede novos golpes, e cita o exemplo da Argentina: “Mesmo com uma política forte de memória, verdade e justiça, Milei chegou ao poder e está desmontando tudo.” Nesse sentido, a especialista defende que a esquerda assuma o debate militar como questão de soberania: “Não é um tema absurdo. Qualquer país discute como controlar seus militares. O problema é que o Brasil trata como tabu.”
Questionada se o governo Lula pode usar a responsabilização de militares da ditadura para agradar a esquerda, Ana é taxativa: “Não. Isso não é prioridade nem para a esquerda, nem para o governo.”
Ela ainda faz um apelo à juventude para disputar espaço na burocracia da defesa nacional: “Tem mais de 200 vagas abertas no Concurso Nacional Unificado. Precisamos de civis qualificados pensando segurança, defesa e soberania.”
A entrevista completa está disponível no canal da TV Diálogos do Sul Global, no YouTube:





