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ToggleApós as eleições celebradas na Bolívia é possível assegurar que a vitória do MAS, conseguida com 54,5% dos votos, superou todas as expectativas e consagrou o triunfo de Luis Arce.
Arce obteve mais de 20 pontos de diferença ante o candidato da direita, Carlos Mesa, que ficou com só 29,05% dos sufrágios.
Em geral, estava previsto um triunfo do MAS derrubado no ano passado com um golpe de Estado, mas se esperava um resultado mais apertado. Se prognosticava que a definição eleitoral ocorreria em um segundo turno, cujo desenlace parecia incerto.
Esse era o prognóstico de analistas e especialistas que na Bolívia e na região seguiam com cautela o deslocamento das forças no cenário do altiplano. A vida traçou outro roteiro.
A vitória popular caiu como um balde de água fria em alguns segmentos da sociedade, sempre pouco dispostos a conhecer e escutar a autêntica voz das populações.
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Arce obteve mais de 20 pontos de diferença ante o candidato da direita
Os meios de comunicação se calaram
No Peru, por exemplo, foi um denominador comum o silêncio dos meios de comunicação em 18 de outubro. Os programas políticos dominicais ignoraram completamente o processo eleitoral boliviano e nem eles, nem os canais, deram o menor sinal dos resultados.
No dia seguinte, a “Grande Imprensa” se calou em todos os idiomas. Só alguns se “atreveram” a falar sobre as “lentas contagens” e vaticinaram um resultado só para o dia seguinte. Ninguém quis adiantar o triunfo da chapa eleita.
Isso foi, sem dúvida, o denominador comum em boa parte da América Latina. Em cada país, os meios de comunicação serviram aos mesmos interesses: os do Império e das oligarquias nativas.
Vitória da unidade
A primeira lição que flui da experiência boliviana, e a que mais diretamente nos toca, alude à importância decisiva da unidade.
Se o MAS tivesse se dividido por afãs partidários, interesses de grupo ou ambições de caudilhos, seguramente a direita teria levantado o troféu da vitória.
Como em outras circunstâncias, aqui também se afirmou o triunfo do povo a partir de uma ação concertada na qual confluíram diferentes segmentos da sociedade boliviana.
Como era de se esperar, no caso primaram os melhores porque – como dissera José Carlos Mariátegui — souberam ser os melhores, ou seja, lideraram uma luta que enfrentou todos os riscos e na qual se jogaram inteiros aqueles que estavam mais identificados com as bandeiras de seu povo.
Não há vitórias sem dor e sem luta
O outro elemento chave é considerar um fato inelutável; não há vitória sem dor e sem luta. Nós o temos dito muitas vezes: nada cai como o maná do céu, nem está plantado na terra. Tudo deve ser construído pelos homens e forjado com o calor da batalha.
Os bolivianos tiveram que combater nas condições mais adversas durante décadas. Sofreram ditaduras horrendas, como as de García Mesa e Banzer; derrotaram Sánchez de Lozada e o próprio Mesa, e se enfrentaram até dobrar Janine Áñez, a aproveitadora do golpe de novembro do ano passado.
Prisão, tortura, perseguição e inclusive morte tiveram ante seus olhos aqueles que agitaram a bandeira da dignidade e da justiça. A dor macerou e se fez consciência. E isso gerou uma vontade de luta que se cristalizou em uma eleição digitada do começo ao fim pela classe dominante.
Porque, efetivamente, há que sublinhá-lo: o MAS atropelou o governo ditatorial que usou todos os recursos imagináveis para torcer a vontade cidadã. Inclusive se utilizou a invenção da “fraude” nas eleições do ano passado e foi lançada contra Evo Morales toda classe de patranhas. Nada melou a unidade do movimento nem a consciência do povo.
Contra tudo e todos
Bolívia triunfou enfrentando a antiga “rosca” que acumulou fortunas inimagináveis com o conto da “exploração mineira para promover o desenvolvimento”. Ao racismo e à teoria da “superioridade” dos brancos, fincados no oriente do país. À OEA, instrumento que conspirou sempre contra a vontade cidadã.
Também à classe dominante afirmada no poder na maioria dos países de nosso continente, que apostaram em “saídas” em função de seus interesses. À administração norte-americana que, através da Agência Central de Inteligência e da embaixada dos Estados Unidos, colaborou e apoiou os golpistas, alimentando todos os seus crimes.
Mas também enfrentou os conformistas, os pusilânimes, os que buscaram “acomodar-se” à situação criada desde fins do ano passado, pensando que já havia chegado o fim de Evo Morales e seus companheiros.
A vida deu uma paulada àqueles que falam de “ideias obsoletas”, de “processos superados”, de “confrontos absurdos”, ignorando a realidade que mostra como na luta dos povos nada caducou, nem perdeu vigência.
Defender a vitória
Hoje é preciso defender a vitória. E isso passa não apenas por fazer respeitar a vontade cidadã. Também por olhar para a frente e construir o futuro. Para que seja possível consolidar os avanços conseguidos.
Agora conhecemos melhor os perigos que ameaçam a Bolívia: a oligarquia tradicional nunca dormida, as camarilhas militares a serviço do fascismo, os grupos locais de poder, os partidos da burguesia aferrados ao passado.
Para vencê-los, é preciso assestar-lhes golpes decisivos: ganhar mais o povo, incrementar sua força, somar à sua causa os militares patriotas, quebrando o poder dos “mandos” reacionários e assassinos; denunciar firmemente a ofensiva imperialista na região; levar à prática o programa de governo do MAS.
Quanto a nós, temos um duplo dever: tomar a essência da vitória boliviana e assegurar a nossa, assimilando suas lições, e desenvolver a mais ampla solidariedade com a Bolívia de hoje. O 18 de outubro foi um triunfo continental da América Latina.
Gustavo Espinoza M., Ex-deputado e analista político peruano. Colaborador de Diálogos do Sul.
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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