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Os jornais perderam o sentido da ética e entraram no jogo do governo Bolsonaro

A maioria das vezes parecem até ter perdido o senso enquanto a nação sangra liquidando com as possibilidades de desenvolvimento
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul
São Paulo

Tradução:

É realmente incrível como os meios de comunicação oligopolisados ou oligarquisados perderam o sentido da ética. A maioria das vezes parecem até ter perdido o senso. Entrar no jogo diversionista do governo de ocupação enquanto a nação sangra liquidando com as possibilidades de desenvolvimento, recuperação de uma economia de pleno emprego.

Tomemos como exemplo o anúncio de que o capitão expulso do Exército que hoje comanda generais de que pretende colocar seu filho como embaixador nos Estados Unidos. Sem entrar no mérito da questão, não para dias seguidos dedicar páginas e páginas sobre o assunto.

Antes só se falava em Moro e Dalagnol… páginas e páginas por dias seguidos sem entrar no mérito da questão. Moro saiu de cena, deve ter ido pedir socorro a seus patrões nos Estados Unidos, já não se fala mais no assunto. Moro blindado com afagos do presidente.

Pergunta que circula na mídia alternativa: Quem tem a tecnologia para ter gravado as conversas entre o Juiz Acusador e o Procurador também acusador? Estará Moro sendo vítima de fogo amigo? 

Tudo é possível no reino da psicopatia.

O Estadão, por exemplo, foi durante um tempo um jornal conservador mas que informava bem, campeão em volume de informação. Conservador, mas com certa ética. Hoje perderam a ética. Não se pode considerar ético avalar as insanidades do governo, menos ainda a entrega da soberania nacional.

Vale recuperar um pouco da história do Correio da Manhã, fundado em 1901, tradicional jornal feito no Rio de Janeiro de maior peso político em seu tempo. Indicava ministros e os governos aceitavam.

Apoiou as reformas de base propostas pelo governo de João Goulart até que, ao que parece apavorado com os rumos que o processo tomava, virou oposição. Editorial de capa titulado Basta! sem dúvida selou a sorte do governo. Decretou seu fim.

O resto foi obra de militares a serviço das oligarquias com apoio dos Estados Unidos. História já bem conhecida. Os militares de hoje querem mudar a história para parecerem salvadores da pátria quando o que fizeram foi permitir a ocupação do país e do Estado pelas transnacionais.

O Correio da Manhã não demorou nem três meses pra perceber que não se tratava de um simples golpe para depor um governo e devolver o país à normalidade. Seguindo o calendário eleitoral deveria haver eleições gerais em 1965. Deveria, e se houvesse, ganharia Juscelino Kubistchek em aliança com os trabalhistas depostos.

Apoiou o golpe dizendo Basta, se fez oposição com a publicação de um “Ato Institucional” dizendo que a República dos Estados Unidos do Brasil passa a ser Brasil Republica dos Estados Unidos.

Correio da Manhã foi, durante anos seguidos, a única voz escrita na imprensa nacional de oposição à ditadura militar. Sofreu todo tipo de pressão. O Council of América do Rio de Janeiro proibiu as agências de publicidade de veicularem anúncios. Só com o varejo o jornal foi minguando.

Niomar Moniz Sodré Bittencourt (1916-2003), viúva do fundador Paulo Bittencourt (1895-1963), na direção do jornal, cassada e presa, junto com os diretores Osvaldo Peralva (1918-1992) e Nélson Batista em 1969, entrou em acordo com um grupo de jornalistas para que se demitissem para tentar dar sobrevida ao jornal. Mais adiante com dívidas impagáveis Niomar foi obrigada a transferir a propriedade a um grupo de empreiteiros. Já não era mais o Correio da Manhã. Sucumbiu. Em julho de 1974 com falência decretada. 

Tiveram a dignidade de não tergiversar quanto a seus princípios. Melhor morrer do que perder a independência. Conheço essa história porque eu era um dos repórteres políticos do Correio da Manhã.

Todos os demais jornalões apoiaram a ditadura e enriqueceram à sombra da conquista do Estado pelas transnacionais. Alguns jornais, como a Folha de São Paulo, de Otávio Frías de Oliveira (1912-2007) puseram sua infraestrutura a serviço da repressão, inclusive colocando agentes na redação e emprestando veículos de entrega do jornal para levar presos políticos.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1967. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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