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ToggleO superministro Paulo Guedes, da economia, está superlativamente perdido. Tudo o que diz respeito à sua cartilha já foi tentado e o processo continua andando para trás. Se digo processo é porque refiro-me ao processo integral de desenvolvimento do país, ou seja, desenvolvimento cultural, social e crescimento econômico. Por ser sistêmica, a crise é sociopolítica, é profunda. Por ser profunda, agravará a miséria e a morte das pessoas.
A liberação de R$ 147,3 bilhões, anunciada para ajudar a enfrentar a crise, vai desaparecer na voragem dos ministérios sem rumo e sem recurso. Já os R$ 3,1 bilhões para o Bolsa Família, com a reinclusão de um 1,2 milhão de pessoas que haviam sido excluídas já não terá o efeito esperado de ativar o consumo. Não vai nem repor as perdas pela inflação. O mesmo vale para os R$ 21,5 milhões a serem liberados do FGTS. Ainda assim é positivo, porque em muitos casos vai aplacar a fome e em outros pagar dívidas, ajudar o filho ou a filha desempregada.
Tudo o que anunciaram até o momento são cosméticos, uma camada de um verniz que com a primeira tempestade some. É como a questão das enchentes. Há 500 anos chove e enche nos mesmos lugares antes ocupados por rios e córregos. Todas as administrações, todos os anos, gastam bilhões na tentativa de conter as águas, inutilmente.
O Brasil já estava em recessão durante esta última década e em um cenário não tão ruim da economia global que crescia em uma média pouco superior a 2%. Agora é a economia global que está entrando em recessão. Veja bem: está entrando, o que significa que a coisa é progressiva, ou seja, começa hoje e se agrava nos próximos anos.
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Tudo o que anunciaram até o momento são cosméticos
Em resumo: a situação da economia global vai piorar
Por quantos anos? Sou analista, não adivinho. Quanto tempo levaram para sair da crise mundial de 2008? Para alguns economistas, a crise que se arrastou nestes dois decênios ainda é extensão daquela. O fato novo surgiu agora com a guerra bacteriológica, seguida da crise do preço do petróleo. Ambas fizeram despencar todas as bolsas.
Contudo, no Brasil, onde reina a mais absoluta incompetência entre os gestores da economia, será por décadas. Mesmo mudando de rumos.
Mudar de rumo é necessário para diminuir o sofrimento dos 90% da população excluída. Manter o rumo é agravar o abismo entre a riqueza e a pobreza. Como sintoma dessa crise sociopolítica, as enfermidades endêmicas, como dengue, sarampo, malária ou até mesmo gripe já estão matando mais que o coronavírus.
Belize, Costa Rica, El Salvador, México e Nicarágua notificaram três vezes mais casos de dengue do que no ano anterior, segundo a OPAS. Enquanto outros países, como Brasil, Guatemala, Honduras e República Dominicana, os casos de dengue subiram entre sete a dez vezes mais em relação a 2018.
A quebradeira será geral no momento em que se imponha uma emergência sanitária impedindo as pessoas de trabalhar, fazer comprar, viver a rotina do dia-a-dia de trabalho. Os especuladores e os oportunistas vão ganhar mais dinheiro explorando miséria dos outros. Uma boa pergunta: quem está comprando as ações nesse momento em que batem o recorde de baixa?
Interessante que havia previsão de melhora do PIB mundial para este ano de 2020. Foi jogada pra baixo com um simples espirro da China provocado pelo coronavírus. A expectativa de provável dinamização da economia global tinha como fundamento o fim da guerra comercial que os Estados Unidos declararam contra ao país asiático.
Porém, não conformados com a derrota sofrida nesta guerra comercial, tudo indica que os Estados Unidos resolveram fazer uma guerra biológica para travar o desenvolvimento da China — só que travou o desenvolvimento do mundo ocidental sob sua hegemonia.
Nesse cenário, na maioria dos países da órbita do dólar, os Bancos Centrais estão liberando recursos para ativar a economia dirigindo esses recursos para o setor produtivo e formação de ativos públicos.
Aqui no Brasil o processo de desindustrialização e desnacionalização borrou com essa possibilidade. Os poucos ativos que ainda restam estão à venda pra fazer caixa para o Executivo pagar as contas e enriquecer ainda mais os gestores da economia. Praticamente já não há mais ativos nacionais, estão todos em mãos estrangeiras.
Isso explica os bilhões de dólares que desde o início de fevereiro todas as semanas são desinvestidos e enviados para os países de origem ou seus paraísos fiscais. Para as transnacionais, a questão social é unicamente encarada como estorvo. Não se importam nem minimamente com o que possa acontecer com as pessoas. Veja o exemplo da Ford, que fechou uma fábrica em São Paulo, colocando milhares no desemprego, sem dar satisfação alguma.
A situação, em muitos países, é de guerra…. guerra paralisante. Prenunciam um PIB negativo para a China. Se ocorrer isso acarretará em uma derrubada do PIB dos países ocidentais, exponencialmente. Um ponto a menos no PIB chinês, dois pontos ou mais a menos nos EUA e no Brasil.
Vizinhos fecham as fronteiras e isolam o Brasil
Até domingo, eram 150 mil pessoas afetadas e 4.389 mortos em todo o mundo, 31 nos EUA. Nas quatro primeiras semanas de 2020, foram registrados 125.514 casos. Na China estão fechando os hospitais. Acabou-se a emergência. Não há mais perigo.
Praticamente todos os países de Nossa América adotaram medidas de emergência para proteger suas populações da pandemia provocada pelo coronavírus.
Os Estados Unidos, onde é menor a preocupação com a questão da saúde, sofrerão, no entanto, impacto econômico que talvez seja o maior de sua história, mergulhando o país em grave recessão. Lá, o sujeito não sabe se é portador do novo coronavírus porque não tem dinheiro para pagar o exame de laboratório. A partir do momento em que o vírus se disseminar, vai morrer gente em penca.
Igual caminho, ou seja, o da recessão e profunda crise social, seguirá o Brasil, onde um governo de ocupação de absoluta incompetência está paralisado diante dos dois fenômenos que preocupam a humanidade na atual conjuntura: a Covid-19, doença causada pelo coronavírus, e a paralisação econômica.
Em artigo publicado no jornal londrino The Independent, o economista Omar Hassan alerta que
o perigo econômico do coronavírus é exponencialmente maior do que os riscos à saúde pública. Se o vírus afetar diretamente a sua vida, o mais provável é que seja obrigando você a parar de ir ao trabalho, forçando seu empregador a torná-lo supérfluo ou falindo seus negócios.
Os trilhões de dólares varridos dos mercados financeiros na semana passada serão apenas o começo, se os nossos governos não intervirem. E, se o presidente Trump continuar tropeçando ao lidar com a situação, isso poderá afetar suas chances de reeleição. Joe Biden, em particular, identificou a Covid-19 como uma fraqueza de Trump, prometendo uma liderança ‘constante e tranquilizadora’ durante esta hora de necessidade dos EUA.
A guerra de preços do petróleo desencadeada pela Arábia Saudita com a intenção de castigar a Rússia vai afetar mais gravemente os Estados Unidos e seus aliados do que a Rússia e a China. Um tiro que saiu pela culatra, mas que agravou ainda mais o fio tênue da economia mundial sob a hegemonia do dólar, com risco de falência geral.
Situação na América Latina
É notório que o número de contaminados pelo vírus se multiplica exponencialmente nos países das Américas. Em praticamente todos estão sendo adotadas medidas de emergência, como se em guerra estivessem, para proteger a população. A única exceção é o Brasil.
Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia fecharam as fronteiras e suspenderam as aulas e atividades que requerem concentração de gente. O Uruguai ativou um plano de emergência sanitária e o Paraguai restringiu a circulação de pessoas e veículos e fechou as fronteiras. A Bolívia também adotou um plano de emergência nacional. As pessoas que chegam do exterior são levadas a fazer um juramento de que não são portadoras do coronavírus.
Equador, Peru e Colômbia decretaram emergência de saúde em todo o território, proibindo as concentrações de gente, portanto, aulas e, inclusive cultos nas igrejas e disputas esportivas. O Peru decretou emergência econômica e o governo se dispôs a liberar recursos para ajudar pequenas empresas e a população mais pobre. A situação é de guerra declarada, com o fechamento das fronteiras.
A Colômbia adotou emergência sanitária, o que dá ao presidente autoridade para adotar medidas sem consultar o Legislativo. Fechada a fronteira com Venezuela e proibido o ingresso de estrangeiro procedente da Europa. A situação se complica no país com as entidades sindicais chamando uma greve geral contra as políticas do governo para o dia 25 de março.
No Chile, onde a situação é mais grave, de 75 casos de infectados pelo coronavírus, passou para 155 nesta segunda-feira (16). As pessoas que chegam com sintomas ficam em quarentena. Aulas e disputas esportivas estão suspensas.
A Venezuela, com a ajuda de Cuba, está tentando cortar a cadeia de transmissão do vírus. As pessoas com sintomas de Covid-19 são colocadas em quarentena.
O Panamá fechou as fronteiras, restringiu a circulação e fechou o comércio. Quem chega da Europa fica em observação e, se tem sintoma, fica em quarentena.
Na Costa Rica, foi decretada emergência e o fechamento das escolas. Na Nicarágua, onde até agora nenhum caso registrado, quem chega no país por qualquer meio é colocado numa Câmara Térmica para medir a temperatura.
Honduras e Guatemala fecharam as fronteiras
Alguém, no México, gritou com grande acerto: Esta é a terceira Guerra Mundial! O governo informa que está tudo sob controle e confirma 52 casos sob cuidados médicos.
No Caribe, sete dos países do Caricom estão afetados.
Porto Rico está em estado de emergência sanitária e poderá decretar estado de sítio, com utilização do Exército.
El Salvador, livre de contaminação, está adotando medidas para proteger a população de risco (idosos) e está comprando quantidades de Interferon Alpha 2B de Cuba.
Em Cuba, já foram confirmados sete casos de afetados pelo coronavírus. As pessoas que chegam, passam por rigoroso controle médico e foram adotadas medidas de segurança nos balneários para manter o fluxo normal do turismo.
Comuna
Pois é…. agora temos um comuna-vírus. Li em algum lugar matéria com o título, Comunistas invadem a Itália! Referia-se à chegada de UTIs e pessoal técnico enviados pela China para aplacar a grave crise sanitária que afeta o país europeu. Ao mesmo tempo, está chegando médicos cubanos e o Interferon, antiviral que está ajudando no tratamento dos infectados na China e outros países.
Paulo Cannabrava Filho é editor de Diálogos do Sul
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