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Panelaços darão frutos? Quem derrubará esse governo, o vírus do Trump ou o povão?

Por todo o Brasil ecoa o grito: Fora Bolsonaro! Não ao fascismo! É, de qualquer maneira, um bom sinal. É um bom começo
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Os Panelaços começaram timidamente no domingo (16), aumentaram na segunda e recrudesceram na terça em 22 capitais de estado e várias grandes cidades como Brasília, Campinas…

É o povo dos bairros de classe média e de endinheirados que está se manifestando. É a mesma classe média que se manifestou pelo impedimento da presidenta Dilma e contra o PT. Essa gente que se deixou levar pelo conto do vigário e votou nessa coisa que está aí desgovernando o país. Pior, agindo pelos interesses do Império.

Por todo o Brasil ecoa o grito: Fora Bolsonaro! Não ao fascismo!

É, de qualquer maneira, um bom sinal. É um bom começo.

Falta a compreensão do que realmente está a ocorrer no país. A eleição foi uma farsa, resultado de uma operação de inteligência das forças armadas para a captura do poder. Quem governa é uma junta militar, que pode dizer legitimada pelo voto.

Um bando de generais despreparados, com a cabeça feita pelos Estados Unidos, todos estiveram sob o comando de Washington, ingênuos que acreditam nas cartilhas do Guedes. O homem que ajudou a equipe do ditador chileno Augusto Pinochet a destruir todas as conquistas sociais do povo chileno. E o Chile está lá, dando o exemplo do quanto de errado há nas propostas do neoliberalismo.

Como disse, é um bom começo. É hora de aproveitar a maré de descontentamento e transformá-la num tsunami. Uma gigantesca onda que empolgue a nação e peça nova eleição.

Por todo o Brasil ecoa o grito: Fora Bolsonaro! Não ao fascismo!  É, de qualquer maneira, um bom sinal. É um bom começo

Montagem Diálogos do Sul
Toda a comitiva do governo de ocupação que visitou o presidente Donald Trump em Miami voltou contaminada

Se tiram o Bolsonaro nada vai mudar. Vão até sentir saudades das palhaçadas dele diante das palavras ilusionistas do Guedes para a economia, fora o ressentimento de generais de pijama que estão com duplo salário no governo e não querem largar o osso. 

A situação é propícia para fazer vigorar a Constituição e as leis.

Já não dá mais para esconder o fracasso da política econômica e é preciso parar com a submissão entreguista aos Estados Unidos antes que seja tarde demais.

A classe média está aborrecida. Mas veja. Todas as medidas adotadas pelo governo de ocupação e pela maioria dos governos estaduais e municipais estão sendo em benefícios da classe média. Em primeiro lugar para proteger a eles mesmos, os que estão no governo. Em segundo lugar para proteger os mais ricos… para eles jamais faltará nada. Em terceiro lugar, a classe média.

E o povão?

Pro povão nada. Ou melhor, nada mesmo…. não tem shopping, não pode balada, não tem dispensa do emprego. O número de automóveis diminuiu bastante. Quem anda de automóvel é a classe média. Mas os ônibus e metrôs continuam cheios nas horas de pico. 

Cheios, mas não tanto quanto nos dias normais. Em vez de sardinha em lata ,estão como latas nas prateleiras, um ao lado do outro sem espremer ninguém. Com as mãos nos metais onde se penduram para não cair, sem máscaras, só com a vontade de trabalhar.

Os aeroportos internacionais igualmente continuam sem nenhum controle… Cumbica, em São Paulo, o de maior movimento do país, com trafego de 160 mil pessoas por dia, sem nenhum controle.

Se a pandemia se alastrar vai matar gente em penca. Mais do que a dengue está matando. É isso que eles querem? Claro que é.

Então gente, é para de reagir enquanto estamos vivos e botar essa gente que ocupou o governo pra correr.

Momentos como este são raros. Se deixarmos de passar o trem da história, ficaremos a ver navios. 

Como o Comitê de Crise no Planalto não funciona, só tem gente absolutamente despreparadas e generais frustrados, para enfrentar o caos da possível da pandemia, é preciso seguir o conselho do cientista Miguel Nicolelis e formar um Grupo de Salvação Nacional, com gente que pensa, gente inteligente de todas as áreas do conhecimento, para pensar e planejar como evitar o caos e sair da crise. 

A entrevista do Nilolelis vocês podem ver no Youtube do Tutameia, do nosso amigo Lucena.

 

Vírus do Trump

Acho que nós podemos chamar o coronavírus de vírus do Trump. Não é, comprovadamente, um vírus chinês. Segundo as autoridades chinesas, o vírus foi levado por uma delegação de militares e civis estadunidenses que estiveram em Wuhan ,em outubro do ano passado, para um evento esportivo, os Jogos Militares Mundiais. Nesse mesmo dia, em Nova York, segundo o jornalista Pepe Escobar, realizavam um ensaio de como enfrentar uma pandemia.

Isso do outro lado do mundo. 

Aqui, neste rincão latino-americano, parece que toda a comitiva do governo de ocupação que visitou o presidente Donald Trump em Miami voltou contaminada. Não é brincadeira, gente! São 17 pessoas do governo já confirmadas como portadoras do coronavírus. 

Nos Estados Unidos, a epidemia tem mais condições de se alastrar descontroladamente. Já são nova mil infectados e 149 mortos na trumpelândia. Trump admitiu que o país está em recessão e que o problema da pandemia poderá durar 18 meses. Precisam de 100 milhões de máscaras. Quem vai ajudá-los? Vão conseguir isso com a sexta frota?

António Guterres, secretario geral da ONU, manifestou sua preocupação diante do risco de uma recessão mundial. Risco mais que evidente pois além de matar, o vírus ataca a economia real em seu núcleo: o comércio, as cadeias de abastecimento, as empresas e os postos de trabalho, como disse em entrevista à imprensa transmitida pela ONU.

Na China, a pandemia já foi controlada. Pequim pode se dar ao luxo de utilizar os recursos que estão sendo desmobilizados para ajudar outros países com dificuldade de controlar o vírus, como a Itália, por exemplo.

Mas aqui, o presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara Federal, aquele que queria comandar o Itamaraty e se contentava com ser embaixador do Brasil em Washington, Eduardo Bolsonaro, disse que a China é responsável pela disseminação do vírus contra a humanidade.

Ele ofendeu o maior sócio comercial do Brasil, país que praticamente está sustentando esse governo, que não tem outra fonte de renda a não ser a exportação de produtos primários.

O Embaixador Chinês, Yang Wanming, ferido em sua alta dignidade, pediu reparações ao Itamaraty. “Eduardo adquiriu vírus mental”, disse o embaixador.

A parte chinesa repudia veementemente as suas palavras, e exige que as retire imediatamente e peça uma desculpa ao povo chinês:

Lamentavelmente, você é uma pessoa sem visão internacional nem senso comum, sem conhecer a China nem o mundo. Aconselhamos que não corra para ser o porta-voz dos EUA no Brasil, sob a pena de tropeçar feio.

Bingo!  

Eduardo já passou dos limites. Apoiou PMs amotinados, manifestação contra o Congresso e o Judiciário, ofendeu a China, o maior parceiro comercial, dentre outras ações que ferem a dignidade do legislativo. Onde está a Comissão de Ética da Câmara Federal? Etá na hora de mandar esse moleque de volta pra sua casa no condomínio das milícias do Rio de Janeiro.

Capitalismo selvagem

Merece observação também as medidas anunciadas pelo superministro da economiaalardeando minorar a crise. Já não havia produção. Baixar os juros, emprestar dinheiro para as empresas não compensará a falta do trabalhador, obrigado a ficar em casa. Reduzir salários para manter emprego só piora porque reduz ainda mais a capacidade de consumo. Os R$ 200 liberados para os desesperados aliviará a fome, resolverá problemas imediatos, mas não estimulará a demanda.

Na Vila Madalena, em São Paulo, onde há a maior concentração de bares e restaurantes, os proprietários estão desesperados. As pessoas acostumadas a consumir, estão com medo de sair de casa. Restaurantes estão demitindo e quem não tiver caixa para suportar, vai simplesmente quebrar. Se pedir dinheiro emprestado para os bancos, nunca conseguirá pagar.

A revista Foreign Affairs, talvez a mais séria e prestigiosa revista do establishment, órgão do Conselho de Relações Exteriores, publica interessante reflexão de Branko Milanovic, em que ele aponta que a pandemia está pondo em xeque a globalização. 

se a crise continuar, a globalização poderá se desfazer. Quanto mais dura a crise e quanto mais obstáculos ao livre fluxo de pessoas, bens e capitais, mais esse estado de coisas parecerá normal. 

De fato, obrigará os Estados a buscar a autossuficiência, depender menos da cadeia produtiva global.

Milanovic, um sérvio-estadunidense crítico da globalização, argumenta, citando FW Walbank, que em O Declínio do Império Romano no Ocidente, escreveu: “Em todo o Império [desintegrador], houve uma reversão gradual ao artesanato artesanal de pequena escala, mão-à-boca, produzindo para o mercado local e para pedidos específicos em A vizinhança.”

Em outras palavras, advoga que estará livre de crises quem puder viver em um espaço que lhe garanta suprimento de água, energia, alimentação e teto sem nada depender de outros, podendo fazer trocas de produtos com seus vizinhos. É o que Evo Morales propunha, é a forma de viver de nossos indígenas, é o modelo adotado pelo MST nas cooperativas de produção.

Pra terminar, o terraplanista Olavo de Carvalho, que mora nos EUA e é amigo da família Trump e guru do clã Bolsonaro que está a dirigir o ministério das relações exteriores, parece ter jogado o tapete.

O guru disse que seu pupilo, Jair Bolsonaro, fracassou na missão de derrubar o sistema. Veja bem, o plano deles era derrubar o sistema, ou seja, fechar tudo e governar em estado de sítio. O novo AI-5, como disseram os filhos do capitão.

Então eis o busílis da questão. 

Esperar que o governo de ocupação se recomponha e derrube o sistema?

Esperar que o vírus do Trump derrube o governo?

Está na hora, minha gente…. ou o vírus ou o povão!

 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1967. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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