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Respostas inadequadas de países capitalistas são um alerta; Brasil segue mesmo caminho

O fato de não tomar ações assertivas no início do surto fez com que o quadro tomasse proporções inimagináveis, levando governos a restringir direito de ir e vir
Rogério do Nascimento Carvalho
São Paulo (SP)

Tradução:

O avanço da covid-19 em território nacional segue a lógica inversa da cooperação que as nações do globo deveriam arregimentar em situações que levam à configuração da pandemia declarada recentemente pela Organização Mundial de Saúde.

O esforço empreendido por Estados Nacionais demonstra a falta de sintonia na atuação conjunta para administrar de maneira o atual quadro de avanço da doença, que cresce diariamente.

A covid-19 tem destruído discursos conservadores capitalistas, notadamente da União Europeia, em especial na França do presidente Emmanuel Macron, na Itália, do primeiro-ministro Giuseppe Conte e na Espanha, do primeiro-ministro Pedro Sánchez. Tais governantes optaram tardiamente por adotar políticas de restrição severa da circulação da população, menosprezando o potencial de contaminação do vírus no continente europeu, acreditando ser problema restrito à Ásia, em especial à China. 

O fato de não tomar ações assertivas no início do surto fez com que o quadro tomasse proporções inimagináveis, levando governos a restringir direito de ir e vir

Reprodução: Twitter
quarentena foi prorrogada na Itália

O fato de não tomar ações assertivas no início do surto fez com que o quadro tomasse proporções inimagináveis, o que levou estes governos a decretarem quarentena, restringindo o direito de ir e vir da população civil, na contramão dos princípios preconizados na União Europeia. Está provado que locais onde os governos ordeiramente tomaram atitudes de vigilância da população, como em Cingapura e Hong Kong, os números de mortos foram abaixo da média mundial do presente surto, e também não foi imposto sofrimento de confinamento ante seus nacionais.

Atualmente, no continente americano os discursos do presidente dos Estados Unidos da América, Donald J. Trump e do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, há um verdadeiro pêndulo ora de descrédito na potencialidade de alastramento do vírus, ora afirmando ser obra do governo de Pequim. Entretanto, a realidade indica que o sistema de saúde desses países, tal como os Europa, não suporta o número de doentes que precisam de leitos em Unidades de Terapia Intensiva e de respiradores, o que pode colapsar o sistema de saúde. 

Resposta tardia

A saída trivial para a tomada tardia de decisões tem sido o endurecimento pela adoção de quarentena e decretação de estado de calamidade pública, liberando a compra de insumos para combate à covid-19 sem a necessidade de licitação. Isso afetará as contas públicas e as relações de trabalho, já que haverá menor circulação de riquezas e reflete a incapacidade operacional de agir no momento adequado 

Neste cenário, assistimos ao derretimento dos índices das bolsas de valores de diversas praças globais e, no caso brasileiro, há o agravante da desvalorização repentina da moeda nacional e a perda significativa do valor de empreendimentos nacionais, cuja especulação só visa a atender interesses particulares fomentados pela perspectiva de lucro futuro de ativos pós-crise.

Caos econômico

Hodiernamente, o fato que concerne preocupação está na preparação das nações para o enfrentamento desta questão. Atualmente, países como o Brasil seguem a tendência de países europeus e latino-americanos em restringir o convívio social de seus cidadãos como forma de evitar a propagação do vírus na sociedade e de atingir menor número de habitantes.  

Fechamento de comércios, suspensão de aulas, restrição de transporte público e progressão de detentos de regime carcerário são ações que estão sendo utilizadas sem debate com a sociedade civil, pois tais ações não vêm acompanhadas de planejamento governamental, o que pode levar a erosão de relações sociais caso as autoridades não promovam políticas eficazes de compensação aos prejuízos econômicos reflexo direto das decisões das autoridades em resposta à pandemia.

É de se considerar o perigo iminente de explosão do número de casos em território nacional, notadamente em áreas periféricas, onde a aliança entre a ausência de órgãos do poder público, as condições sanitárias e de higiene precárias e a falta de investimento nacional em infraestrutura.

O Brasil tem sofrido fortes restrições orçamentárias em respeito a diretrizes fiscais capitaneadas por organismos financeiros internacionais, que oprimem nações soberanas em nome da estabilidade econômica, o que gera além de não gerar igualdade, aprofunda a concentração de riquezas e não traz paz social ao Estado.

Contudo, o dilema a ser vivido nas próximas semanas diz respeito à tomada de decisão das autoridades constituídas e o exemplo que estas podem dar à população. 

Evidentemente, em tempos de globalização econômica, a proliferação de fake news leva a população a responder de maneira inadequada e sem se proteger efetivamente dos efeitos da pandemia, o que pode contribuir negativamente para o sucesso da contenção do momento atual em que somos convocados a participar. 

É digno de nota que as autoridades não vêm agindo de maneira coordenada, com agentes desrespeitando limites que deveriam ser iguais para todos. Mas ao contrário, atiçam a população a reproduzir o mesmo comportamento de desrespeito e não contribuem para a eficiência das duras medidas a que estamos submetidos. 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Rogério do Nascimento Carvalho

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