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Queda de Moro e crise política: os efeitos colaterais da pandemia no Palácio do Planalto

Gripezinha e resfriadinho resistem e mostram a sua cara nas brigas com ministros e atrito com os demais poderes; notícias que vêm de Brasília não são animadoras
Rogério do Nascimento Carvalho
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Conhecido pela maneira peculiar de atrelar fatos relevantes a vocábulos diminutos, o presidente da República se encontra em encruzilhada cujo enredo escrito dia após dia abre caminho para a instabilidade política no país ao mesmo tempo em que, em tempos de pandemia da covid-19, lidera “front” desnecessário ao protagonizar baixas em membros da equipe e estabelecer relações conflituosas com os demais poderes.

As notícias oriundas de Brasília não são animadoras. Quanto mais o presidente da República tenta colocar-se como ator central na condução do retorno à atividade econômica e levantar o distanciamento social pelos Estados sofre derrotas em suas intenções ante o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal que dão sinal verde para responsabilizar Estados e Municípios em tomada de decisão sobre a condução da pandemia, o que decerto esvazia a atuação palaciana nestas ações.

Gripe atinge o Ministro da Justiça e a Polícia Federal

Com o animus de incentivar atritos, o presidente trava embates desnecessários com membros de sua equipe, o que leva baixas em seu governo. A última vítima foi o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, que recusou interferência direta do presidente na designação de membros de sua equipe.

Gripezinha e resfriadinho resistem e mostram a sua cara nas brigas com ministros e atrito com os demais poderes; notícias que vêm de Brasília não são animadoras

Reprodução: Winkiemedia
Manifestantes penduraram efígie do magistrado, como “traidor”, em frente ao prédio da 13.ª Vara da Justiça Federal em São Paulo

A aposta de Moro no ministério era trunfo do presidente para estabelecer pontes com a sociedade, devido a seu trabalho como juiz de direito e, por isso, havia a promessa velada de alçá-lo ao Supremo Tribunal Federal tão logo houvesse abertura de vaga pela aposentadoria de um dos ministros que viesse a ocorrer durante a vigência do mandato presidencial.

O verdadeiro embate entre o ministro e o presidente é o jogo de poder. Neste caso, a manobra presidencial atingiu dois pontos: liberou o óbice da qual seguia incômodo na Polícia Federal onde tramitam investigações envolvendo os filhos do presidente da República e agora pode conceder o cargo a profissional mais dócil para agir nesta questão e, em segundo lugar, retira de cena um forte candidato a sua sucessão em 2022 que detém apoio de setores da base bolsonarista.

Mas a queda do ministro Sérgio Moro mostrou a fissura na estrutura de poder do presidente com troca de acusações palacianas que embaralham o enredo e ao respingar no Palácio do Planalto pode levar a investigações e este sinal pode significar recomposição de forças com o Parlamento e, caso isso não ocorra vislumbra-se pedido de impeachment ou ainda renúncia presidencial. A depender das tramas a serem costuradas em Brasília, mas o dano é fato. Nada será como antes.

Entretanto, a ausência do ex-ministro Moro dá oportunidade ao presidente escolher integrantes na chefia do ministério da Justiça e na polícia federal possam desviar investigações em andamento contra seus filhos, dado a amizade íntima entre os atores. Com isso, o presidente se sobrepõe aos princípios da isonomia e da igualdade, caracterizado pelo desvio de conduta no exercício do mandato e, a pressão de setores da sociedade face a habilidade presidencial na condução de esclarecer fatos que podem determinar a governabilidade do atual governo. 

Resfriadinho com os demais poderes

Outra frente que se mostra nítida são os insucessos do governo no Parlamento e no Supremo Tribunal Federal. Ao cercear as vontades do presidente, acossa o mesmo a despejar seu rancor contra o regime democrático no Brasil. Rememorar o AI-5 e incentivar o fechamento dos demais poderes da nação mostra o amadorismo em conduzir os destinos da nação, por isso sofre constantes derrotas no Congresso e limitação de ação no Supremo Tribunal Federal.

Digno de nota que a base de apoio encontra-se insatisfeita com a forma de condução do presidente que paulatinamente desafia a ciência e se coloca acima de todos quando afirma ser ele a Constituição quando na verdade o juramento é feito de maneira inversa, ou seja, o incumbente deve manter a Carta Magna. 

Esta inversão de valores traz instabilidade e passa mensagem ao mundo de que há um pária no exercício da presidência da República. Preocupa o acirramento entre os poderes porque não há final previsível neste embate, mas já sabemos que são os perdedores: os mais pobres que morrem atualmente sem acesso a saúde e enterro dignos; cidadãos com salários cortados ou despedidos sem perspectiva de emprego, aumento exponencial da covid-19 e, enquanto isso, a roda palaciana em Brasília parece ao deleite como fosse um parque de diversões. Vislumbra-se maiores mudanças no governo, com mais baixas na equipe o que indica tratamento severo provocada pela gripezinha e o resfriadinho.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Rogério do Nascimento Carvalho

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