Candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo (SP), Guilherme Boulos obteve 20,24% dos votos no 1º turno das eleições, em 15 de novembro. Mesmo considerando a margem de erro, nenhuma pesquisa de intenção de voto realizada pelos principais institutos havia previsto essa pontuação. Às vésperas do pleito, Boulos tinha 16%, segundo o Ibope, e 17%, no levantamento do Datafolha, com margem de erro de dois pontos percentuais.
Para vencer Bruno Covas (PSDB) no 2º turno, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) precisaria repetir a façanha e superar novamente as previsões, que apontavam uma distância de aproximadamente dez pontos entre os candidatos, segundo o Datafolha divulgado na terça-feira (24), e de sete pontos, conforme levantamento da XP/Ipespe publicado na quinta (26). Para Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do instituto Vox Populi, que realiza pesquisas de opinião há 36 anos, a missão não é impossível.
“Quem vai votar no Bruno Covas já tem a escolha definida. É um voto ‘fácil’, por ser um sujeito conhecido, neto do Mário Covas [ex-governador paulista, falecido em 2001]. É um voto encaixado dentro do que o velho senso comum recomendaria”, argumenta o especialista. “A questão é que estamos vivendo outro mundo, e as pessoas sentem que as coisas precisam mudar. Quem diz que está em dúvida é quem está querendo votar no Boulos, mas não admite isso para si mesmo ainda”, diz Coimbra.
Divulgação / Equipe Manuela D’Ávila
Manuela D’Ávila e Guilherme Boulos conversam durante a campanha presidencial de 2018.
Somando os brancos e nulos e os 5% que não souberam ou não opinaram na última pesquisa do Ibope, são cerca de 17 pontos percentuais “em disputa”. Para se ter uma ideia, a diferença entre Covas e Boulos caiu seis pontos em menos de uma semana, segundo pesquisa Datafolha da última terça (24).
No último levantamento do Ibope, o ritmo de crescimento da candidatura do PSOL diminuiu – o que não significa que o eleitor já tenha definido seu voto.
“Será que eu vou ter coragem de votar no Boulos? É disso que estamos falando”, completa Coimbra. “Considerando a tradição política da cidade, é uma ousadia votar em um candidato com uma biografia de esquerda, que tem um partido de esquerda muito definido. É uma ruptura que o eleitor assimila aos poucos, e as pesquisas talvez não reflitam isso de maneira correta, apesar de estarmos às vésperas das eleições”.
A mesma análise se aplicaria a outra candidata de esquerda, Manuela D’Ávila (PCdoB), que disputa o 2º turno em Porto Alegre (RS).
“O eleitor não quer votar ‘pra trás’, não quer votar por medo. Quer votar para frente, sem amarras”, analisa o presidente do Vox Populi. “É por isso que a candidatura da Manuela também continua com chances de vitória. Muitos votam com convicção, mas há uma parcela do eleitorado que quer experimentar algo diferente, e são esses que levam mais tempo para decidir o voto”.
A candidata do PCdoB na capital gaúcha teria 46% dos votos válidos, segundo o Ibope, contra 54% de Sebastião Melo (MDB). Brancos e nulos somam 5%, enquanto 4% dos entrevistados não responderam ou disseram que não sabem em quem votarão.
Edição: Rogério Jordão
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