“O Brasil vive uma democracia tutelada pelos militares.” A afirmação contundente da historiadora Anita Leocádia Prestes, filha de Olga Benário e Luiz Carlos Prestes, sintetiza o tom da entrevista concedida ao programa Dialogando com Paulo Cannabrava na última quinta-feira (26). Para ela, apesar da redemocratização, as estruturas autoritárias da ditadura permanecem ativas no país.
Anita defende que a transição democrática foi um acordo entre as elites civis e os militares, deixando de fora os interesses populares. “Foi uma abertura controlada para preservar os interesses das classes dominantes e dos militares”, denuncia. Nesse sentido, ela critica a Lei da Anistia, que permitiu a impunidade dos torturadores do regime: “Eles não responderam a nenhum processo e morreram promovidos e elogiados por figuras como Bolsonaro.”
A historiadora alerta que os riscos de retrocesso autoritário persistem, especialmente diante de um Congresso conservador e da desorganização das esquerdas. “A direita está mobilizada, enquanto os setores populares estão passivos. O Lula não consegue avançar porque não tem base social organizada para pressionar”, aponta. Para ela, o fracasso do golpe de 8 de janeiro de 2023 se deve à falta de apoio dos Estados Unidos e da cúpula das Forças Armadas, além do amadorismo dos conspiradores.
Anita também compara o golpe de 1964 ao bolsonarismo e destaca diferenças essenciais: “Em 64, havia apoio amplo da imprensa, do empresariado, dos Estados Unidos e da maior parte das Forças Armadas. Em 2023, isso não aconteceu. Mesmo assim, o perigo continua.”
Uma possível medida para enfrentar o problema, mas desperdiçada pelos governos petistas, seria a reforma nas instituições militares, sugere a entrevistada: “Os militares seguiram sendo formados com anticomunismo virulento. O PT teve tempo, mas não mexeu nisso.”
Para as novas gerações, Anita deixa um recado: “Estudem, organizem-se, participem das lutas populares. Só com pressão social será possível transformar o Brasil.”
A entrevista completa está disponível no canal da TV Diálogos do Sul Global, no YouTube: