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ToggleAo fim de um ano a recolher denúncias de abusos sexuais praticados pelo clero português, a comissão liderada por Pedro Strecht apresentou o seu relatório final nesta segunda-feira (13). Segundo a agência Lusa, nesse período recebeu 512 testemunhos validados relativos a 4.815 vítimas.
O coordenador da comissão diz que “não é possível quantificar o número total de crianças vitimadas”, uma vez que o contato com a comissão era voluntário, e que este é o número “absolutamente mínimo” a que conseguiu chegar a partir dos testemunhos recebidos, que se referem a abusos cometidos desde a década de 1950. 25 dos casos relatados foram encaminhados para o Ministério Público.
Hoje em dia, as vítimas terão em média 52 anos de idade e a maior parte (52%) são do sexo masculino. Quanto aos abusadores, 96% são do sexo masculino e 77% tinham a função de padre.
À época em que os abusos foram cometidos, “eram todos estudantes do primeiro e segundo ciclo”, com uma idade média de 11,2 anos. Lisboa, Porto, Braga, Santarém e Leiria são os cinco distritos com mais casos, mas houve abusos denunciados em todos os distritos do país.
Foto: Vitor Oliveira | Flickr
Quase metade das vítimas só revelaram pela primeira vez os abusos quando contataram esta comissão e a maior parte se afastou da igreja
Locais preferidos
Seminários, colégios internos, confessionários, sacristia ou a casa do padre eram os locais preferenciais para os abusadores atacarem, havendo igualmente registro de casos no seio dos agrupamentos de escoteiros. O pico de abusos agora denunciados ocorreu nas décadas de 1960 a 1980.
Pedro Strecht referiu ainda que “nos testemunhos estão incluídos todos os crimes previstos na Lei Penal portuguesa”, sublinhando que predominam os abusos continuados. Quase metade das vítimas só revelaram pela primeira vez os abusos quando contataram esta comissão e a maior parte acabou por se afastar da igreja.
“Todos esperamos que este trabalho dê frutos e possa constituir uma nova etapa dentro daquilo que mais desejamos que é o bem-estar das crianças”, afirmou o pedopsiquiatra Pedro Strecht no domingo (12), quando entregou o relatório da Comissão Independente ao presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, José Ornelas.
Este diz tê-lo recebido “com profunda emoção e agradecimento” e prometeu lê-lo “com toda a atenção” para “fazer jus aos dramas que foram revelados” e à “seriedade” do trabalho desenvolvido pelos membros da Comissão e pelos investigadores que consultaram os arquivos históricos.
De acordo com o portal Sete Margens(link is external), além de Pedro Strecht, a comissão integrava ainda Álvaro Laborinho Lúcio, juiz conselheiro jubilado do Supremo Tribunal de Justiça e antigo ministro da Justiça; Ana Nunes de Almeida, socióloga e investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, que coordenou o estudo sobre “Maus Tratos a Crianças na Família”, encomendado pelo Parlamento, em 1999; Daniel Sampaio, psiquiatra, professor catedrático jubilado da Faculdade de Medicina de Lisboa; Filipa Tavares, assistente social e terapeuta familiar, que trabalhou cerca de 25 anos na Casa da Praia/Centro Dr. João dos Santos com famílias disfuncionais e de risco; e Catarina Vasconcelos, cineasta, licenciada na Faculdade de Belas Artes com pós-graduação em Antropologia Visual no ISCTE e mestrado no Royal College of Art, Londres, autora do filme A Metamorfose dos Pássaros.
Redação Esquerda.Net
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