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Após Peru, Chile e Bolívia, Brasil será o próximo a cair, novamente, nas armadilhas do império?

O mais ilustrativo do cinismo dos Estados Unidos é seu hipócrita discurso pelos direitos humanos, valor que viola reiteradamente cada vez que lhes convém
Carolina Vásquez Araya
Diálogos do Sul Global
Cidade da Guatemala

Tradução:

Nos últimos dias, voltamos a experimentar as falhas de um sistema imposto por governos poderosos, aliados de corporações multinacionais, cujas cabeças se ocultam nos meandros de um marco aparentemente legal de aplicação forçosa.

Já vimos antes, durante a dura história de golpes de Estado patrocinados pela Casa Branca e seus serviços de inteligência, mas seguimos sonhando com que esses ataques arteiros do passado são, vale a redundância, coisas do passado.

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As imagens de Pedro Castillo e de sua família saindo do palácio trazem à memória as de Jacobo Arbenz, na Guatemala. Nelas, fica plasmado o ódio das castas mestiças, cujo desprezo ancestral para qualquer tentativa de rebeldia política, com assento na busca da mudança, se traduz de imediato em um plano de emergência para deter com um golpe certeiro as possibilidades de uma transformação social, econômica e política capaz de aproximar-se dos anseios do povo. 

Digamos que Pedro Castillo tinha os dias contados, era evidente. Sua formação de professor não lhe deu acesso ao aprendizado dos truques utilizados durante décadas pelos políticos da oligarquia e isso lhe pôs data de validade. Se a isso agregamos a influência decisiva do Departamento de Estado para reverter – país por país – o giro continental para a esquerda, o pacote estava pronto, amarrado e com dedicatória.

Também no Chile, começou-se a pressionar a maquinaria centrando seus tiros no texto constitucional e, sem dúvida, maquinando estratégias para incidir em todo o marco político do novo governo. A Bolívia já passou pela experiência e também a Venezuela, com suas contas embargadas. Agora falta que dirijam seus tiros ao Brasil

O mais ilustrativo do cinismo dos Estados Unidos é seu hipócrita discurso pelos direitos humanos, valor que viola reiteradamente cada vez que lhes convém

Bob K – Flickr
A livre determinação dos povos não é mais que um desejo insatisfeito




Cinismo dos Estados Unidos

O mais ilustrativo do cinismo com o qual se movem os Estados Unidos em nosso continente, com a OEA como seu lacaio, é seu hipócrita discurso pelos direitos humanos e a democracia, valores que viola reiteradamente cada vez que convém à sua política e a seus aliados corporativos.

O caso mais ilustrativo dessa dupla cara se manifesta em suas relações com a Guatemala: um narcoestado cujos dirigentes destruíram, peça por peça, todo o marco institucional arrasando de passagens com seu sistema de justiça; mas ao estar o controle em mãos de uma oligarquia ignorante, obsoleta e de corte colonialista – o que ao sistema liberal lhe vem bem – olha para o outro lado. 

Nos venderam a preeminência dos direitos humanos, da democracia e da autodeterminação como uma aspiração legítima, mas enquanto agimos para conquistá-los vem o golpe de punho para recordar-nos qual é nossa verdadeira realidade.

Quer dizer, o engano descarado e a pílula política gorda que nós tragamos em longos períodos da nossa história. Os que não toleraram a Castillo no Peru, aplaudiram Zelenski na Ucrânia, demonstrando que tudo depende de que cor é o protagonista. 

Não podemos seguir ignorando a sombra funesta do império com seus aliados locais, capazes de utilizar o universo midiático para divulgar suas mentiras e convencer-nos do conto da liberdade democrática dos povos.

A realidade nos ensina, a golpes de Estados e bloqueios econômicos, como os interesses de um punhado de nações poderosas dependem de nosso subdesenvolvimento e nossa enorme capacidade para cair nas armadilhas do sistema, uma e outra, e outra vez. 

A livre determinação dos povos não é mais que um desejo insatisfeito.

Carolina Vásquez Araya | Colaboradora da Diálogos do Sul na Cidade da Guatemala.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Carolina Vásquez Araya Jornalista e editora com mais de 30 anos de experiência. Tem como temas centrais de suas reflexões cultura e educação, direitos humanos, justiça, meio ambiente, mulheres e infância

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