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Aproximação dos EUA à Venezuela prova que petróleo foi razão de ofensiva contra Maduro

Em Caracas, autoridades mostram certa cautela, enquanto valorizam o diálogo e manifestam vontade de avançar nas negociações com Washington
Redação AbrilAbril
AbrilAbril
Lisboa

Tradução:

O secretário executivo da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América, Sacha Llorenti, notou que, se alguma dúvida havia, ficou agora claro que “a agressão dos Estados Unidos contra a Venezuela foi por causa do petróleo”.

Na sua conta de Twitter, o dirigente do bloco regional destacou ainda, esta quarta-feira, a “vitória da Revolução bolivariana, liderada pelo presidente Nicolás Maduro”, como um triunfo da “democracia autêntica” e da “soberania nacional“. As afirmações de Llorenti ocorrem depois de, esta segunda-feira, se ter ficado a saber que, no sábado, uma delegação da administração de Biden se deslocou a Caracas, onde manteve um encontro com o chefe de Estado venezuelano.

Em Caracas, autoridades mostram certa cautela, enquanto valorizam o diálogo e manifestam vontade de avançar nas negociações com Washington

Montagem Diálogos do Sul
A Venezuela vai aumentar consideravelmente a exportação de petróleo para a Índia A Venezuela, que negoceia com Washington a exportação de pe

Sobre o encontro, Nicolás Maduro disse que decorreu em ambiente “cordial” e “respeitoso”, e que as partes decidiram trabalhar numa “agenda para a frente”, virada para o futuro. 

Ociel Alí López, num artigo ontem publicado no portal do Resumen Latinoamericano, destacou que, entre outras coisas, a “visita evidencia que o governo paralelo de Juan Guaidó é coisa do passado, não já pela sua força real, que sempre foi escassa, mas por ter saído do único lugar onde era forte: o repertório discursivo de Washington”.

Ainda a bicar o golpismo e Guaidó, que em Janeiro de 2019 se autoproclamou presidente interino da Venezuela, a mando de Washington e com o apoio dos aliados, o escritor argentino Atilio Borón diz que os seus restos políticos “são velados em Madrid, depois de uma oração fúnebre de Leopoldo López, Corina Machado, Julio Borges, Mariano Rajoy e Mario Vargas Llosa”.

Contentamento e cautela em Caracas, sem grandes revelações

Em Caracas, as autoridades mostram certa cautela, enquanto valorizam o diálogo e manifestam vontade de avançar nas negociações com Washington, no sentido de pôr fim ao cerco que asfixia o país. Um sinal disso foi a libertação de dois cidadãos norte-americanos presos no país sul-americano, ex-dirigentes da Citgo (filial da Petróleos de Venezuela), acusados de corrupção.

Uma das razões para a cautela venezuelana, como sublinham analistas, reside na continuidade das chantagens e das pressões.

Poucos dias antes da viagem da delegação norte-americana a Caracas, Biden renovou o decreto que qualifica a Venezuela – que tem sido apoiada pela Rússia e a China – como “ameaça invulgar e extraordinária à segurança nacional e à política externa dos Estados Unidos”.

O decreto, originalmente firmado por Barack Obama em 9 de Março de 2015, foi sendo repetidamente prorrogado, instaurando um férreo bloqueio comercial e financeiro, bem como o congelamento de ativos venezuelanos em território norte-americano.

Consolidar o cerco a Moscovo e… a Pequim?

Num texto publicado esta quarta-feira no portal almayadeen.net, o jornalista Omar Rafael García Lazo destaca que “o conflito militar induzido russo-ucraniano e a guerra econômica lançada pelos Estados Unidos e seus aliados contra a Rússia, em conjunto com as consequências econômicas geradas pela pandemia de Covid-19, provocou uma crise global com resultados imprevisíveis”.

Em seu entender, “Washington empenhou-se em evitar por todos os meios a criação de um bloco económico euro-asiático que significasse a “desconexão” entre a Europa e os Estados Unidos, a obsolescência da NATO e o fim da hegemonia norte-americana”.

Para García Lazo, “depois de conseguir o objetivo de que as armas entrassem em cena, Washington procura não perder tempo na consolidação do cerco econômico a Moscovo” e, nesse sentido, começou a mover-se na América Latina, região onde a sua influência decresce e a presença da China e da Rússia são cada mais sensíveis.

Por isso, entende que a visita de uma delegação de alto nível a Caracas visa avaliar até que ponto os interesses norte-americanos e da Venezuela se cruzam no actual contexto – descartando Guaidó e reconhecendo a legitimidade do governo legítimo.

Eleições e pressões internas nos EUA

Tanto o artigo de García Lazo como algumas notícias da imprensa referem o “prosaísmo” das movimentações de Washington. A produção petrolífera nos Estados Unidos não chega para a procura interna e a proibição da importação de petróleo da Rússia, associada à vaga de sanções, tem impacto nos preços da gasolina e de outros bens.

Ainda antes de o preço da gasolina atingir os 4,17 dólares por galão (3,7 litros), a administração de Biden não hesitou em abordar outros quadrantes, inclusive inimigos multi-sancionados como a Venezuela e o Irão, para assegurar a “segurança energética”.

Para Novembro, estão previstas eleições legislativas e, de acordo com a imprensa norte-americana, os republicanos, que fizeram pressão no sentido de vetar a compra de petróleo à Rússia, culpam agora Biden pela subida dos preços, procurando tirar dividendos eleitorais.

O presidente norte-americano tenta passar as culpas do aumento dos preços para Putin, procurando obviar as responsabilidades fundamentais do seu país e da NATO no actual cenário mundial – não apenas na Europa de Leste.

A Rússia e a “ameaça russa” vão sendo as “culpadas” da inflação, do que se passa nos bolsos do povo norte-americano, para tentar evitar um descalabro nas eleições. Prosaicamente, negoceia-se com Nicolás Maduro a segurança energética e põe-se de lado o golpismo anunciado aos microfones.

Maduro sabe que muito se joga no atual contexto mundial, e tem alertado para os riscos da guerra e da instabilidade crescente, que “asfixia países e regiões”. Além disso, por experiência bem vincada, o povo venezuelano sabe que no imperialismo não se confia nada.

Ainda assim, e sem que se vislumbre qualquer ruptura com os seus aliados, a Venezuela já se dispôs a vender petróleo aos EUA – algo de que o país sul-americano muito necessita – e tem tudo a ganhar nas negociações futuras, para se recuperar dos danos da estratégia golpista concebida por Washington e melhorar a qualidade de vida do seu povo.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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