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ToggleNa noite de 1° de setembro, o presidente eleito Bernardo Arévalo chamou o povo guatemalteco para defender a democracia e a decisão popular expressa nas urnas em 20 de agosto.
Arévalo denunciou em uma conferência de imprensa vários atores implicados em um golpe de Estado orquestrado pelo Ministério Público.
Revolução é recuperar a democracia, diz novo presidente da Guatemala
No dia seguinte, a população respondeu ao apelo com marchas em pelo menos quatro cidades do país. A Praça Central do Centro Histórico foi cenário de uma multitudinária concentração em que milhares de pessoas exigiram a renúncia da procuradora geral Consuelo Porras, de Rafael Curruchiche e Cinthia Monterroso, além do juiz sétimo Fredy Orellana.
Antecedentes
Dois dias antes, as redes sociais foram inundadas de mensagens em apoio à mobilização e de convocatórias de estudantes universitários, organizações sociais e de base, para denunciar um golpe de Estado em curso.
A demanda principal de milhões de cidadãos é a saída da procuradora geral María Consuelo Porras Argueta do Ministério Público (MP), a renúncia de Rafael Curruchiche Cucul chefe da Procuradoria Especial Contra a Impunidade (FECI) e de Cinthia Edelmira Monterroso da mesma procuradoria, além do juiz Fredy Orellana, que identificam como operadores do golpe.
Guatemala: vitória de Arévalo protege Semilla de perseguição e mira oposição corrupta
Os apoios do oficialismo para a procuradora-geral se concentraram no Terminal da zona 4, a principal área de abastecimento de alimentos e comércio no centro da cidade da Guatemala. Deste lugar, dirigentes da associação de vendedores que mantêm o controle do Terminal recolheram, desde bem cedo, assinaturas em apoio a Consuelo Porras e Curruchiche.
Ao meio dia, a população foi se aproximando do Centro Histórico à espera da manifestação convocada pela comunidade universitária da Universidade de São Carlos da Guatemala (USAC) – a única universidade estatal e autônoma do país -, coletivos sociais e organizações populares, a que se somaram profissionais, artistas, estudantes de universidades privadas e população em geral.
Depois de uma conferência de imprensa na rua 18, zona 1 da Capital, a manifestação convocada iniciou seu percurso pela Sexta Avenida, buscando a entrada da Praça da Constituição, cenário de muitas jornadas de protesto, especialmente as de 2015 que conseguiram a renúncia do binômio presidencial do Partido Patriota, encabeçado por Otto Pérez Molina e Roxana Baldetti, acusados de atos de corrupção.
Nos diferentes cartazes levados pelas pessoas liam-se mensagens alusivas à má gestão de Porras à frente do MP e às ações ilegais que consideram que procuram gerar um golpe de Estado no país e impedir que Bernardo Arévalo e Karin Herrera assumam a presidência e o governo da Guatemala, no próximo dia 14 de janeiro.
Ao longo de dez quadras a coluna de manifestantes foi engrossando, enquanto na Praça da Constituição outro grupo começava o protesto, à espera da chegada dos que saíram da rua 18 capitalina.
Bernardo Arévalo: Vitória do Semilla é ato de coragem do povo da Guatemala
A Praça foi se enchendo de bandeiras azuis e brancas, de cartazes, faixas, zuzuelas, com a demanda cidadã, o apoio e acompanhamento do binômio presidencial eleito e a decisão de defender o voto e sua decisão refletida nas urnas durante as eleições gerais. Nas ruas e praças a jornada foi marcada pela participação de todas as idades.
#DefensaDeLaDemocracia ?? “Consuelo, golpista, vos sos la terrorista” es una consigna habitual en las protestas contra la fiscal general, Consuelo Porras a quien piden su renuncia.
La marcha está llegando a la plaza de la Constitución.
? Regina Pérez pic.twitter.com/GDZ4eQIxjQ
— Prensa Comunitaria Km169 (@PrensaComunitar) September 2, 2023
“Estamos aqui para defender a democracia. Estamos aqui para defender os votos, porque não queremos um golpe de Estado. Estamos aqui porque o povo escolheu. Estamos aqui porque não queremos o pacto corrupto de uma ditadura”, gritavam os manifestantes nas ruas.
“Estou junto com todas as pessoas que querem que toda essa gente corrupta que está arruinando o país, saia de uma vez por todas. Eu já estou cansado de tudo que causaram estes corruptos que só trabalham a favor de uns poucos e sempre afetando os que estamos abaixo”, disse o manifestante Keny López.
Estas foram suas declarações:
#DefensaDeLaDemocracia ✊?”Estos corruptos únicamente trabajan en favor de unos pocos”
Keny López, habla sobre las razones por las que se sumó a la manifestación de este sábado. “No estoy dispuesto a que arruinen a mi familia”, dijo.
?PC pic.twitter.com/qLdgy8zclW
— Prensa Comunitaria Km169 (@PrensaComunitar) September 2, 2023
“Estamos pedindo justiça para o povo da Guatemala, por isso estamos nos manifestando; e por nossos filhos”, declarou Cecilia Ochoa, que foi ao Centro Histórico para participar da manifestação.
Assim se expressou:
#DefensaDeLaDemocracia “Estamos pidiendo justicia”
La ciudadana Cecilia Ochoa se pronuncia por su participación en la manifestación en el Centro Histórico de la ciudad.
?PC pic.twitter.com/Rom5gDiFjV
— Prensa Comunitaria Km169 (@PrensaComunitar) September 2, 2023
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Foto: Prensa Comunitária
Nas ruas, praças e estradas, a população e as formas locais, comunitárias, indígenas e populares mantêm a luta para reverter este golpe
As praças vão ganhando força
Quetzaltenango
Cidades como Quetzaltenango no sudoeste do país, a uns 200 quilômetros da capital; a Antiga Guatemala, Sacatepéquez, a 41 quilômetros; Cobán, Alta Verapaz a 212 quilômetros e Puerto Barrios, Izabal, a 300 quilômetros da cidade da Guatemala foram cenários de manifestações e concentrações em suas praças centrais ou em frente às sedes do MP.
Nestes departamentos as manifestações se mantiveram desde 25 de junho, contra as primeiras ações ilegais do MP contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o processo eleitoral e o partido Movimento Semilla (Semente).
Em Quetzaltenango a jornada de 2 de setembro foi iniciada pelos filiados à associação de aposentados e aposentadas, que chegaram ao Parque Centroamérica para protestar contra o golpe de Estado e mostrar seu apoio ao presidente eleito Bernardo Arévalo e sua vice presidenta, Karin Herrera.
Umas horas mais tarde, foi chegando mais gente, entre eles a cantora maia Kaqchikel Sara Curruchich; juntos exigiram a renúncia de Porras e Curruchiche que qualificaram como “inimigos da nação”, ocupando o parque e depois diante da municipalidade.
Cobán, Alta Verapaz
O povo de Cobán, Alta Verapaz, realizou uma assembleia convocada pelo grupo Unidos pela Democracia, de que participam diversos atores da sociedade civil e dos movimentos populares do departamento.
Na véspera, tomaram o parque central diante do monumento do mártir e dirigente indígena maia Q’eqchi’, Manuel Tot, que enfrentou o regime colonial no século XVIII; professores, camponeses e religiosos ergueram sua voz na tribuna, chamando a fortalecer as mobilizações.
Neste sábado, simultaneamente à capital convocaram uma nova manifestação que se alongou por toda a tarde.
#AltaVerapaz ?”Rechazamos y condenamos la decisión de la junta directiva del Congreso de desconocer al bloque de diputados de Movimiento Semilla”
En un comunicado, los ciudadanos de Cobán afirman que las acciones del MP contra Semilla son ilegales.
?Elías Oxom pic.twitter.com/SITap8CwkW
— Prensa Comunitaria Km169 (@PrensaComunitar) September 2, 2023
Puerto Barrios, Izabal
Em Puerto Barrios, Izabal localizado no caribe guatemalteco, a população realizou uma marcha pelas principais ruas do departamento para mostrar seu repúdio ao golpe de Estado e sua exigência de respeito aos resultados eleitorais e a defesa da democracia do país.
Antiga Guatemala, Sacatepéquez
O mesmo ocorreu na cidade de Antiga Guatemala, conhecida como cidade colonial, em Sacatepéquez, na região central do país. A manifestação concentrou-se em frente à sede do MP neste departamento,.
As convocatórias para mais protestos e mobilizações são anunciadas para domingo 3 de setembro, especialmente no departamento de Escuintla na costa sul no Pacífico guatemalteco e para segunda-feira, 4 de setembro prevendo-se a participação das principais prefeituras indígenas e de povos originários em nível nacional.
Arévalo antecipa tentativa de golpe de Estado
Durante a tarde de sexta-feira, 1° de setembro, o presidente eleito Bernardo Arévalo denunciou, em uma conferência de imprensa, a continuidade do golpe de Estado em gestação no MP e nas cortes.
Arévalo indicou diretamente a procuradora-geral e chefe do Ministério Público, María Consuelo Porras; o chefe da FECI, Rafael Curruchiche; assim como o juiz sétimo penal A, Fredy Orellana, além da Junta Diretora do Congresso da República encabeçada pelo oficialismo, de serem os supostos responsáveis diretos pelo golpe.
Durante as manifestações desta jornada, a população apontou também para o presidente Giammattei, o pacto de corruptos do Congresso da República e o setor empresarial organizado no Comitê Coordenador de Associações Agrícolas, Comerciais, Industriais e Financeiras (CACIF) como os principais autores e dirigentes deste golpe.
Nesta semana o Legislativo declarou independentes de forma ilegal e arbitrária os deputados do partido Movimento Semilla, depois que o Registro de Cidadãos do TSE acatou a ordem do juiz Fredy Orellana e resolveu pela suspensão provisória da personalidade jurídica do partido.
Diante destas ações do sistema de justiça, o partido Movimento Semilla acionou o TSE para buscar a nulidade da suspensão, um processo que analistas e advogados concordam que chegará a uma batalha legal nas principais cortes do país, onde os atores do golpe de Estado têm fortes apoios.
Arévalo e o Movimento Semilla enfrentam o golpe no cenário legal nacional e internacional. Guatemala despertou a preocupação do conjunto de nações que fazem parte da Organização dos Estados Americanos (OEA) e com eles, veio a condenação contra o governo de Giammattei.
Nas ruas, praças e estradas, a população e as formas locais, comunitárias, indígenas e populares de organização empurram a luta para reverter este golpe. A população convoca para as praças novamente; nesta semana continuará a pressão cidadã sobre o MP; e os povos indígenas começaram a pressionar para tirar Porras do órgão investigador.
Redação Prensa Comunitária
Tradução: Ana Corbisier
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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