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Foto: Reprodução / X

Argentina: Milei aplica desmonte no exército em meio a crise com vice-presidenta

Milei implementou profundas alterações nas Forças Armadas, reduziu número de altos escalões e executou acordos no Senado para as promoções de novos oficiais militares
Stella Calloni
Diálogos do Sul Global
Buenos Aires

Tradução:

Beatriz Cannabrava

O presidente Javier Milei e seu gabinete parecem dispostos a aplicar “a motosserra” às Forças Armadas. No último sábado (30), foi anunciada a passagem para a reserva do Comandante Operacional do Estado-Maior Conjunto, Fabián Berredo, um dos cinco militares mais importantes do país, que apresentou uma denúncia ao juiz federal Daniel Rafecas, acusando o subchefe do Exército, Carlos Carugno, de tê-lo ameaçado e extorquido para que se retirasse, sob pena de sua esposa, Claudia Barros, coronel médica do Hospital Militar, ser despedida.

O general Berredo, que ocupava um cargo estratégico, considerou que isso foi uma “clara figura de coerção”. “Enviaram-me um mensageiro para dizer que, antes de tal data, eu deveria me retirar ou esse fato ocorreria com minha esposa”, declarou em entrevista à Rádio Mitre, do grupo Clarín.

“Ao longo de três meses, e antes de apresentar minha renúncia irrevogável, comuniquei essa situação às instituições, às máximas autoridades militares e civis por meio de notas, e esperei que tomassem as medidas cabíveis; pensei que o fariam de forma instantânea e rápida”, expressou em sua carta de renúncia apresentada ao presidente, conforme relatado pelo diário digital Infobae.

Milei implementou uma forte renovação e redução nos altos escalões das Forças Armadas, incluindo, além disso, acordos no Senado para as promoções de novos oficiais militares: o general Xavier Julián Isaac como Chefe do Estado-Maior Conjunto; o general de brigada Carlos Alberto Presti como novo chefe do Estado-Maior do Exército; o contra-almirante Carlos María Allievi como chefe da Marinha; e o brigadeiro-major Fernando Luis Mengo, no comando da Força Aérea. Este último, nomeado poucos dias antes da posse de Milei, foi transferido para a reserva em 21 de novembro, sob suspeita de “corrupção”, segundo informações, por usar aviões para fins pessoais.

Critérios para a reestruturação são desconhecidos

Na reestruturação militar de Milei, após assumir o governo, 23 dos 55 generais do Exército e 7 dos 26 almirantes foram transferidos para a reserva. O que chama atenção é com base em quais critérios foi feita a seleção dos que deveriam ser retirados, já que nem Milei, nem sua irmã Karina, Secretária-Geral da Presidência, nem o Ministro da Defesa, Luis Petri, possuem qualquer experiência no tema, embora, evidentemente, já tivessem uma lista preparada ao assumir o governo.

Além disso, havia rumores de descontentamento nas Forças Armadas devido ao fato de a Ministra da Segurança, Patricia Bullrich, ter apresentado um plano no qual os militares ficariam virtualmente sob seu controle, como uma força especial de segurança, embora sua missão constitucional seja a defesa da soberania nacional, sem poder atuar na segurança interna.

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Chamou atenção que isso ocorra em momentos em que a vice-presidenta, Victoria Villarruel, parente de militares e defensora de militares acusados de crimes de lesa-humanidade, esteja em confronto com Milei, que recentemente afirmou que a também presidenta do Senado estava “fora de seu gabinete”.

Enquanto isso, organizações que defendem os militares julgados e condenados por crimes de lesa-humanidade apresentaram um habeas corpus coletivo pedindo sua libertação, argumentando que são vítimas de processos judiciais.

Demandas judiciais

A poucos dias de se completar um ano do governo Milei, e após o escândalo político que foi a visita de deputados do partido La Libertad Avanza aos responsáveis pelo terrorismo de Estado durante a ditadura militar, que cumprem pena em Ezeiza, agora surgem demandas para que compareçam aos tribunais.

Meios de comunicação locais investigaram que os detidos teriam contribuído financeiramente para a campanha eleitoral de La Libertad Avanza.

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Entre eles estão Alfredo Astiz, junto a outros integrantes que atuaram na Escola de Mecânica da Armada (ESMA), como Jorge Eduardo Acosta, Adolfo Donda, Ricardo Cavallo, e outros temíveis personagens dessa história de horror vivida pela Argentina, como o sacerdote Christian Federico von Wernich (condenado por sete assassinatos).

Entre os organismos que intercedem pelos detidos estão o grupo liderado por Cecilia Pando e a Associação de Familiares e Amigos de Vítimas do Terrorismo na Argentina (Afavita), cuja vice-presidenta, Silvia Ibarzábal, é assessora do Ministro da Defesa, Luis Petri, em nada menos que direitos humanos, e Alberto Solanet, presidente de Justiça e Concórdia, organização integrada por advogados defensores dos acusados por crimes aberrantes.

Os organismos que intercedem pelos detidos por crimes durante a ditadura argumentam que “conceder a prisão domiciliar ou outras medidas atenuantes de detenção não desatende compromissos internacionais do Estado”. E, caso isso não possa ser resolvido, solicitam ao Ministério da Segurança de Patricia Bullrich, responsável pelo Serviço Penitenciário Federal (SPF), que “dite normas diferenciadas e condições especiais de tratamento”.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Stella Calloni Atuou como correspondente de guerra em países da América Central e África do Norte. Já entrevistou diferentes chefes de Estado, como Fidel Castro, Hugo Chávez, Evo Morales, Luiz Inácio Lula da Silva, Rafael Correa, Daniel Ortega, Salvador Allende, etc.

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