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ToggleUm devastador temporal de chuva e vento, qualificado como a maior tormenta da história em um século, assolou, na última sexta-feira (7), a cidade de Bahía Blanca, no sudoeste da Província de Buenos Aires, Argentina, com gravíssimas consequências, como a morte (até agora) de 16 pessoas e milhares de evacuados – entre eles, recém-nascidos da maternidade de um dos hospitais mais importantes, que está inundado – que precisaram ser transferidos ainda sob a chuva.
O temporal começou na madrugada e transformou as ruas em rios, arrastando automóveis e tudo o que encontrava pelo caminho, impedindo o uso do transporte público e das ambulâncias. O aeroporto foi paralisado, e ninguém podia sair de suas casas, enquanto novos apagões foram registrados nesta capital e em Rosário, na província de Santa Fé.
Nada esteve a salvo em Bahía Blanca, nem mesmo as zonas mais altas da cidade. Em alguns locais, o asfalto cedeu, e vários automóveis caíram em grandes buracos. Apenas ao entardecer o nível da água começou a baixar lentamente, mas a mobilização ainda era possível apenas por meio de botes especiais.
Em um povoado próximo, a água cobriu as casas até o teto, e tudo foi perdido. Alguns moradores estavam nos telhados e puderam ser resgatados somente à tarde. Presume-se que ali possa haver mais vítimas.
História se repete
Em dezembro de 2023, um ciclone e chuvas intensas derrubaram árvores e destruíram casas em Bahía Blanca, deixando 13 mortos e causando perdas milionárias. O então recém-empossado presidente Javier Milei reagiu muito tarde e, vestido com um uniforme militar, visitou o local e disse aos moradores da região que confiava que eles se virariam por conta própria, ou seja, sem nenhuma ajuda do governo nacional.
Naquele momento, o governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, já estava no local, fornecendo helicópteros, alimentos e medicamentos, assim como fez agora, chegando por terra e garantindo que os atingidos recebam assistência. Bahía Blanca é a nona cidade mais populosa do país, com edifícios antigos, monumentos valiosos, museus, universidades e uma forte tradição cultural.
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Na sexta-feira (7), a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, e o ministro da Defesa, Luis Petri, informaram que estavam se deslocando também por terra, enquanto alguns caminhões do Exército aguardavam a baixa do nível da água para poder entrar. Ainda falta avaliar o que aconteceu na área rural próxima.
Tudo isso acontece quando ainda não foram superadas as graves consequências dos dois apagões do dia 5 de março em diversos bairros da capital e da Grande Buenos Aires. A situação agora se repete, justamente quando a temperatura ultrapassa os 40 graus.
Aumentos de até 400% e negacionismo
Como se fosse um jogo cruel, as contas de luz referentes ao mês de fevereiro chegaram neste mês de março com aumentos de até 400%, junto com uma nova onda de demissões, o que já motivou o anúncio de novos protestos. Enquanto isso, Milei continua negando a mudança climática, que, segundo ele, é uma invenção do marxismo.
Além disso, vale lembrar que a política da “motosserra” de Milei não apenas paralisou as obras públicas em todo o país – resultando em mais acidentes em estradas abandonadas e em projetos de infraestrutura hidráulica inacabados – como também interrompeu a construção das usinas nucleares, o maior projeto energético voltado ao fornecimento de eletricidade e à redução dos custos para a população, iniciado pelos governos de Néstor Kirchner e Cristina Fernández de Kirchner.
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O ministro da Economia, Luis Caputo, justificou a decisão do presidente de assinar um Decreto de Necessidade e Urgência (DNU) para aprovar o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que, constitucionalmente, deveria passar pelo Parlamento para sua aprovação. Em um programa de TV local, afirmou que, se passasse pelo Congresso, demoraria muito tempo, e vangloriou-se de que os funcionários do FMI expressaram surpresa com o nível de ajuste da economia.
Imutável, o presidente viajará no próximo dia 20 de março para receber um prêmio na Espanha e, em seguida, fará uma visita oficial a Israel, onde se reunirá com seu amigo, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, enquanto o país se incendeia.
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