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Armas, imigrantes, racismo: Trump inflama ira do eleitorado em evento de armas nos EUA

Associação Nacional do Rifle (NRA) reuniu milhares de apoiadores do ex-presidente na última sexta (16)
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Na última sexta-feira (16), milhares de participantes começaram a fazer fila mais de 6 horas antes de o ex-presidente Donald Trump (2017-2021) aparecer, com amplos sorrisos, tirando selfies, com gorros vermelhos com o lema “Make America Great Again” (Faça a América grande de novo – ou MAGA), camisetas e cachuchas que anunciam “caçadores por Trump”, “Chica Trump”, “Policiais por Trump”, além de outros itens “Trump 2024”.

É uma multidão feliz em um ambiente festivo, movendo-se com a música e crianças correndo. O único problema é que o Serviço Secreto ordenou proibir armas na arena, considerando que esse comício é parte da grande feira anual da Associação Nacional do Rifle, ao lado de extensas exposições de todo tipo de armas, e muita dessa gente esteve portando suas próprias armas aqui toda a semana. Embora haja um lugar para guardarem suas facas fora da arena, aqueles que têm armas de fogo devem regressar aos seus carros e hotéis para deixá-las.

Leia também: Grande “exposição esportiva” dos EUA permite que crianças manuseiem armas de fogo

Assistir a um comício de campanha de Trump deixa a impressão de que mesmo se o ex-presidente não fosse candidato, esta comunidade de seus simpatizantes estaria apoiando alguém que fosse parecido – ou seja, isto não é exclusivamente um fenômeno Trump, mas um segmento da população que existia antes de sua aparição no cenário político, e que estará aqui depois que ele desaparecer.

A Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês) diz ter 5 milhões de membros, mas há evidências de que esse número diminuiu um milhão como resultado de escândalos internos entre a liderança desta ainda poderosa organização civil. Cerca de 70 milhões votaram por Trump na última eleição, e dezenas de milhares continuam chegando a seus comícios de campanha ao redor do país.

Depois de três horas de espera, as portas da arena se abrem e então os fãs esperam outras três horas antes de seu líder chegar. Buscam seus assentos e procuram hot dogs enquanto escutam música gravada, incluindo Pinball Wizard, de The Who, e Ring of Fire, de Johnny Cash, mas é surpreendente que justo antes da entrada de Trump à arena, se escute Pavarotti cantando Nessun Dorma, de Puccini.

A multidão é esmagadoramente branca, majoritariamente vestida com calças de brim, camisetas e botas de trabalho ou tênis, e é claro – apesar de o presidente Joe Biden e outros terem buscado caracterizá-lo como algo negativo – muitos levam artigos que orgulhosamente os definem como “MAGA” – uma mulher até leva joias de diamantes com essa logo.

“Esta é a verdadeira América. Se virem à sua esquerda, à sua direita, atrás, verão americanos da NRA, e verão as pessoas que fazem a América ser grande”, declarou o porta-voz da NRA, Billy McLaughlin, diante do público, provocando uma ruidosa ovação. “Nunca entregaremos nossas armas”, proclama. Pediu à multidão que visse a parte no meio da arena onde está a seção para os meios e suas câmeras e repórteres, e declara “verão os meios estabelecidos” enquanto todos começam a vaiar, algo que continua quando menciona a CNN, MSNBC, o New York Times e mais (La Jornada agradece que o escritório de imprensa da NRA tenha colocado seu enviado em outra parte afastada da seção de meios).

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Associação Nacional do Rifle (NRA) reuniu milhares de apoiadores do ex-presidente na última sexta (16)

Foto: NRA / X
É visível a habilidade e o talento de Trump para nutrir a ira coletiva, e tão perigoso é isso, sobretudo se combinado com armas de fogo

Pouco depois das 6 p.m., uma luz spot aponta para uma esquina da arena e Trump aparece caminhando ao ritmo da canção country Proud to be an American Hero (Orgulhoso de ser um herói americano). Mas Trump costuma avançar lentamente, com pausas a cada par de metros, e espera até que a multidão se ponha de pé, coreando “U-S-A” e “Trump, Trump, Trump”.

Atrasa 5 minutos antes de começar seu discurso com o público de pé. Um homem vestido com uma enorme bandeira dos Estados Unidos desfila de um lado para o outro debaixo do palco, a alguns metros dos agentes do Serviço Secreto. Uma policial ao lado desse repórter está preocupada porque seu celular não terá bateria suficiente para capturar tudo, e do outro lado, um taxidermista, com um rabo de algum animal pendurado em seu cinto, tenta gravar vídeos da multidão.

“Durante quatro anos incríveis, foi minha honra ser o melhor amigo que os donos de armas jamais tiveram na Casa Branca”, inicia Trump. “Quando regressar à Casa Branca, ninguém porá um só dedo sobre suas armas de fogo, isso não acontecerá”. O público levanta os preços para o orador e uma mulher grita “te amamos”. O ex-presidente prossegue: “Há quatro anos lhes disse o que ia acontecer se Joe Biden chegasse ao posto; lhes disse que abriria nossas fronteiras, destruiria nossa classe média, esmagaria a energia – éramos independentes em energia há três anos, hoje pedimos à Venezuela se podemos, por favor, ter um pouco do seu petróleo”, e recebe a reação desejada, as vaias. “Loucura e caos em casa e no exterior.”

Um enfoque principal do discurso são as “fronteiras abertas”. “Construímos 561 milhas (aprox. 903 km) de muro fronteiriço. Logramos que o México enviasse 28 mil soldados à nossa fronteira gratuitamente”, disse, dedicando mais de 10 minutos a explicar como foi que, apesar de “todos” terem dito que não seria possível convencê-lo, logrou que o presidente do México enviasse esses militares. “Lhes disse que eles teriam que nos dar os 28 mil soldados. E uma coisa chamada 'permaneça no México'. Não é uma boa ideia?”, e a multidão aplaudiu.

“Me agrada o presidente do México, o ex-presidente suponho que em breve será, alguém mais estará tomando seu lugar, e estou seguro de que me agradará a pessoa que tomará seu lugar”, afirmou. Repetiu então o que se tornou parte permanente de seus discursos, afirmando que ameaçou o México com taxas de 25% se não concordasse em disponibilizar as 28 mil tropas na fronteira e estabelecer o “Permaneça no México”, entre outras medidas.

Embora o fio principal do discurso tenha sido sobre a proteção do direito às armas e o controle da fronteira, muitos se levantaram para aplaudir Trump quando prometeu que reduzirá o financiamento para escolas que se atrevam a ensinar a história do racismo nos Estados Unidos ou que apoiem os direitos trans. “Não permitirei homens em esportes femininos”, esclareceu.

Trump ofereceu sua lista de males desde que Biden chegou à Casa Branca: os “ilegais” continuam invadindo, 300 mil pessoas morrem por fentanil (insistiu que as cifras oficiais são uma mentira), os sindicatos e trabalhadores estão ficando para trás e, sublinhou ominosamente, há uma grande probabilidade de que exploda uma Terceira Guerra Mundial se Biden for reeleito.

São visíveis a habilidade e o talento de Trump para nutrir a ira coletiva, e tão perigoso é isso, sobretudo se combinado com armas de fogo. Hora e meia depois, Trump conclui sua performance. O público se põe de pé e solta gritos de apoio enquanto Trump pouco a pouco, sem pressa, sai do palco. A festa continua, alguns dançam, e as pessoas vão para as saídas da arena ao ritmo da famosa canção do Village People, YMCA, aparentemente sem saber que esse é um tipo de hino gay.

Jim Carson e David Brooks | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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