“Já passou da hora de Lula romper com Israel.” A cobrança contundente é do cineasta Gustavo Castro, entrevistado no programa Dialogando com Paulo Cannabrava desta terça-feira (10). Diretor do documentário Notas sobre um Desterro, que estreia neste mês de junho no Festival Olhar de Cinema, em Curitiba, Castro afirma que o Estado sionista promove um genocídio contínuo contra o povo palestino e denuncia o silêncio da comunidade internacional.
Segundo o diretor, esse panorama reforça que o Brasil precisa tomar atitudes concretas diante da catástrofe. “O que falta mais para o presidente Lula romper relações diplomáticas e comerciais com Israel? As imagens do que está acontecendo lá ferem a alma. Trabalhar com esse material nos fez chorar todos os dias na edição”, relata.
As relações militares entre Brasil e Israel são elencadas por Castro como um dos obstáculos à mudança de postura no Itamaraty. “Quase todos os estados brasileiros compram armas de Israel, que chegam aqui com o selo de ‘testado em campo’, ou seja, testadas em palestinos. Essas mesmas armas são usadas para reprimir a juventude negra nas periferias do Brasil”, denuncia.
Sobre a atuação do jornalismo, o entrevistado critica a forma com que a mídia brasileira trata o massacre: “Falam que a cada 20 minutos uma criança morre em Gaza, mas evitam dizer a palavra ‘genocídio’. Dão voz apenas ao sionismo e silenciam os palestinos.”
Notas sobre um Desterro
Notas sobre um Desterro mistura imagens de arquivo, vídeos caseiros e registros atuais compartilhados nas redes sociais, documentando a resistência do povo palestino ao longo dos últimos 77 anos, desde a Nakba em 1948 até os bombardeios recentes em Gaza. “A Nakba nunca terminou. Ela é um projeto colonial em curso, com um Estado teocrático, militarizado e racista se expandindo sobre um povo cercado e faminto”, afirma.
Ao ser questionado sobre a diferença entre seu filme e outros documentários sobre o tema, Castro aponta: “Nosso objetivo é contextualizar a tragédia palestina como um projeto colonial de longo prazo, não apenas retratar o drama de personagens individuais”. Já sobre o silêncio de Hollywood e das grandes produções cinematográficas sobre o genocídio em curso, acrescenta: “Você nunca vai ver uma superprodução mostrando a tragédia do povo palestino como se faz com o Holocausto. Isso revela como o sionismo controla a narrativa global.”
Castro finaliza com um apelo: “O genocídio na Palestina é televisionado e, mesmo assim, normalizado. Nosso papel com esse filme é convidar o público a ser testemunha dessa tragédia. A cultura precisa tocar as pessoas e reconectá-las com seus valores humanos.”
A entrevista completa está disponível no canal da TV Diálogos do Sul Global, no YouTube: