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Protesto contra assassinato de Arturo Cárdenas Fernández (Foto: Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil de Lima e Balnearios)

Assassinato de líder sindical atenta contra trabalhadores e acende alerta no Peru

Os crimes contra o Peru são crimes contra os trabalhadores, e vice-versa; existe uma relação coordenada entre uns e outros
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

Beatriz Cannabrava

O assassinato de Arturo Cárdenas Fernández, Secretário-Geral do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil de Lima e Balnearios, consumado em 15 de agosto, tem acendido os alarmes em diversos setores da opinião cidadã. E não podia ser de outra maneira. Não só por se tratar de um dirigente de nível federal, mas também porque se produziu a poucos metros da sede sindical de Cangallo, certamente protegida por diversas câmaras de vigilância. E também porque o fato é somado com outros.

Crimes contra trabalhadores no Peru

Já são quase duas dúzias de trabalhadores do setor que foram abatidos em circunstância similar, derivada a pugno por vagas de trabalho nas obras do setor. Mas o tema dá para mais. A Federação de Trabalhadores em Construção Civil (FTCCP) leva 70 anos de luta não só pelos interesses de seus filiados. Partindo deles, soube com regularidade ostentar a linha de classe que lhe permitiu tomar em suas mãos legítimas bandeiras de alcance mais amplo, vinculadas aos interesses históricos dos trabalhadores. 

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Assim, a reforma agrária, a nacionalização do petróleo, a defesa das liberdades públicas, as relações diplomáticas e comerciais com todos os países do mundo, a solidariedade com Cuba e os povos em luta, formou parte do combate de uma organização que entregou a vida de seus melhores filhos e procurou sempre estar à altura das grandes tarefas históricas de que nos falava Mariátegui em seus principais escritos sindicais. 

Em fins dos anos 1950, e graças a uma ação constante liderada por Isidoro Gamarra, Rolando Guevara, Bernardo Linares e outros, a FTCCP recuperou o rumo classista semeado por José Apaza Mamani e Simón Herrera Farfán, seus primeiros dirigentes mortos na prisão nos anos da ditadura de Odría.

Derrota do aprismo

Derrotar a turba aprista amamentada pelo empresariado e as autoridades do setor foi o resultado de uma luta relativamente prolongada e também violenta e difícil. Ifigenio Zamudio e Raymundo Montoya Távara — írritos detentores do poder nessa estrutura operária — fizeram uso de armas de fogo para se perpetuar na condução do sindicato, mas foram tirados daí pelo valor e a firmeza de quem soube enfrentar todas as contingências, e vencer. 

A linha de classe da FTCCP converteu a organização sindical em uma fortaleza que serviu longamente ao conjunto de movimento popular e articulou vigorosas ações ao lado de outras organizações sindicais e sociais e um movimento estudantil que protagonizou grandes jornadas em 1960 e 1964. Depois, essa Federação foi a ferramenta decisiva para o surgimento e consolidação da CGTP, como a Central de Classe do Proletariado Peruano, em junho de 1968. Aqueles que a dirigimos nesse período, sempre fomos conscientes dessa realidade, e trabalhamos por cultivar essa memória. 

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A chave desse legado estribou no fato de combinar a luta reivindicativa com o combate social mais amplo: a defesa dos interesses imediatos dos trabalhadores, com as demandas populares mais sentidas, vinculando estreitamente algumas causas a outras, e mirando o horizonte com firmeza e otimismo. É esse o aporte de Isidoro Gamarra e Pedro Huilca, as figuras emblemáticas de um movimento que fez vibrar o país na medida em que combinou as demandas reivindicativas e sindicais com as tarefas mais amplas relacionadas com o forjamento de uma consciência capaz de cimentar a base de um Peru Novo.

Hoje, estas bandeiras estão intactas. Os crimes contra o país são crimes contra os trabalhadores, e vice-versa. Existe uma relação coordenada entre uns e outros. Separá-los é algo que forma parte da concepção da classe dominante, mas é uma opção alheia aos trabalhadores e suas organizações. 

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A luta por denunciar e combater o jogo imperialista, interesse ao Peru e, portanto, aos trabalhadores, do mesmo modo que importa enfrentar as máfias que governo, a política sugadora do capital, a corrupção organizada, a insegurança cidadã e o envilecimento que semearam, em amplos setores da sociedade, o fujimorismo e seus aliados. A luta de classes em sua mais ampla dimensão. 

As tarefas são muitas. E elas requerem a maior unidade que seja possível forjar para derrotar aqueles que detêm hoje as rédeas do Poder em todas as suas instâncias. Essa é agora a tarefa principal que enfrenta nosso povo, e que deve ser honrada desde as distintas áreas de uma classe empenhada em construir um roteiro de progresso e desenvolvimento.  

E não há que se confundir no tema. Quando a “Grande Imprensa” lamenta a morte de um dirigente sindical, não o faz porque sente sua perda. Maneja o tema com elegância apenas para mascarar intenções mais obscuras. No fundo, quisera que os dirigentes sindicais desse tipo simplesmente desaparecessem do cenário nacional.

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Os crimes contra os trabalhadores, neste contexto, importam principalmente àqueles que têm verdadeiro sentido de Pátria, razão pela qual defendem as riquezas básicas do país, a soberania nacional, a independência na tomada de decisões e o respeito à vontade cidadã. Altas bandeiras tingidas com o sangue operário.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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