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Segundo Lula, a China se tornou "o principal investidor asiático" no Brasil, "com um estoque de mais de 54 bilhões de dólares" (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Atacar Brasil para enfraquecer China e Brics: o que Trump realmente busca com tarifaço?

Os principais obstáculos que Trump se mostra disposto a solucionar são a influência da China na América Latina e os movimentos do Brics para vencer a hegemonia do dólar

Redação Russia Today
Russia Today
Moscou

Tradução:

Ana Corbisier

A decisão do governo de Donald Trump de impor ao Brasil tarifas de 50% sobre as exportações enviadas aos EUA parece uma estratégia voltada mais a boicotar o comércio bilateral que os brasileiros mantêm com a China e, ao mesmo tempo, um golpe para tentar desestabilizar a pujante economia que se forma na comunidade de países dos Brics.

A relação estratégica entre brasileiros e chineses se aprofundou nos últimos anos. Prova disso é que o gigante asiático anunciou, em maio passado, uma nova onda de investimentos no Brasil que supera os 5 bilhões de dólares.

A notícia foi divulgada após um fórum empresarial com a participação de autoridades chinesas e brasileiras, parlamentares e cerca de 200 empresários do país sul-americano, com a presença de Lula, que viajou a Pequim como parte de uma viagem internacional que incluiu uma parada prévia na Rússia.

Na ocasião, Lula declarou que, na última década, a China se tornou “o principal investidor asiático” no Brasil, “com um estoque de mais de 54 bilhões de dólares”.

Lula afirmou ainda, em alusão aos EUA e seus aliados, que a China foi tratada “como se fosse um inimigo do comércio mundial”, quando, na realidade, se comporta “como um exemplo”, ao “fazer negócios com países que foram esquecidos durante os últimos 30 anos por muitos outros”.

Esses números podem ser os que mais alarmam Trump e justificariam, segundo o mandatário estadunidense, sua guerra tarifária com o Brasil — especialmente devido à visão de “inimigo” que Washington mantém em relação a Pequim.

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A posição da China

Na semana passada, a China instou os EUA a não reacenderem a tensão comercial entre os dois países, que havia alcançado uma frágil trégua acordada em Londres em junho passado, após Trump impor às mercadorias chinesas tarifas superiores a 100%.

A esse respeito, a porta-voz chinesa Mao Ning afirmou que seu país “deixou clara sua posição em mais de uma ocasião. A guerra comercial e a guerra tarifária não têm vencedores, e o protecionismo não leva a lugar nenhum”.

Além disso, uma coluna no jornal do Partido Comunista Chinês afirmou que “o abuso de tarifas por parte dos EUA é uma prática típica de intimidação unilateral, que teve um grave impacto na ordem comercial internacional e deve ser firmemente rejeitada”.

Por essa razão, o partido chinês defendeu “uma ordem comercial internacional saudável e estável” e ressaltou que o acordo alcançado em Londres demonstra que “o diálogo e a cooperação são o caminho correto para resolver as disputas econômicas e comerciais” — não a “chantagem e a coerção”.

Encontro entre Lula e Xi Jinping em julho de 2024, em Brasília (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

As declarações da China foram feitas após Trump anunciar que aplicaria tarifas mais altas a partir de 1º de agosto, depois de ter adiado sua guerra tarifária decretada em abril — exceto um aumento de 10% — para dar tempo aos países afetados de negociar com os EUA. Em particular, os asiáticos têm até 12 de agosto para chegar a um acordo.

Golpe no Brics?

Em meio a essa nova ofensiva, Trump voltou a agitar os alicerces do comércio internacional ao anunciar a imposição, sem “exceções”, de uma tarifa de 10% para os países que estejam alinhados com as políticas “antiestadunidenses” que, segundo ele, são promovidas pelo Brics — grupo liderado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, ao qual recentemente se juntaram Egito, Irã e Emirados Árabes Unidos.

Diferentemente do pacote tarifário geral lançado por Trump em abril — que contempla tarifas base de 10% e ameaças de aumentá-las até 70% para países sem acordo comercial com os EUA —, essa decisão representa uma ação específica para conter a crescente influência dos Brics no cenário global.

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A esse respeito, a porta-voz da Chancelaria chinesa lembrou que o Brics é “uma plataforma importante para a cooperação entre mercados emergentes e países em desenvolvimento”. “Promovem a abertura, a inclusão e a cooperação mutuamente benéficas. Não são um bloco voltado para o confronto. Nem atacam nenhum país”, afirmou.

Relembre as acusações de Trump

Trump alega que os EUA mantêm com o Brasil uma “relação comercial muito injusta”, considerando que está “longe de ser recíproca” e “não tem sido boa”.

Por isso, somou o Brasil a suas “vítimas” tarifárias, uma medida que não deixa de ter cunho político devido à postura de Trump em defesa do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, acusado da tentativa de golpe de Estado em 2023.

Diante desse cenário, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, respondeu que a informação dada por Trump sobre um desequilíbrio comercial é “falsa” e, com base em números, apontou que os EUA possuem um superávit na negociação de bens e serviços com o Brasil que chega a 410 bilhões de dólares nos últimos 15 anos.

Confira mais análises sobre as tarifas de Trump contra o Brasil.

Lula reiterou que “o Brasil é um país soberano, com instituições independentes, que não aceitará ser tutelado por ninguém” e que “qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da lei brasileira de reciprocidade econômica”.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Redação Russia Today

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