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Imagem de local bombardeado na cidade ucraniana de Sumy (Foto: Volodymyr Zelensky)

Ataque em Sumy: homenagem da Ucrânia a invasores de Kursk expôs civis ao risco; entenda

Segundo Artem Semeniji, prefeito da cidade ucraniana de Sumy, líder da região foi advertido sobre riscos de realizar ato militar em área povoada
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

Beatriz Cannabrava

No último domingo (13), a Rússia atacou com mísseis balísticos o centro da cidade de Sumy, na fronteira da Ucrânia com a região russa de Kursk, causando pelo menos 34 mortos, incluindo duas crianças, além de 117 feridos, incluindo 15 menores de idade, informou Volodymir Artiuj, chefe da administração dessa região ucraniana.

“Ocorreu um horrível ataque contra Sumy. Os mísseis inimigos caíram em uma rua de edifícios residenciais, instituições educacionais e carros estacionados. E isso em um dia em que as pessoas vão às igrejas para celebrar o Domingo de Ramos (este ano, as datas da Semana Santa católica e ortodoxa coincidem), a festa da entrada do Senhor em Jerusalém”, escreveu o presidente ucraniano, Volodymir Zelensky, nas redes sociais.

E acrescentou: “É muito importante que o mundo não se cale. Os ataques russos merecem apenas condenação. É indispensável exercer pressão sobre a Rússia para pôr fim a esta guerra e garantir a segurança das pessoas. Sem uma pressão realmente forte, sem uma ajuda efetiva à Ucrânia, a Rússia continuará a prolongar esta guerra.”

O chefe da inteligência militar ucraniana, Kiril Budanov, declarou que a Rússia utilizou dois mísseis Iskander M/KN-23, que foram lançados pela manhã de domingo a partir dos territórios russos de Voronezh e Kursk. Em todo caso, testemunhas — citadas pela imprensa ucraniana — ouviram duas fortes explosões em um raio de até três quilômetros, com um intervalo de dois minutos entre elas.

A julgar pelas imagens que circulam na Internet, o edifício mais danificado, presumivelmente o alvo dos ataques, foi o Centro de Congressos, ligado à Universidade Pública de Sumy, que ficou em ruínas.

Essas instalações, de acordo com o serviço ucraniano da emissora BBC, eram usadas nos finais de semana para aulas de música, dança e desenho para crianças, além de conferências e exposições. Era uma espécie de centro cultural para a cidade.

A versão oficial do governo ucraniano, resumida por Zelensky, limita-se a constatar e condenar os danos causados em Sumy, mas, de maneira extraoficial, Artem Semenijin, prefeito da cidade de Konotop, da mesma região fronteiriça, afirmou no domingo que as autoridades regionais de Sumy organizaram uma cerimônia de condecoração de militares na cidade homônima.

“Até onde pude apurar, o chefe da administração da região de Sumy, Volodymir Artiuj, decidiu condecorar militares da brigada 117 (que retornaram de Kursk), apesar de ter sido advertido para não o fazer”, denunciou Semenijin à imprensa ucraniana.

O ato realizado pelos militares ucranianos visava homenagear combatentes que participaram da invasão na região russa de Kursk. Segundo especialistas, a conduta ucraniana expôs deliberadamente a população local ao risco [nota da Diálogos do Sul Global].

Artiuj respondeu que os militares estavam em um abrigo durante os ataques e não sofreram danos, mas circulam rumores de que o Ministério do Interior está investigando não apenas o ataque com mísseis russos, mas também se houve alguma filtragem sobre o local e a hora em que a condecoração dos militares deveria ocorrer.

A primeira reação de Washington veio de Keith Kellog, enviado especial da Casa Branca para Ucrânia e Rússia, que escreveu nas redes sociais que o ataque russo em Sumy “ultrapassa qualquer limite de decência” e demonstra “por que o presidente Donald Trump se esforça para pôr fim a esta guerra.”

Também houve duras críticas a Moscou a partir de Bruxelas, Paris, Londres, Varsóvia e outras capitais.

Otimista sobre retomada do diálogo Rússia-EUA

O enviado do Kremlin para investimento e cooperação econômica, Kiril Dmitriev, regressou satisfeito de sua visita a Washington no início de abril. Apesar de não ter mencionado avanços concretos, anunciou que “o próximo contato será dentro de alguns dias”, sem especificar se se trata de um encontro presencial ou de uma conversa telefônica.

As informações foram concedidas por Dmitriev durante entrevista à televisão pública Pervy Kanal (Canal Primeiro): “As reuniões mostraram a disposição (de russos e estadunidenses) de restabelecer um diálogo direto, que permita superar as diferenças e resolver questões geopolíticas importantes”.

E acrescentou: “Vemos (do lado russo) o início de um diálogo positivo e respeitoso. Creio que nossos colegas nos Estados Unidos entendem que é preciso restabelecer a conversa com a Rússia e que a Rússia conseguiu resistir à tentativa de lhe impor uma derrota estratégica, empreendida pela administração do presidente Joe Biden”.

Para Dmitriev, o atual ocupante da Casa Branca, Donald Trump, “diferentemente de seu antecessor, escuta a posição da Rússia, compreende suas preocupações” e “busca soluções para os problemas”.

O também presidente do Fundo de Investimentos Diretos da Rússia manteve conversas com o secretário de Estado, Marco Rubio, e com o emissário especial da Casa Branca, Steve Witkoff, entre outros funcionários estadunidenses. Segundo fontes, em suas reuniões destacou os benefícios que traria a implementação de projetos conjuntos nas áreas de metais raros, exploração do Ártico e cooperação em outros setores.

“Pude perceber um grande interesse das empresas estadunidenses em retornar ao mercado russo e ocupar os nichos deixados vagos pelas empresas europeias”, revelou a um grupo de correspondentes russos ao final da visita.

Afirmou também que a embaixada russa em Washington e o ministério das Relações Exteriores “estão trabalhando em uma grande quantidade de assuntos relevantes, entre eles alguns que podem representar facilidades práticas para os russos”. Mencionou, por exemplo, que está sendo promovido o restabelecimento dos voos diretos entre Rússia e Estados Unidos. “Confiamos em poder avançar em breve nessa questão”, disse Dmitriev.

Ainda durante a viagem, o enviado afirmou, no contexto da exigência russa de que a Ucrânia nunca integre a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que a Rússia “não exclui oferecer algumas garantias de segurança à Ucrânia”. A informação, porém, foi corrigida pelo porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov: “A questão das garantias de segurança é um tema muito complexo e que nem sequer está sendo considerado neste momento”.

Analistas opinam que o protagonismo que Dmitriev vem adquirindo, com o respaldo pessoal de Putin, encontra obstáculos no chanceler Serguei Lavrov e no assessor de política externa da presidência russa, Yuri Ushakov, que aspiram liderar a negociação com os Estados Unidos.

Ao mesmo tempo, o otimismo de Dmitriev contrasta com as declarações do vice-ministro das Relações Exteriores, Serguei Riabkov, muito próximo de Lavrov, que há alguns dias criticou pela primeira vez a administração Trump por não considerar as preocupações da Rússia.

“Nós levamos muito a sério os modelos e soluções propostos pelos estadunidenses, mas também não podemos aceitar tudo como está. (…) Tudo o que existe é uma tentativa de encontrar algum tipo de plano que permita, primeiro, um cessar-fogo, tal como o imaginam os estadunidenses”, declarou Riabkov à revista russa Mezhdunarodnaya Zhisn (Vida Internacional).

E acrescentou: “Pelo que podemos avaliar, não há espaço para nossa principal demanda, que é a solução dos problemas ligados às causas originárias do conflito. Isso é algo que está completamente ausente (na proposta dos EUA) e que precisa ser alterado”.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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