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Destituição de Dina Boluarte foi consumada em poucas horas, com votos acima do mínimo constitucional. (Foto: @WaykaPeru / X)

Destituição de Boluarte é manobra do Congresso do Peru para preservar regime golpista

Queda de Boluarte se inscreve em um episódio dramático da política do Peru, precedido pelo agravamento de uma crise que sua própria gestão alimentou

Redação Esquerda Diário
Esquerda Diário
Lima

Tradução:

Guilherme Ribeiro

O Congresso da República do Peru consumou, na madrugada desta sexta-feira (10), o que parecia um destino irreversível: a vacância (destituição) de Dina Boluarte foi aprovada por uma maioria esmagadora, em meio a protestos sociais que vinham se formando desde a primeira semana de outubro. A queda de seu governo se inscreve em um episódio político dramático, precedido pelo agravamento de uma crise que sua própria gestão alimentou.

Mobilizações e desgaste: uma semana de convulsão

A crise começou na segunda-feira (6), com uma paralisação do transporte em Lima: motoristas e pequenas empresas denunciaram que eram vítimas sistemáticas de extorsões, enquanto os mediadores que se apresentavam como interlocutores do setor atuavam, na opinião de muitos, como agentes do regime golpista em retirada. Nesse mesmo dia, organizações universitárias de instituições públicas e privadas tomaram as ruas em sinal de repúdio político, refletindo o crescente descontentamento com o governo.

Na terça-feira (7), os protestos se estenderam a vários distritos de Lima, com a continuidade de marchas e bloqueios. A raiva acumulada entre os trabalhadores do transporte e a juventude se uniu ao clamor social por mudanças no rumo de um governo que carecia de fôlego político e de gestão institucional.

A decisão do Congresso reflete algo mais do que uma ruptura institucional: responde à pressão acumulada de diferentes setores da burguesia que buscavam uma saída para desativar a crise que se espalhava por Lima e pelas regiões do país. (Foto: @WaykaPeru / X)

O ponto de inflexão foi em 8 de outubro, quando um tiroteio durante um show do grupo Agua Marina, no distrito de Chorrillos, deixou quatro pessoas feridas e expôs a profunda crise que o país atravessa. As imagens do atentado romperam as mediações: o que antes era estatística tornou-se uma experiência palpável para os moradores de Lima. O episódio converteu-se em um detonador político, a magnitude da indignação mudou de tom e o clamor pela saída da presidenta deixou de ser uma aposta isolada para se tornar uma exigência generalizada.

Nesse mesmo dia, começou a se articular publicamente o chamado para uma nova grande mobilização nacional: o 15 de outubro foi projetado como o dia decisivo para exigir que todos fossem embora, com adesões vindas de sindicatos, associações, movimentos juvenis e frentes sociais.

A vacância de Boluarte como válvula de escape do Congresso

A decisão do Congresso reflete algo mais do que uma ruptura institucional: responde à pressão acumulada de diferentes setores da burguesia que buscavam uma saída para desativar a crise que se espalhava por Lima e pelas regiões do país. Diante de uma gestão desgastada, incapaz de conter o avanço do crime organizado e de retomar o controle político, a vacância tornou-se o instrumento funcional para recompor a ordem política antes do ciclo eleitoral que começará em 2026 — e assim preservar o regime golpista. A manobra não representa, assim, uma abertura democrática.

Cai Dina Boluarte: Congresso do Peru afirma “incapacidade moral” e Castillo exige restituição

O Plenário admitiu quatro moções de vacância, apresentadas por bancadas que até pouco tempo faziam parte do bloco moderado ou conservador, o que evidencia como os espaços de apoio político a Boluarte colapsaram.

Paralelamente, o Executivo estava desarticulado para negociar saídas institucionais. Sua defesa alegou violações ao devido processo, mas já era tarde demais: a maioria congressual, apesar de divergências internas, votou de forma contundente.

Em poucas horas, a destituição foi consumada, com votos acima do mínimo constitucional.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Redação Esquerda Diário

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