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ToggleNa manhã desta quarta-feira (7), admitindo de fato a ínfima possibilidade de arrancar concessões à direita, o presidente chileno Gabriel Boric cedeu – ao que até poucas horas antes defendia com um princípio irredutível – e aceitou que a hipotética nova convenção constitucional possa ter delegados não eleitos, e sim designados por cotas políticas.
“Tenho a convicção de que é preferível um acordo imperfeito que não ter acordo”, disse, durante um ato na sede do governo, ao promulgar a lei de Orçamentos de 2023.
“Não podemos seguir dilatando mais a discussão constituinte. Nossos cidadãos requerem certezas e a negociação constitucional está se estendendo mais do que devia”, afirmou. Para isso, “quero pedir um esforço, me consta que os houve por parte de diferentes atores: por sentido de responsabilidade, para ter um novo pacto social, para todos aqueles que fizeram campanha pedindo uma nova Constituição, lhes digo: não podemos continuar esperando”.
“Nós temos defendido com muita força o princípio democrático e entendemos que para a oposição é importante ter uma convenção mista, onde existam especialistas designados pelo Congresso. Não é o que nós, como aliança do governo, gostaríamos, e temos defendido até o final a importância de um órgão 100% eleito”, recordou.
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As palavras de Boric chegaram depois que, na terça-feira (6), o oficialismo e a oposição esgotaram 13 horas contínuas de negociações sem chegar a consensos a respeito do órgão constitucional: a direita pretende um número reduzido de cerca de 50 membros, a metade deles designados, com especialistas que sejam incumbentes, frente aos 100% de eleitos que propõe a esquerda, com paridade de gênero e representação para povos originários, duas questões nas quais a direita não é clara, pelo contrário.
As datas e prazos para sua eleição continuam sendo também questões a serem decididas.
Prensa Presidencia – Chile
"O Presidente entende que é impossível continuar com a defesa intransigente de uma receita fracassada", diz o analista político Mauricio Mor
Rendição “política e ideológica”
Mauricio Morales, analista político e acadêmico da Universidade de Talca, considerou que a mudança de posição do mandatário chileno “é uma rendição política e ideológica”.
“O Presidente entende que é impossível continuar com a defesa intransigente de uma receita fracassada como a Convenção Constitucional 100% eleita. Mas também reflete certo grau de realismo. O processo constitucional hoje depende da direita”, explicou.
Morales considera que “a única coisa que resta à esquerda é aceitar essas regras em troca de ter uma nova Constituição. É uma fórmula que reflete a possibilidade de fazer mudanças na medida do possível. E o possível é uma Convenção Mista”.
Além disso, ele previu que o problema do presidente será interno à sua coalizão.
“Não será fácil para que o Partido Comunista ou outros partidos do Apruebo Dignidad firmem esse acordo, pois implicaria desistir e até ficar de joelhos ante a direita. Podem alcançar o objetivo final de ter uma nova Constituição, mas em troca deverão se submeter às regras da direita. Esse é o dilema do Apruebo Dignidad”, comentou.
Aldo Alfossi | Correspondente do La Jornada em Santiago do Chile.
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