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Gabriel Boric, durante pronunciamento na região de Biobío (Foto: Reprodução / X)

Boric: Governo vai buscar saída legal para transformar casa de Allende em museu

Processo de compra da casa de Salvador Allende pelo Estado chileno foi suspenso por violar Constituição do país; desatenção às normas causou nova crise ao Governo Boric

Aldo Anfossi
La Jornada
Santiago

Tradução:

Beatriz Cannabrava

A intenção do Governo Boric de comprar o que foi a residência particular do ex-presidente Salvador Allende Gossens (1970-1973), para transformá-la em um museu e, assim, preservar a memória histórica do falecido mandatário, se converteu em um fiasco de grandes proporções, ao ponto de a operação ter sido cancelada pouco após ser anunciada.

A aquisição falhou quando a oposição tomou conhecimento e denunciou à Controladoria Geral da República que entre os proprietários do imóvel estão a atual ministra da Defesa, Maya Fernández Allende, e a senadora Isabel Allende Bussi, neta e filha, respectivamente, do malogrado governante.

Um artigo da Constituição estabelece que, “durante o exercício de seu cargo, os ministros estão proibidos de celebrar ou caucionar contratos com o Estado”, impedimento no qual não atentou o Ministério de Bens Nacionais ao anunciar a intenção no último dia do ano passado.

Outro artigo constitucional determina que “cessará no cargo o deputado ou senador que, durante seu exercício, celebrar ou caucionar contratos com o Estado”, o que afeta diretamente a parlamentar.

“Devido à atual estrutura de copropriedade da comunidade de herdeiros do ex-presidente Allende, foi determinado que não é possível concretizar a aquisição da residência do ex-mandatário”, comunicou o Ministério de Bens Nacionais.

Em 31 de dezembro, foi anunciado que o governo desembolsaria o equivalente a cerca de 933 mil dólares por essa propriedade e também 1,3 milhão de dólares por outras duas que pertenceram ao ex-presidente Patricio Aylwin (1990-1994).

Viagem ao Polo Sul

O fiasco ocorreu justamente enquanto o presidente Gabriel Boric, acompanhado da ministra Fernández e do alto comando militar, realizava uma histórica viagem ao Polo Sul, no continente Antártico. De lá, no último sábado (4) precisou se manifestar sobre o tema, ofuscando em parte a travessia que o tornou o terceiro chefe de Estado no mundo e o único latino-americano a alcançar o ponto mais austral do planeta.

“Ninguém está tentando fazer nenhum tipo de negócio nem se enriquecer às custas do Estado. Isso jamais seria permitido, e não tenho nenhuma dúvida sobre a absoluta integridade da família Allende. Questionamentos desse tipo fogem totalmente ao objetivo de resguardar o patrimônio. Aqui, as instituições estão funcionando, e, diante do que foi constatado, decidiu-se suspender o processo até que seja resolvido. Se não for resolvido, é claro que a aquisição não será realizada”, declarou.

A casa que Salvador Allende habitou com sua esposa e três filhas de 1953 até 1971 – ano em que se mudou para uma residência oficial ao assumir a Presidência – está localizada no município de Providencia, na rua Guardia Vieja, nº 392, e conserva o mobiliário e as obras de arte que possuía na época. A viúva de Allende, Hortensia Bussi, se instalou na propriedade após retornar ao Chile, em 1988, e nela ficou até falecer, em 2009.

A forma descuidada com que foi conduzida a fracassada operação de compra e venda serviu para relembrar outras situações em que o governo Boric cometeu “erros não forçados”, fruto da inexperiência, improvisação e negligência, que resultaram em críticas da oposição e até mesmo de integrantes do próprio governo.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Aldo Anfossi

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