“A educação financeira não pode ser só sobre poupar e investir, mas também sobre como o sistema se estrutura para favorecer poucos”, afirma o economista Ladislau Dowbor. O professor foi o convidado do programa Dialogando com Paulo Cannabrava de 18 de fevereiro, e debateu com o jornalista Paulo Cannabrava Filho a importância de a população entender como o sistema financeiro no Brasil impacta seu dia a dia.
Segundo Dowbor, a falta de educação financeira é usada para manter a população refém de um sistema injusto:
“As pessoas já pagaram suas dívidas várias vezes e continuam pagando. Trabalham para quitar juros sem entender como estão sendo exploradas”, afirma. E acrescenta: “As pessoas ficam endividadas, são 71 milhões de adultos inadimplentes no Brasil, e a solução apresentada é ensiná-los a se endividar melhor”.
A propaganda enganosa dos bancos, que oferecem “oportunidades” de crédito com taxas abusivas, também foi denunciada pelo especialista, destacando como as instituições financeiras mascaram a cobrança de juros exorbitantes:
“O Brasil é o único país que apresenta juros ao mês. O rotativo do cartão de crédito aqui chega a 430% ao ano, enquanto nos Estados Unidos é 19%”, pontua.
Banqueiros mais ricos, desigualdade aumenta
Conforme observado por Ladislau Dowbor, o aprofundamento da desigualdade econômica no Brasil está intrinsicamente associado aos mecanismos – que têm se transformado – de apropriação da riqueza nacional pelos mais ricos:
“Hoje, quando você paga com cartão de crédito, os bancos levam 5% de cada operação. No Canadá, há um valor fixo, independente do montante gasto”, explicou.
E é nesse sentido que se faz tão importante o papel do Estado na economia: “Nos países que funcionam, o dinheiro é usado para financiar infraestrutura, saúde e educação. No Brasil, grande parte dos recursos públicos é drenada para os banqueiros por meio dos juros da dívida pública“, alerta Dowbor.
O analista destaca como exemplo a China, que prioriza investimentos produtivos e redução das desigualdades. “O dinheiro precisa ir para onde será útil. Financiar consumo necessário, transporte público e educação fortalece a economia”, assinala.
Confira a entrevista completa na TV Diálogos do Sul Global, no YouTube:
Edição: Guilherme Ribeiro