Em entrevista ao programa Sul Globalizando do dia 11 de junho, a cientista política e pesquisadora Isabela Rocha, presidenta do Fórum para Tecnologia Estratégica do Brics+, disparou: “Falta coragem ao Brasil para romper com o colonialismo digital”. A declaração resume o tom crítico e propositivo da conversa, conduzida pelo jornalista George Ricardo Guariento, sobre a urgência de uma soberania tecnológica real para o Sul Global.
Isabela afirma que o Brasil tem tudo o que precisa para liderar a construção de uma infraestrutura digital autônoma: cérebros qualificados, recursos estratégicos como lítio e urânio, além de posição geopolítica privilegiada. “Temos a faca e o queijo na mão”, afirma, destacando que a ausência de vontade política impede avanços. “O que falta é coragem de dizer que não aceitamos mais ser uma colônia”, completa.
A pesquisadora critica duramente o plano Redata, do Ministério da Fazenda, que prevê a instalação de data centers estrangeiros em território nacional, operados por gigantes como a Meta. Segundo ela, “isso é colonialismo digital escancarado, usando nossos recursos hídricos para resfriar servidores que processam dados brasileiros, mas não nos pertencem”.
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Para Isabela, a defesa cognitiva — conceito central de sua atuação — envolve a capacidade de uma população resistir a ataques informacionais e manipulações estrangeiras. “O sonho do American Way of Life só existe porque não temos soberania subjetiva. Quando construímos defesa cognitiva, voltamos a ter orgulho de sermos brasileiros.”
Ela também aponta que as big techs não apenas monopolizam a informação e os dados, mas interferem na construção de identidades e no próprio conceito de cidadania. “Somos tratados como consumidores, não como cidadãos”, diz.
Sobre a atuação brasileira no Brics, Isabela avalia como tímida, mesmo na presidência do bloco. “O Brasil precisa liderar a criação de infraestrutura tecnológica soberana integrada, com satélites, nuvens e softwares próprios. A China e a Rússia já fazem isso, o Brasil pode e deve seguir o mesmo caminho.”
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A entrevista também abordou a importância dos softwares livres e do papel dos hackers como auditores da soberania digital. “Precisamos de ferramentas abertas e auditáveis. O hacker é quem garante que não estamos sendo espionados”, explica.
Ao final, Isabela deixa um recado direto: “A tecnologia de ponta já está nas mãos de brasileiros, chineses, indianos, africanos. Só falta sairmos dos EUA e voltarmos para casa”.
A entrevista completa está disponível no canal da TV Diálogos do Sul Global, no YouTube: