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Documentação sobre a ditadura militar estará disponível na Internet

Revista Diálogos do Sul

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brasilnuncamaisdigitalA partir da próxima sexta-feira (9), o Projeto Brasil Nunca Mais Digital disponibilizará na Internet documentos relacionados às prisões políticas durante a ditadura militar brasileira. O site com todo o acervo será divulgado no ato de lançamento. É mais um passo importante no criterioso Projeto de Pesquisa “Brasil Nunca Mais”, coordenado pela Arquidiocese de São Paulo, que produziu, desde 1979, um volumoso estudo e diante do risco de apreensão do material por parte da repressão, ainda no começo do anos 1980, grande parte da documentação foi enviada ao exterior. Agora, digitalizado, o material poderá ser consultado e resguardado com mais segurança.

O Grupo Tortura Nunca Mais RJ (GTNM/RJ) relembra que foi com o objetivo de juntar provas documentais da repressão política no país, superando a desconfiança que se criava quanto aos próprios testemunhos das vítimas, que a pesquisa “Brasil Nunca Mais” (BNM) passou a estudar a repressão exercida pelo regime militar a partir de documentos produzidos pelas próprias autoridades encarregadas dessa tarefa. Com o trabalho, foram reunidas cópias da quase totalidade dos processos políticos que transitaram pela Justiça Militar brasileira entre abril de 1964 a março de 1979.

No decorrer das pesquisas, os mentores do projeto – em especial a advogada Eny Raimundo Moreira e a equipe do escritório do advogado Sobral Pinto – perceberam que os processos relacionados a presos políticos poderiam ser reproduzidos. A ideia foi acolhida pelo reverendo da Igreja Presbiteriana Jaime Wright e o cardeal da Igreja Católica Dom Paulo Evaristo Arns, que resolveram comandar as atividades a partir de São Paulo. Os recursos financeiros necessários foram solicitados e obtidos com o secretário-geral do Conselho Mundial de Igreja, Philip Potter, com o auxílio de Charles Roy Harper, pastor e membro daquela entidade.

Aproximadamente após seis anos de trabalho em sigilo, a tarefa foi finalizada. A reprodução dos 707 processos judiciais consultados totalizou cerca de 1 milhão de cópias em papel e 543 rolos de microfilmes. Considerando a dificuldade de leitura e até de manuseio deste trabalho, foi idealizado por Dom Paulo um livro que resumido, operacionalizado pelos jornalistas Ricardo Kotscho e Carlos Alberto Libânio Christo (Frei Betto), coordenados por Paulo de Tarso Vannuchi.

A Editora Vozes (vinculada à Igreja Católica) aceitou publicá-lo, tendo-lhe sido atribuído o título de “Brasil: Nunca Mais”. Sob o temor de possível censura ao conteúdo da obra, paralelamente foi buscada a publicação no exterior. A Editora Random House, uma das maiores dos Estados Unidos, assumiu esse encargo.

Assim, em 15 de julho de 1985, quatro meses após a retomada do regime democrático, foi lançado o livro “Brasil: Nunca Mais”. A publicação da obra mereceu destaque na imprensa nacional e internacional e o livro foi reimpresso vinte vezes somente nos seus dois primeiros anos de vida, estando na sua 37ª edição (2009).

O ato de repatriação da documentação que se encontrava protegida no exterior foi realizado há dois anos e, agora, mais uma etapa do projeto será alcançada com a disponibilização desse vasto material na Internet. Para o GTNM, recuperando a história das torturas, dos assassinatos de presos políticos, das perseguições policiais e dos julgamentos tendenciosos, a partir dos próprios documentos oficiais que procuravam legalizar a repressão política daqueles quinze anos chegou-se a um testemunho irrefutável.

Fonte: Adital  / Projeto Brasil Nunca Mais


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
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