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O dia do índio será quando recuperemos nossas terras

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Marta Molina*

Marta MolinaNo Brasil, dia 19 de abril se celebra o “Dia do Índio”, uma data de celebração imposta pelos brancos para supostamente recordar a importância das culturas indígenas para o país.

Porém, os indígenas Guarani de São Paulo dizem que novamente neste ano não tiveram nada que comemorar. “Esse foi o dia em que nos acostumamos a ser enganados. Cada dia 19 de abril os governos promovem festas para os índios e tentam que a gente comemore algo quando não há nada que celebrar”, comentam os integrantes de vária aldeias guarani situadas na região metropolitana da megalópoles brasileira.

Indígenas Guarani de São Paulo iniciam campanha pela demarcação de suas terras. Foto: Campanha Guarani SP. Indígenas Guarani de São Paulo iniciam campanha pela demarcação de suas terras. Foto: Campanha Guarani SP.

Em São Paulo os indígenas guarani lutam e resistem cada dia para que lhes deixem viver a sua maneira, em paz, com sua cultura e em sua terra. Porém, apesar de estar próximos da grande cidade, comenta, “muitos cidadãos da metrópole não sabem o que está ocorrendo conosco em nossas terras”.

Por isso, no início de abril lançaram a campanha ‘Resistência Guarani” para exigir a demarcação de suas terras tradicionais e exigir do atual ministro da Justiça do Brasil, José Eduardo Cardozo, que cumpra com sua obrigação constitucional e garanta que suas terras lhes sejam devolvidas.

“Para nós, o dia do índio será o dia em que o ministro Cardozo assine para a demarcação de nossas terras tradicionais”, declaram.

Terra é cultura

Em São Paulo existem cerca de dois mil indígenas guarani distribuídos em várias aldeias da cidade que vivem em um espaço de terra muito reduzido, insuficiente para que possam desenvolver sua cultura. Tal como relata em entrevista Jera Poty Mirim, líder guarani Mbyá, que vive n aldeia Tenondé Porã, “Tivemos um crescimento populacional muito algo nos últimos trinta anos, de 20 famílias aqui em Tenondé, hoje somos quase 200”, comenta.

Se bem que na década de 1980 tivessem reconhecido três áreas de terra tradicional do povo guarani na capital de São Paulo, a extensão dessas áreas foi sempre insuficiente para o desenvolvimento de sua cultura e de seu dia-a-dia.

Posteriormente o governo brasileiro demarcou as Terras Indígenas (TI) Guarani de Barragem, com 26,3 hectares, Drukutu, com 25,9 ha, e Jaraguá, com 0.7 ha, sendo esta última a menor área indígena reconhecida no país.

“Temos que continuar trabalhando pela questão d cultura, ainda que nossa terra seja extremadamente reduzida e não possamos pescar nem caçar y vivemos mais de mil pessoas em um espaço de 26 hectares”, comenta Jera Poty que insiste em enfatizar que a terra é sua cultura, que é alí onde acontece seu dia-a-dia e que sem ela não há vida.

Envio massivo de esferográficas a Brasilia

Aldeia Tenondé - Foto Carlos Penteado
Aldeia Tenondé – Foto Carlos Penteado

No início de abril, os indígenas das aldeias guarani Tenonde Porã e Jaraguá começaram a se articular para pressionar o ministro de Justiça para que com sua assinatura autorize o reconhecimento das áreas tradicionais guarani da Grande São Pulo, e, dessa maneira, devolvam-lhes suas terras.

Para isso começaram a recolher firmas através de um abaixo assinado em linha pela web e enviaram uma esferográfica de presente ao ministro decorada com motivos típicos guarani –ver vídeo da campanha-. Além disso, cada assinante deveria enviar uma esferográfica ao gabinete do ministro em Brasília. Até hoje o ministro já deve ter recebido mais de 2.500 canetas.

“Faz tempo que o ministro Cardozo não utiliza sua caneta para ajudar a um povo indígena, por isso lhe enviamos esse presente, para o caso de que não funcionem as canetas do ministério ou fiquem sem tinta”, assevera seriamente Jera Poty.

Ocupação do símbolo da colonização

No dia 16 de abril, representantes de várias aldeias guarani de São Paulo ocuparam pacificamente um edifício no centro da cidade conhecido como “Pátio do Colégio”. Trata-se do primeiro edifício construído pelos jesuítas portugueses em 1554 na capital paulista e que tinha por objetivo catequizar os indígenas do lugar. O edifício foi construído principalmente com mão de obra escrava indígena.

Durante a ocupação pacífica do prédio público, enfatizaram que esse foi o lugar “em que os brancos fundaram esta cidade e começaram a  tomar as terras indígenas”. Foi uma ocupação simbólica e reivindicativa que pretende dar visibilidade a suas demandas, “não se trata nem de uma vingança nem de um engano como fizeram conosco. Já nos roubaram este espaço há muito tempo e não vamos pedir que nos devolvam, pois nossas terras já não são estas daqui do centro da cidade”, declararam durante o ato público. Hoje os guarani de São Paulo vivem em aldeias situadas nos limites da cidade, onde sobrevivem alguns bosques semelhantes aos em que viviam.

Dia 17 de abril reuniram-se de novo diante do Pátio do Colégio para compartilhar com a sociedade a situação atual de luta pela terra na cidade, a continuidade da campanha “Resistencia Guarani” e planejar futuras articulações com outros movimentos sociais. No ato estiveram presentes membros do Movimento Passe Livre – que desde 2005 se organizam em todo o Brasil por um transporte público e gratuito, integrantes do Comité Popular da Copa SP – que se articulam contra os impactos e violações dos direitos humanos por conta da celebração do Mundial de Futebol 2014, e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e a Comissão de Justiça e Paz de São Paulo.

O ministro da justiça também foi convidado mas não compareceu.

CLIQUE AQUI e ASSINE A PETIÇÃO ON LINE DA CAMPANHA! E depois de assinar COMPARTILHE!

Assista ao Vídeo de la Campaña: “Assina Logo, Cardozo”

Leia também [Brasil] Guarani Mbya: à espera de uma assinatura que lhe devolverá suas terras


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
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