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Após ameaças, Márcia Tiburi deixa o Brasil: ‘sou vítima de uma máquina de desinformação’

Ela afirma que está em uma residência literária nos EUA que protege escritores que sofrem com ameaças, mas diz que deve viajar para a França no futuro
Luís Eduardo Gomes
Sul 21
Porto Alegre

Tradução:

A professora e escritora Márcia Tiburi revelou nesta segunda-feira (11) que deixou o País em dezembro passado em razão das constantes ameaças que vinha recebendo nas redes sociais. Márcia, que foi candidata ao governo do Rio de Janeiro pelo PT nas últimas eleições, disse que, para anunciar sua decisão, esperou três meses por medo e preocupações com sua segurança. “Não queria que os meus algozes soubessem onde eu estava. Eu estava organizando a minha segurança”, diz. “Agora está tudo bem”, complementa.

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A escritora conta que passou a constantemente receber ameaças após a entrevista que concedeu ao jornalista Juremir Machado, da rádio Guaíba, de Porto Alegre, em 24 de janeiro de 2018. Na ocasião, ela foi surpreendida quando o jornalista convidou o líder do Movimento Brasil Livre (MBL) e agora deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) para debater com ela. Por não ter sido avisada disso, Márcia se recusou a participar e deixou o programa.

“Teve uma emboscada midiática naquele momento. Entrou o MBL com a sua arma na mão, que é o celular. No dia seguinte a minha vida virou um inferno. Depois daquele evento, eles criaram várias fake news contra mim, colocaram a minha imagem para circular pelo Brasil a partir do website deles, ficaram me atacando, invadindo os meus eventos, fazendo bullying, produzindo agressões. Teve lugares em que aconteceram brigas e eles agrediram pessoas. Isso em todos os meus lançamentos de livros durante o ano de 2018. Eu tive que começar a andar com segurança, meus eventos tinham segurança, mil coisas.

Ela afirma que está em uma residência literária nos EUA que protege escritores que sofrem com ameaças, mas diz que deve viajar para a França no futuro

Sul21
Marcia Tiburi em entrevista ao Sul21 em maio de 2018 | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Márcia diz que o episódio “mais pesado” de perseguição a ela ocorreu em novembro, quando MBL criou uma campanha nas redes sociais contra a presença dela na Festa Literária Internacional de Maringá (Flim).  “Ali as pessoas tiveram que ser revistadas. Trezentas, quatrocentas pessoas, segurança armada, foi uma coisa muito pesada. Então, isso é do ano de 2018 e tem a ver com a tentativa desses grupos fascistas de destruírem a imagem de pessoas como eu. Eu sou vítima de fake news e vítima de uma maquina programática de desinformação”, diz.

Ela afirma que está em uma residência literária nos EUA que protege escritores que sofrem com ameaças, mas diz que deve viajar para a França no futuro. Ela afirma que seguirá escrevendo e pesquisando.

Neste mês de março, ela lança o livro “Delírio de Poder” (Record), um ensaio sobre o Brasil político de 2018 e as eleições, abordando a “loucura coletiva” na era da (des)informação e da necessidade de se valorizar a reflexão em meio aos descaminhos de um governo que ameaça a democracia e induz ao narcisismo adquirido. A obra também traz o testemunho dela sobre a sua campanha para o governo do Rio de Janeiro, em 2018. O prefácio do livro é uma carta escrita pelo ex-presidente Lula para ela.

“A Márcia Tiburi não falta coragem. Nas suas opiniões, ideias atitudes, ela não tem medo de arriscar, de dizer o que pensa e sente, de correr o risco de desagradar. Ela não vai se calar diante de uma injustiça ou para manter um espaço em um canal de TV. Ela não vai nunca abdicar da sua voz e das suas reflexões. Ela vai dizer e escrever o que ela pensa. O seu leitor pode ter certeza disso”, diz um trecho da carta de Lula.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Luís Eduardo Gomes

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