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Governo Bolsonaro desdenha da Rota da Seda chinesa para cair no canto da sereia sionista

Netanyahu, reeleito pelo mesmo processo fraudulento que fez aprovar o Brexit, elegeu Trump, Macri, Bolsonaro e influenciou nas eleições de mais de 60 países
Paulo Cannabrava Filho
DS
São Paulo (SP)

Tradução:

O presidente da China, Xi Jinping, elevado à categoria de grande líder, é o próprio come-quieto. Em recente visita à Europa, Xi fez acordo com Itália e França com vistas a integrar os dois países no projeto conhecido como Rota da Seda, construindo infraestrutura como portos, ferrovias, rodovias, terminais multimodais. 

China avança incontinente no projeto de ser a primeira potência mundial, fortalecida por uma aliança estratégica de mais de 70 países que vão se desenvolver juntos. E para quem duvida do êxito desse projeto, Xi pode demonstrar que com um custo estimado de US$ 1 trilhão, em 2018 o complexo gerou comércio no valor de US$ 1,3 trilhão.

O comércio entre o Brasil e os Estados Unidos está em torno de US$ 100 bilhões por ano, enquanto entre Estados Unidos e México está em US$ 600 bilhões. Em contrapartida, diz o site China Link, “a China é o maior parceiro comercial do Brasil. Em 2017, o volume de exportações brasileiras à China alcançou a cifra de US$ 50 bilhões, enquanto que as importações do país asiático ficaram num montante de US$ 28 bilhões, resultando em um superávit comercial do Brasil em cerca de US$ 32 bilhões”. Desde 2009 a China superou os EUA como principal parceiro comercial do Brasil.

Nesse mesmo ano, o superávit comercial do Brasil com o mundo foi de US$ 67 bilhões. Veja bem, a China responde, sozinha, a quase a metade do total do superávit alcançado.

Além disso, o Brasil se tornou o segundo maior destino de investimentos chineses em infraestrutura, perdendo só para os Estados Unidos. Segundo o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), de 2008 a 2018 as empresas chinesas investiram US$ 55 bilhões no Brasil.

Além das baboseiras ditas por Jair Bolsonaro, o superministro da economia, Paulo Guedes, fazendo eco a Trump, disse que a China causa um mal estar na civilização ocidental. Mais que patacoada, é desconhecimento total da geopolítica mundial e do papel da China na reconfiguração dessa geopolítica, uma muralha à continuidade da exploração hegemônica pela potência imperial ocidental.

A China pensa e atua rápido. Trump quis travar uma guerra comercial, a China deu de lavada (7 a 1). O governo brasileiro, só de apoiar Trump em sua rivalidade com a China, já perdeu mais de 65 milhões de toneladas de soja que a China deixou de comprar no Brasil para comprar nos Estados Unidos. 

Se o Brasil não quiser, a China espera um pouco, ela já está em toda a África, e se expande pelas Américas. 

Recentemente, foi criado o Fundo de Cooperação Brasil China para Desenvolvimento da Capacidade Produtiva. O fundo é para ser constituído com aporte de US$ 5 bilhões do Brasil e US$ 15 bilhões da China. Só que, com o palavreado estúpido da equipe de bolsonaristas já suspendeu o depósito inicial.

Netanyahu, reeleito pelo mesmo processo fraudulento que fez aprovar o Brexit, elegeu Trump, Macri, Bolsonaro e influenciou nas eleições de mais de 60 países

Fernando Frazão/Agência Brasil
Agredir o povo palestino é agredir não só o povo árabe e muçulmano, como toda comunidade internacional

Provocando muçulmanos

Benjamin Netanyahu (Bibi) é um provocador. “Seja bem-vindo a Jerusalém, capital do Estado de Israel”. Assim ele saudou Jair Bolsonaro quando este desembarcou em Israel.

“Violação flagrante ao povo palestino”, respondeu o governo palestino.

Agredir o povo palestino é agredir não só o povo árabe e muçulmano, como toda comunidade internacional, uma vez que viola as resoluções aprovadas consensualmente pelas Nações Unidas, segundo as quais a solução tem que ser de dois Estados e Israel tem que respeitar o território dos outros.

Jair Bolsonaro recuou (por enquanto, disse) de colocar embaixada em Jerusalém, mas remendou, anunciando ao premiê israelense que colocará um escritório comercial na cidade que é santuário das três maiores religiões monoteístas do planeta.

Não bastasse tudo isso, acompanhado do filho, Flávio Bolsonaro (PSL-SP), senador da República, orou com Netanyahu no Muro das Lamentações e com o premiê assinou o livro que apoia a construção de um templo sionista onde hoje fica uma mesquita muçulmana. Mais do que, provocação trata-se de uma imensa maldade, coisa de gente muito cruel, que perdeu completamente o senso de humanidade. 

“Quando se assina um livro em que há um projeto de construção de um templo onde hoje é uma mesquita, há uma sinalização de qual é o elemento político-ideológico do presidente Bolsonaro”, esclareceu o senador. O mesmo que publicou, em seu Twitter, um meme em que dizia “quero que vocês se explodam!!!”, em resposta às críticas feitas pelo grupo islamita palestino Hamas.

Cá entre nós, faz sentido isso? Esses caras estão fora do mundo, não têm como durar muito. Há que impor-se a inteligência e o pensamento crítico.

Repetir, como um papagaio de Trump, que apoia a posse das Colinas de Golã, território sírio ocupado por Israel, que lá se mantém contrariando decisões da ONU e o direito internacional, é também uma atitude insana que nada tem a ver com os interesses do Brasil.

Netanyahu estava em campanha e Bolsonaro declarou apoio explícito a sua reeleição. Em retribuição, recebeu a promessa de apoio do premiê israelita à entrada do Brasil na OCDE. 

País de maior população árabe fora de seus países

A maior comunidade árabe fora de seus países vive no Brasil e deu uma contribuição incalculável ao desenvolvimento cultural e econômico do nosso país. Não dá pra entender uma atitude que vai contra todo o processo histórico brasileiro.

Nesta viagem, a mesma comitiva e os mesmos objetivos, como bem definiu o próprio presidente Trump ao definir o que quer do Brasil “military and trade”. Uma coisa puxa a outra posto que além dos acordos militares há o comércio de armamento e tecnologia militar. 

Com relação a Israel, isso ficou bem claro antes mesmo da posse, quando o filho do presidente eleito foi a Israel e negociou a compra de equipamento bélico para a polícia militar do Rio de Janeiro. 

Desta vez, tratando-se como irmãos, Bibi e Bolsonaro assinaram acordo de cooperação nas áreas de defesa (armas e inteligência), prevenção e combate ao crime organizado (armas e inteligência), segurança cibernética (cyber-guerra), acordos na área de ciência e tecnologia e de serviços aéreos.

E, para fazer um afago ao papa Trump, ambos reconheceram como presidente da Venezuela o autoproclamado Juan Guaidó, que de auto só tem seu automóvel, posto que foi colocado lá por Washington para desestabilizar um governo constitucionalmente constituído.

Quem perde e quem ganha com isso?

A pergunta a ser feita: 

Terá Israel e Estados Unidos condições de substituir os Estados árabes nas compras de produtos brasileiros?

Este não é só um problema de balança comercial, como dizem os iluminados da economia. É um problema econômico e social grave, que afeta profundamente a economia e a sociedade de Santa Catarina, a maior fornecedora de carne de ave processada de acordo com as exigência do credo muçulmano (abate halal).

Já no ano passado a exportação de carne de frango caiu cerca de 5%. A Arábia Saudita foi a primeira a impor represália e deixou de comprar de 25 frigoríficos. Ocorre que Arábia Saudita e Emirados respondem por 19,8% das compras de carne de frango.

O Brasil exporta anualmente cerca de 4 milhões de toneladas de carne de frango por US$ 6,571 bilhões. O abate halal corresponde a 45% do total de exportações de carne de frango, e renderam em 2018 uma receita de US$ 3,2 bilhões.

As coincidências não são casuais

Interessante ver como essas coisas se ligam.

O presidente da Argentina Mauricio Macri não tem os neopentecostais a seu lado, mas, desde quando foi prefeito de Buenos Aires tem estreitas ligações com Israel, para onde viajou em busca de uma santa aliança com o Estado Sionista. Como presidente, Macri entregou a vigilância na fronteira líquida a patrulhas israelenses e está comprando equipamento (armas para repressão) para as polícias.

Jair Bolsonaro antes de tomar posse foi a Israel, fez-se batizar pelos neopentecostais e com Bibi Netanyahu fez juras de amor. O premiê israelense retribuiu a visita e Bolsonaro voltou para fazer novos acordos. Antes mesmo da posse, o filho de Bolsonaro providenciou a compra de equipamentos de segurança para a polícia do Rio de Janeiro.

Israel, para manter-se como uma ilha no mundo árabe, desenvolveu alta tecnologia de inteligência e repressão e conta com tropas especiais e os mais modernos equipamentos bélicos fornecidos por seu patrono, Estados Unidos.

O lobby sionista nos EUA é o mais poderoso e a ultra-direita é mantenedora do sionismo e tudo o que representa, de supremacismo, homofobia, machismo, a política do apartheid. 

O Moviment, espécie de Internacional da extrema-direita, de Steve Bannon caminha por essas mesmas trilhas. Bolsonaro e Macri foram eleitos em eleições manipuladas pelos técnicos em manipulação de redes da Cambridge Analytica. Bibi, agora reeleito, o foi pelo mesmo processo fraudulento que fez aprovar o Brexit, elegeu Trump, Macri, Bolsonaro e influenciou nas eleições de mais de 60 países.

*Jornalista desde 1957, Cannabrava é editor de Diálogos do Sul, membro dos Conselhos da Abap, da CNTI e do Barão de Itararé.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1967. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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