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Nossas crianças merecem respeito, senhor Weintraub. Mais direitos, não menos

Bolsonaro trocou seis por meia dúzia no comando do Ministério da Educação. Tirou um boçal oportunista para colocar um fanático financista
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

As crianças são as vítimas dessa guerra do Estado
plutocrático contra o povo iniciada em 1500 –
agravada através dos séculos.

A nomeação de Abraham Weintraub, mais um dos economistas da Escola de Chicago, para comandar o Ministério da Educação (MEC) no lugar de Ricardo Vélez Rodríguez foi o mesmo que trocar seis por meia dúzia, pois este cidadão, além de incompetente para tão importante setor, é um olavista da mesma laia que seu antecessor. Tirou um boçal oportunista para colocar um fanático financista.

Ele começou bem. Homem de grande sensibilidade financeira, vai tirar o Bolsa Família de aluno que eventualmente pratique algum ato de agressão, ou seja, vai jogar na miséria a família que já está no limite da pobreza. Além disso, ameaça punir os pais com a perda da tutela da criança. Geralmente é só a mãe. Tiram a criança de sua guarda e mandam para onde? Para a Fundação Casa? Para a cadeia? Oras, então será enviado para uma escola do crime para se aperfeiçoar nas estratégias de sobrevivência? 

Nossas crianças merecem respeito!

Se o menino é agressivo, é certamente porque nasceu e cresceu no meio da violência. Violência imposta por um sistema dominado por financistas que só pensam em lucro financeiro. 

Lembra, Abraham, que Jesus expulsou os vendilhões do templo, aqueles que como você adoram o deus dinheiro, o deus da ganância, da cobiça, do desprezo ao ser humano que ousa amar a outro ser humano?

Ele também dizia: “vinde a mim as criancinhas, pois delas é o reino do céu”.

Se o menor, menino ou menina, é agressivo, o dever é buscar as causas da agressividade, oferecer atendimento psicológico ou psiquiátrico, se for o caso. A responsabilidade é do Estado. Essas pessoas no limite da vulnerabilidade social foram levadas a essa situação por um Estado excludente e agressor.

As crianças são as vítimas dessa guerra do Estado plutocrático contra o povo iniciada em 1500 — agravada através dos séculos.

Genocídio oficializado

Resultado da irresponsabilidade do Estado para com nossas crianças, segundo a Unicef, fundo das Nações Unidas para a Infância, em 2016, 335 jovens entre 10 e 19 anos foram assassinados no Rio de Janeiro, cidade ocupada pelas forças armadas. Em 2015, foram 278 os assassinatos, a maioria na Zona Norte.

Em 2016, 33.590 jovens entre 15 e 25 anos foram assassinadas em todo o país, totalizando, em 11 anos, 324.967 jovens assassinados. É a população de um país como a Islândia borrada do mapa. É um genocídio oficializado. Quase sete vezes o número de mortos ianques em 20 anos de guerra contra o Vietnã, diz a reportagem da Folha de São Paulo.

De onde nasce a violência? Ela é consequência da ausência histórica de políticas públicas nas áreas de educação, saúde, habitação e urbanização. Casas dignas, que ofereçam qualidade de vida, educação de qualidade e em tempo integral.

seguidor do Olavo de Carvalho, Abraham talvez desconheça que o Direito à Educação é cláusula pétrea `da Constituição

O que fará o novo ministro? Ele anunciou que vai “arrumar a casa”. Se arrumar a casa for devolver o bom senso para o MEC, tudo bem. Porém, como esperar bom senso de um discípulo de Olavo de Carvalho?

Esquece o seu deus-dinheiro, Abraham. Apalpe-se. Verá que que não passa de ser uma fábrica de fazer merda como todos os demais mortais terráqueos. É o que deveriam fazer todo os áulicos e arautos do neoliberalismo. Até que entendam que gente precisa comer, ter teto, estudar, trabalhar e procriar.

*Paulo Cannabrava Filho é jornalista e editor da Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1967. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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