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"Quero voltar a salvar vidas, o povo brasileiro sente nossa falta", diz médico cubano

Profissionais comemoram Medida Provisória que pode permitir retorno de milhares ao programa criado em 2013
Denis Kuck
Sputnik Brasil
São Paulo (SP)

Tradução:

“Queremos voltar a ajudar o povo brasileiro, que tanto precisa. Esperamos que a Câmara dos Deputados e o Senado permitam a gente voltar a trabalhar e a salvar vidas”, afirmou à Sputnik Brasil Yoanis Infante Rodriguez, que vive em Mossoró, no Rio Grande do Norte, desde 2014.

Assim como milhares de cubanos, ele saiu da ilha para atuar no programa Mais Médicos, criado em 2013 pelo governo da então presidente Dilma Rousseff.

O texto da Medida Provisória (MP) 890, que está em discussão em Comissão Especial Mista, composta por senadores e deputados, prevê a possibilidade de reinserção dos médicos cubanos que continuaram vivendo no Brasil.

Profissionais comemoram Medida Provisória que pode permitir retorno de milhares ao programa criado em 2013

Agência Brasil
Apesar do amor pelo Brasil, eles reconhecem que suas formações só foi possíveis por terem crescido em Cuba

Em novembro de 2018, o regime da ilha rompeu o contrato com o programa, em retaliação a declarações feitas por Jair Bolsonaro, já eleito, mas que ainda não tinha assumido a presidência. Desde então, o governo vem tentando preencher as vagas deixadas pelos cubanos.

O relatório da MP, feito pelo senador Confúcio Moura (MDB-RO), estabelece como será a transição para o programa Médicos pelo Brasil, lançado pelo governo federal para substituir gradativamente o Mais Médicos.

Salário integral e contratação direta

De acordo com a Medida Provisória, lida na terça-feira (17), os cubanos poderiam voltar atrelados ao Mais Médicos, com salário integral (atualmente de R$ 11,7 mil) e contratação direta, sem necessidade de intermediação de alguma organização. No modelo de MP apresentando anteriormente, os cubanos receberiam menos e só poderiam atuar como auxiliares.

No Mais Médicos, os contratos dos cubanos eram feitos por meio da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) e parte de seus salários ficava com o país caribenho. Pelo novo texto, os profissionais terão dois anos para fazer a prova do Revalida, que possibilita aos médicos estrangeiros validar seus diplomas em território nacional. 

Para Rodriguez, a medida é uma excelente notícia para os cubanos e para a população do Brasil. “Ainda há uma falta grande de médicos na maioria dos municípios. O país precisa de muitos profissionais. Estamos felizes com a medida, pedimos celeridade para sua aprovação”, disse Rodriguez. Se for aprovada na Comissão Mista, a MP segue para votação na Câmara e, depois, no Senado.

Água de Mossoró

O cubano de Bayamo afirmou ainda que o povo brasileiro gosta dos médicos da ilha e reconhece seu trabalho: “Aqui em Mossoró, costumam me parar na rua para tirar foto, abraçar, me perguntam, ‘doutor, quando você vai voltar?’. Sabem a forma e o trato da gente na hora de exercer a medicina, as pessoas agradecem cada atendimento, cada visita familiar, cada curativo, cada vacina”,

Rodriguez conta que Cuba será sempre sua pátria, local onde nasceu e vivem sua mãe e filhos, mas que foi muito bem recebido em Mossoró, cidade potiguar de cerca de 240 mil habitantes. Entre eles, sete cubanos que decidiram ficar. “Aqui conheci minha atual esposa. Me casei em 2016 e obtive visto permanente de residência. Quero continuar minha vida. É uma cidade quente e acolhedora. Tomei a água de Mossoró e daqui não saio mais”, brincou. O governo e associações de cubanos estimam que até dois mil médicos podem ter permanecido no país.

Apesar do amor pelo Brasil, ele reconhece que sua formação só foi possível por ter crescido em Cuba. “Tive a oportunidade e a capacidade de estudar medicina. Dou graças a Deus de ter nascido lá. Foi onde obtive todos os meus conhecimentos”, afirmou. Mesmo assim, admite que Cuba é hoje um país “pobre e fechado”.

Após o rompimento do contrato, ele explica que chegou a trabalhar por alguns meses em uma farmácia. “Muitos cubanos foram parar em farmácias. Outros foram para o comércio. Algumas prefeituras nos ajudaram. Temos nos virado, trabalhando e lutando até chegar uma solução definitiva para nosso caso”, disse à Sputnik Brasil.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Denis Kuck

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