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De golpe em golpe, desigualdade social e injustiça só aumentam no Brasil

Os sintomas sociais também aumentam gerando um ambiente de cada um por si, tudo fica mais disputado, aumenta o individualismo e a competição
Monja Kokai
Sul 21
Porto Alegre (RS)

Tradução:

Quando poderes se alinham para derrubar algo, como se diz, a união faz a força. À força derrubaram um governo legitimamente eleito. Miraram na Dilma e no PT, mas acertaram a democracia, e por isto, todos pagamos. A menos que você seja muito rico, que não precise trabalhar nessa vida, seja dono do capital e não dependa do trabalho para viver, independente de raça, religião, orientação sexual, partido político, todos acabam sofrendo as consequências do antes e depois do golpe. Mais um golpe…de golpe em golpe…

De todos os desafios que o Brasil tem que superar para poder avançar, a desigualdade social é o maior deles, pois é um dos países mais desiguais e injustos do planeta. É o ponto de partida para melhorar todos os demais índices que demonstram quando um país está conseguindo se organizar por conta dos investimentos que são feitos em educação, saúde e segurança, gerando um clima de estabilidade e previsibilidade de que seus projetos de futuro terão um solo seguro para se apoiarem. Não tem como superar estas desigualdade sem a presença do Estado.

O ser humano, por sua própria natureza , é frágil , sente medo e insegurança, mesmo quando vive num contexto tranquilo e sem grandes privações. É um ser social e grupal, o que garantiu sua sobrevivência como espécie. Ao ser humano foi dado a consciência e capacidade de compreender o seu entorno. Temos medo do que não conhecemos, temos medo do futuro, temos medo de adoecer, medo de perder nossos afetos, e temos muito medo da loucura e da morte. Grande parte desses medos é criação de nossa mente, que as vezes nos acena com cenários terríveis. Quando estamos imersos num ambiente instável e abalado social e politicamente, uma atmosfera instável e temerosa se instala e todos os medos ficam potencializados.

Os sintomas sociais também aumentam gerando um ambiente de cada um por si, tudo fica mais disputado, aumenta o individualismo e a competição

Foto: Guilherme Santos/Sul21
De golpe em golpe, Brasil enterra a democracia

Os sintomas sociais também aumentam gerando um ambiente de cada um por si, tudo fica mais disputado, aumenta o individualismo e a competição. No Brasil pós golpe, o povo dividido entre si e os sectarismos, , cada um defendendo suas ideias e interesses se somaram, aumentando a intolerância, a violência e crimes de ódio, principalmente contra mulheres, negros, pobres e população LGTBI.

No meu consultório os diagnósticos que tem trazido as pessoas para psicoterapia são Transtorno de Ansiedade e de Pânico, Estresse pós-traumáticos e transtornos de adaptação. São diagnósticos de países em guerra e que aumentaram desde 2013, época que iniciaram os protestos pelo aumento da passagem – que não eram somente os R$ 0,20 – que a direita, que perdeu a eleição , oportunamente, aproveitou e, a partir daí vieram os movimentos Vem pra Rua e MBL. De lá pra cá, a história vai contando. Um dos objetivos era a retirada de direitos e transformar o povo brasileiro em mão de obra barata. Pois só não conseguiram retirar direitos conquistados a 50 anos, assim como acabaram com os empregos formais, com 14 milhões de desempregados e 60 milhões na informalidade.

Cortes nos investimentos em saúde, educação, privatizações e desnacionalização, o que representa perda de soberania, fora que todo lucro vai para o exterior. O golpe foi continuado, simultaneamente ao alinhamento de instituições que deveriam defender os interesses do pais. Sob o pretexto da corrupção, se alinharam os principais meios de comunicação(Globo, revista Veja, etc)parte do Judiciário, Lava-Jato, PGR, STF, a PF, o exército, as bancadas da bala, do sistema financeiro e ruralistas – todos esses aguçados pela ambição de ganhos pessoais em detrimento das necessidades do país. O que temos hoje? Um país isolado e desacreditado no mundo. As últimas bizarrices foram os incêndios provocados na Amazônia – 10 de agosto – era para ser um protesto pró-Bolsonaro. Como se atrevem, como diz a jovem ativista Greta?

Quem fará cara feia para esta turba que não sabe o que significa limites?

Temos que assumir que nossos desafios são enormes. Enquanto o Japão consegue oferecer vasos sanitários Toto para seu povo, aqui no Brasil ainda não superamos a tração animal para certos trabalhos. Ainda temos que dividir espaço com carroças nas estradas. Isto é muito revelador.

No Budismo diz-se que temos as Três Joias – Buda, o fundador histórico que nos lembra que todos podemos nos iluminar, ser o Buda. Em sânscrito buda significa o desperto. A segunda joia é o Darma , os ensinamentos budistas e a terceira joia é a sanga, a comunidade de praticantes. Nos grandes templos e mosteiros, no portal principal que dá acesso, de cada lado tem esculturas em madeira dos guardiões. São esculturas grandes, que podem ter de 3 a 6 metros. Tem como características as caras com expressões assustadoras, uma com a boca aberta, a outra com boca fechada, irados , a intenção é botar medo mesmo – são guardiões de espaços sagrados que guardam coisas preciosas, e que por isso mesmo, podem ser motivo de ataques, disputas, calúnias e mal-feitos. Precisam ser protegidos para que se preservem.

Trazem nas mãos lanças, espadas, cordas e outros objetos que podem ser usados para defender que nada prejudicial possa adentrar por estes portais.

Tenho me feito algumas perguntas:

– Qual era e é o nível de nossas defesas para que os ataques à nossa soberania e democracia fosse/sejam tão fáceis? Somos um corpo social com baixa imunidade, ficamos e estamos adoecidos como tecido social.

– Quem seriam nosso guardiões? Esperava-se que fosse a constituição de 88 que aí está para ser respeitada e seguida.

– Que podemos e devemos fazer para fortalecer nossas defesas para reduzir os danos pelos estragos feitos até agora?

O mundo já tem problemas demais. Temos os maiores movimentos migratórios depois das segunda guerra mundial.

Povos que fogem por calamidades como guerras, fome e sede e desastres ambientais.

Se seguirmos com nossa imunidade tão baixa, de golpe em golpe, poderá ser o nosso futuro.

É imperdoável o que fizeram com o Brasil!

*Monja zen-budista e psicóloga.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Monja Kokai

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