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Cinco minutos para entender por que atos de Bolsonaro já perderam qualquer graça

Não podemos mais achar normal, não tem mais quaquaraquaquá, memes, piadinhas ou qualquer outra insinuação que aplaque a agonia
Marli Gonçalves
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Ai, ai, ai, ai, ai. Cinco doloridos ais contra o AI-5. Cinco minutos de sua atenção para entender porque a situação já há muito vem perdendo qualquer graça, e se tornando perigosamente um flerte com o que há de mais atrasado, como se um pote do passado, esse sim “conservado” fechado, estivesse sendo destampado.

Quando tudo começou, de verdade, consumado, e que tivemos de acreditar que não havia nada mais que pudesse ser feito – até porque o leite já estava derramado, não houve ninguém com capacidade para competir melhor para evitar o desastre – nos resignamos. Pensamos que, quem sabe? – o homem que assumiria a Presidência poderia se adequar, entender o que é Estado, Nação, o papel que lhe cabia. Que serenaria seus ímpetos de baixo clero, seus matutos, desinformados e inflamados discursos, em prol de governar para todos, pela pátria, e como ele próprio repetia, pelo Brasil acima de tudo.

Não se passaram muitos dias para que a nossa resignação virasse preocupação, susto após susto, quase que diariamente. O rol dos ministros escolhidos, as postagens nas redes sociais, as “lives” toscas, os comentários desairosos, a compra de briga com importantes setores da sociedade civil, as ameaças e ataques à imprensa, aos repórteres. A lista é já de início impressionante. Some-se censura a obras de arte, falta de compromisso com o meio ambiente e com todas as tragédias – de Brumadinho, queimadas, óleo nas praias, violência nas ruas, acidentes.

Como um carro sem freio acelerando numa ladeira íngreme, e tentando fazer uma curva à direita, os descalabros foram se avolumando. Ministro colombiano, astrólogo filósofo palpiteiro, teses escalafobéticas como a da Terra ser plana, meninas de rosa, meninos de azul, indicação de ministro “terrivelmente evangélico”, “golden shower”, erros crassos em portarias governamentais.

Logo vieram as encrencas e grosserias nas relações internacionais, as trocas de ministros por outros piores ainda, os cortes de verbas nas áreas sociais, as dificuldades nas negociações políticas, o atraso em atender às promessas eleitorais, os ataques à oposição, mesmo estando essa engessada, múmia, como ainda parece estar. Mais imóvel até do que o próprio e rebelado partido que caiu da cama onde dormitava, o partido do presidente.

Não podemos mais achar normal, não tem mais quaquaraquaquá, memes, piadinhas ou qualquer outra insinuação que aplaque a agonia

Reprodução
O clã Bolsonaro

Seguiram-se ainda revelações que associavam o sobrenome Bolsonaro à corrupção, às milícias, a um sem fim de tudo de ruim que parece ter sido juntado em um grupo só, para nos desanimar a todos (todos, claro, sem contar os seus iguais que ainda batem pé, cantando hinos com a mão no coração): os da maioria que votou nele, os que não votaram, os que escolheram outros, os que se abstiveram, mas todos em busca apenas de um país que saísse da paradeira após o desastre já vivido nas últimas administrações, do PT, de Lula, Lava Jato, Dilma, do impeachment, de Temer.

Logo percebemos outro grande problema que se agravaria muito no decorrer do ano, desses até agora dez terríveis meses de 2019: os Filhos do Capitão, os 00s, 01,02,03, Huguinho, Zezinho e Luizinho, ops! — Carlos, Flávio e Eduardo. Todos com cargos parlamentares, pela ordem, vereador no Rio de Janeiro, senador, deputado federal, os dois últimos eleitos agora na esteira do pai.

Eles são motor de crises, que agora chegam ao auge com a desfaçatez de Eduardo Bolsonaro ameaçando com AI-5 quem pensar em “derrubar” o pai, como afirmou. O AI-5, o mais devastador ato da ditadura militar que cobriu esse país por 21 anos. Nesta mesma semana, estupefatos, vimos os meninos divulgando o vídeo do leão atacado por hienas etiquetadas como se fôssemos nós todos, ao fim e ao cabo. Ouvimos o próprio pai, em viagem ao Oriente, ousar dizer, na Arábia Saudita, onde se encontraria com um sanguinário filho de monarca, que todas as mulheres “adorariam passar a tarde com um príncipe”, referindo-se ao príncipe Mohamed bin Salman, entre outras acusado de mandar esquartejar e matar (nessa ordem, a que parece que foi executada) o jornalista Jamal Kashoggi.

Só se fossem loucas essas mulheres, que ali já são vítimas das maiores proibições, atrocidades e desrespeitos.

Chega. Não tem mais nenhuma graça. Não podemos mais achar normal, não tem mais quaquaraquaquá, memes, piadinhas ou qualquer outra insinuação que aplaque a agonia. E o que é pior: até os militares que o cercam já percebem que Bolsonaro está mais para o atrapalhado Sargento Tainha e seus recrutas Zeros, do que para Popeye.

*Marli Gonçalves – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Site Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano — Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. Já à venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.. Colaboradora de Diálogos do Sul, São Paulo.

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