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"Só tenho sal na dispensa": trabalhadores informais não podem mais esperar por auxílio

Mãe de três filhos, moradora da Maré, no Rio, é uma das trabalhadoras informais sem cadastro que o governo Bolsonaro afirma que irá auxiliar por último
Carolina Moura
Ponte Jornalismo
Rio de Janeiro (RJ)

Tradução:

“Eu queria contar para vocês o que está acontecendo aqui”, é assim que Joyce Germano, de 33 anos, moradora da favela da Maré, zona norte da cidade do Rio de Janeiro, começa a falar de como a pandemia da Covid-19 tem afetado sua vida. Mãe de três filhos – Angelina, 7 meses, Athylla, 8 anos, e Aquiles, 10 – ela desabafa através de mensagens áudio no WhatsApp, dizendo que teme não ter comida em casa para todo mundo.

“O governo fala uma coisa na televisão, que vai dar cesta básica, mas a prática é outra. As escolas dos meus filhos não informaram nada para os familiares. Eu não consegui nenhum alimento”, diz ela. “Eu não sei o que vou fazer. Meu marido é autônomo e está com todos os trabalhos parados. Aqui em casa as coisas estão praticamente zeradas. Para não dizer que não temos nada, a gente tem cinco quilos de sal e as coisas que estão em uso.”

A família de Joyce aguarda com ansiedade a chegada do auxílio emergencial de R$ 600 por três meses que o Senado aprovou na segunda-feira (30/3). Mas, por ser uma trabalhadora informal que nunca recebeu Bolsa-Família nem tem registro no Cadastro Único, faz parte de um grupo que deve ser o último a receber o benefício – e que o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) nem sabe dizer quando será beneficiado, como fica claro nas declarações do ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni.

Joyce, porém, não pode mais esperar. “Eu sempre trabalhei assim, sem registro. Vendia açaí e tirava R$ 50 por semana. Minha renda nunca foi fixa. Minha vida é muito difícil e agora não sei o que fazer. Estou completamente sem saída”, diz. Desesperada, chega a dizer: “Eu não sei o que vou fazer para sustentar minhas crianças nessa crise. Se o governo quiser ficar com eles até essa pandemia passar…”.

Mãe de três filhos, moradora da Maré, no Rio, é uma das trabalhadoras informais sem cadastro que o governo Bolsonaro afirma que irá auxiliar por último

Foto: Arquivo pessoal
Joyce e os filhos diante de casa

Joyce mora na Vila do João, no complexo da Maré. Divide a casa de três cômodos com o pai, que sofre de Mal de Alzheimer, a madrasta, o marido e seus filhos. A renda da família vem através de bicos que seu marido faz como pedreiro e da sua venda de açaí.

A geladeira de Joyce | Foto: Arquivo pessoal

“O quiosque de açaí que eu trabalho aqui dentro da favela está parado. Ninguém compra nada. Fui até ameaçada de ser mandada embora. Fiz R$ 20 de venda essa semana”, explica. “Eles falam para evitar sair de casa, mas se a gente não morrer desse coronavírus, a gente morre de fome. A minha realidade é essa”, completa.

O valor do aluguel pago pela família subiu para R$ 800. Fora conta de luz, mercado e remédios. “Como vou fazer para pagar o aluguel esse mês? Estou no escuro, sei mais nada. Quero saber se vou conseguir essa renda que o governo federal diz que vai liberar para trabalhadores informais”, conta. “Aqui na Maré está todo mundo nervoso. Falaram que eram só 200 cestas básicas para distribuir. Isso não dá conta de todo mundo que precisa. Quem estuda tem o direito de ganhar também e meus filhos estudam, eles estão matriculados. Cadê meu direito?”, conclui ela.

Uma das lideranças da Maré, Anderson Gonçalves, do coletivo Rede de Solidariedade Pontinho de Luz, conta que a pandemia lançou a comunidade numa crise. De acordo com ele, as doações conseguiram fazer com que 40 cestas básicas fossem distribuídas aos moradores da favela. Junto com a líder comunitária da favela da Kelson’s Ana Cunha e o ativista social Marcos Paulo, corre atrás de mais doações para ajudar as famílias. “Os moradores estão recolhidos em casa e, através de contatos, tenho buscado ajuda para arrecadar mais alimentos”, explica.

Doação de alimentos da coletivo Rede de Solidariedade Pontinho de Luz | Foto: Divulgação

Segundo Anderson, eles estão fazendo parceria também com o Complexo do Alemão para recolher alimentos. “Também queremos distribuir kits de higiene além de comida”, completa. “Estamos fazendo tudo que podemos. Queremos ajudar as famílias nessa crise”, completa.

Como ajudar a Maré

Doação de alimentos
Fonte: (21) 99633-4873, Anderson Gonçalves, da Rede de Solidariedade Pontinho de Luz

Doação de dinheiro
Vakinha Complexo da Maré contra o Coronavírus
Vakinha
Todos Contra a Fome – Pontinho de Luz Brasil
Instituto Vida Real do Complexo da Maré
Banco: Itaú
Agência: 6009
Conta: 20893-2
CPNJ: 08077747/001-50
Contato: (21) 3866-6561// (21) 97033-4333


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Carolina Moura

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