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Intelectuais questionam interesse de Trump por Venezuela e ironizam postura com Bolsonaro

Documento de pesquisadores peruanos criticou a tentativa de derrubada do governo Maduro e o apoio a Juan Guaidó
Centro de Estudos “Democracia, Independência e Soberania”
Diálogos do Sul
Lima

Tradução:

O grupo de pesquisadores peruanos do Centro de Estudos Democracia, Independência e Soberania (CEDIS) criticou, na última sexta-feira (3), a postura do “Grupo de Lima” por seu viés intervencionista na Venezuela, no mesmo sentido do defendido pelo governo dos Estados Unidos.

“Por que não se interessam pelo retorno da democracia e do Estado de Direito na Bolívia?”, “por que se calam diante das explosões de Bolsonaro, que desconhece as leis de seu país a atua em função de seu mero capricho?”, foram alguns dos questionamentos realizados pelo CEDIS no documento de repúdio.

O movimento também criticou a tentativa de derrubada do governo Maduro e o apoio a Juan Guaidó, “um fantoche indicado por Washington”, escrevem. 

O texto compara a tentativa de golpe na Venezuela com a atual situação da Bolívia, presidida atualmente pelo governo golpista de Jeanine Añez, e rechaça a intervenção de Trump não só no país bolivariano como  também em países como o Iraque e Líbia. O mandatário “é incapaz de controlar uma epidemia em seu próprio país, para imiscuir-se abertamente no destino de outros”.

Leia o documento na íntegra:

Foi subscrita recentemente uma “Declaração” do denominado “Grupo de Lima”, que confirma sua aversão ao Processo Bolivariano que está sendo impulsionado na Venezuela e ratifica sua identificação com as posturas do Governo dos Estados Unidos.

Vale a pena assinalar algumas observações pontuais a este documento que foi pouco advertido pela cidadania.

Vejamos:

1. A “Declaração” começa dizendo que reflete a vontade “dos governos de…”  Janine Añez -a mandatária golpista da Bolívia imposta nesse país pela força das armas em novembro do anos passado e que hoje busca perpetuar-se no Poder-;  Jair Bolsonaro -o Presidente brasileiro mais  desacreditado por sua atitude diante da pandemia desatada pelo Coronavirus-; Sebastián Piñera  -o mais repudiado de todos os presidentes latino-americanos por seu próprio povo e por todo o continente-;  Iván Duque –o Chefe de estado da Colômbia questionado pela assassinato cotidiano de líderes sociais na Pátria de Santander e de Nariño-; e da Venezuela –curiosamente Juan Guaidó-  que não representa ninguém, nem em seu país, nem fora dele. 

Como pode se atrever este núcleo de inapresentáveis a tomar o nome de povos que os repudiam energicamente por suas políticas malsãs e por sua manifesta incapacidade de defender interesses de seus países?

2. A “Declaração” diz fundamentar seu ponto de vista em uma vontade orientada a assegurar “o retorno da democracia e do Estado de Direito na Venezuela”. Cabe perguntar: quem os chamou para suscitar neles esse interesse? Por que não se interessam pelo retorno da democracia e do Estado de Direito na Bolívia? Por que não agiram contra os golpes militares em Honduras, ou no Paraguai contra os presidentes Manuel Zelaya e Fernando Lugo? Por que se calam diante das explosões de Bolsonaro, que desconhece as leis de seu país a atua em função de seu mero capricho? Por que não falam da necessidade de impor o Estado de Direito na Colômbia, onde não são respeitados os acordos de paz, e onde todos os dias são assassinados líderes sociais? 

Na verdade, não lhes interessa nem a Democracia, nem o Estado de Direito, nem na Venezuela, nem em qualquer outra parte. Se lhes interessasse a Venezuela, teriam condenado o Golpe abortado de Pedro Carmona, em 2003. Não o fizeram. 

Documento de pesquisadores peruanos criticou a tentativa de derrubada do governo Maduro e o apoio a Juan Guaidó

Latinoamericacampost
Como esses ‘presidentes não representáveis’ ousam tomar o nome de povos que os repudiam? Eles estão fortemente ansiosos por suas políticas p

3. Daria a impressão de que agem com sensatez os que assinam a “Declaração de Lima” quando asseguram que devem ser “os próprios venezuelanos” os que tomem em suas mãos esta tarefa e a implementem “com métodos pacíficos”. Mas acontece que isso fica apenas em uma frase. Se tivesse uma conotação real, não teriam rubricado antes a aventura impulsionada em fevereiro do ano passado contra a Venezuela y que teve como propósito simplesmente derrocar o presidente desse país e impor em seu lugar um fantoche indicado por Washington.

E é precisamente o “plano” desse fantoche o que adota o “Grupo de Lima”. Depois de chamá-lo de “Presidente encargado”, propõe a formação de um “governo de emergência nacional que inclua todos os setores políticos e sociais”. Algo assim como se propôs na Bolívia depois do deslocamento de Evo Morales mediante um Golpe de Estado. A realidade é que não se construiu tal governo e o que se busca é perpetuar no Poder os Golpistas inclusive adiando, sem determinar data alguma, o processo eleitoral arrancado por pressão popular e inicialmente previsto para o dia 3 de maio próximo. Este “suposto” governo teria duas tarefas específicas: enfrentar a Pandemia – talvez da maneira como fizeram o Brasil ou o Equador. E “convocar eleições” -sem data, como na Bolívia. 

4. O Grupo de Lima, finalmente, e desmascarando sua essência, conclui assegurando que “aprecia também a importante proposta dos Estados Unidos da América do Norte” no marco da “transição democrática” da Venezuela. Deste modo “ressalta sua coincidência” com o Grupo de Lima.

A proposta que é mencionada – a dos Estados Unidos- é a que já expôs o senhor Donald Trump e a quadrilha que o secunda. E que não tem outro propósito que atrelar a Venezuela ao carro da política norte-americana em nosso continente. 

Se alguém tivesse alguma dúvida com relação a isso, poderia perguntar se acredita que o Iraque ou a Líbia são hoje países mais “democráticos” que antes, isto é, se realmente os Estados Unidos levaram a democracia a esses países. 

Uma última consideração deveria fazer refletir os Chanceleres do Grupo de Lima sobre a gravidade da pandemia à qual aludem em seu pronunciamento; o Coronavírus e sua incidência precisamente nos Estados Unidos da América do Norte. Esse país se converteu hoje no primeiro centro internacional da doença aludida, com quase 250 mil afetados e 6 mil mortos, cifras que já superam as registradas na Itália, na Alemanha ou na França; constitui uma ameaça mundial para todos os povos.  

Nem o senhor Trump, nem seu governo, assumem qualquer política que os leve a enfrentar essa dolorosa realidade. O Presidente norte-americano assegurou recentemente que “estaria muito bem” se os Estados Unidos chegassem a cem mil mortos. Disse isso em resposta a certa imprensa de seu país que assegurava que o pico de mortalidade se elevaria para mais de 200 mil pessoas.

Tem autoridade um mandatário assim, que é incapaz de controlar uma epidemia em seu próprio país, para imiscuir-se abertamente no destino de outros países e determinar seu futuro?

5. O mais vergonhoso para os peruanos é, no entanto, o fato de que o governo do Presidente Martín Vizcarra subscreva a desditada “Declaração de Lima”. O que teria ocorrido com o senhor Vizcarra se em setembro do ano passado a administração norte-americana o tivesse considerado um “ditador” e tivesse recusado a dissolução do Congresso que ele dispôs? Ou, se a Casa Branca tivesse decidido “reconhecer” como “Presidente em funções” a senhora Mercedes Araoz, proclamada pelo Congresso nessa época? E se tivesse feito reconhecê-la como Mandatária do Peru pela OEA, e tivesse nomeado um “Grupo” – do tipo do Grupo de Lima – para questionar a gestão do senhor Vizcarra?

Aos peruanos, além de condenar a “Declaração de Lima” e de rechaçar categoricamente a ingerência norte-americana nos assuntos internos da Venezuela, nos corresponde expressar nossa identificação com um governo que exerce sua soberania e que está disposto a lutar até a vitória pela causa de todos os povos de nosso continente. 

Lima, 3 de abril de 2020.

Centro de Estudos “Democracia, Independência e Soberania”


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
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