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Caso “Guardiões do Crivella”: políticos usam máquina pública para destruir percepção de democracia

Malversação do dinheiro público mostra como atingir a democracia para fins particulares e contribui para o aumento do autoritarismo
Rogério do Nascimento Carvalho
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Merecem atenção os fatos noticiados recentemente envolvendo, no Rio de Janeiro, a ação de um grupo de funcionários públicos, chamados de “Guardiões do Crivella”, que atuava em hospitais para blindar o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) de questionamentos da imprensa e críticas da população.

Os fatos invertem a ordem natural de fiscalizar o funcionamento dos órgãos públicos, na medida em que se tem a demonização dos profissionais da imprensa que têm como missão informar o estado de caos que vive a saúde pública e que tem se agravado diante da pandemia do novo coronavírus.

O desvio de função coordenada de funcionários públicos é a prova cabal do desrespeito à liberdade de expressão, que é um direito consagrado pela Constituição Federal.

Malversação do dinheiro público mostra como atingir a democracia para fins particulares e contribui para o aumento do autoritarismo

Reprodução: Winkiemedia
O prefeiro do Rio de Janeiro Marcelo Crivella

Este tipo de atitude, no entanto, não fica restrito à cidade do Rio de Janeiro. É comum em outros municípios do Brasil, onde se observam atos de coronelismo de gravatas.

O uso da máquina pública para gerenciar interesses eleitorais destrói a percepção de democracia que acaba sendo apropriada indevidamente por políticos. Estes, beneficiam-se da conveniência da ausência de fiscalização de órgãos de controle e de denúncia da população.

Desmoralização da política

A concentração de esforços dos governantes no atual momento deveria centrar-se no combate aos efeitos da pandemia de Covid-19, bem como planejar ações que visassem recuperar a recessão econômica que se avizinha, ao mesmo tempo, propiciando melhoria da qualidade de vida da população.

O que se vê, no entanto, é o esforço pelo controle das manchetes que serão distribuídas à opinião pública. Tal atitude tem viés centralizador e autoritário, impede o exercício de manifestação e sufoca a democracia. 

Trata-se, portanto, de estrutura corrompida cujo objetivo é compor maioria a qualquer preço, desconectada de apelo social. A frágil teia é composta por apoios diversos, sem matriz ideológica que visam cargos e influência junto às esferas governamentais.

Quais causas que levam a este diagnóstico?

Fatores estruturais são relevantes. Em primeiro lugar, o Brasil não possui partidos políticos de essência, fora raras exceções. Em sua maioria, são conglomerados de pessoas de diferentes espectros que se utilizam de plataformas unitárias com vistas ao deleite de verbas públicas e de mobilização. 

Passo seguinte, assiste-se à governança paralela com objetivo de direcionar a opinião pública a uma realidade fictícia, ocultando a fragilidade que sustenta todo o sistema. 

Desta forma, a comunicação estabelecida é ultrajante ao serviço público. Mascara a realidade e impede o exercício democrático. No caso de Crivella, o objetivo é impedir a denúncia do mau funcionamento das instituições. 

A fragilização da democracia é demonstrada pelo desvio de conduta e tentativas contumazes de corromper a população e influenciar seu poder de crítica e decisão. 

Desta forma, a opressão é a forma encontrada de silenciar a realidade, o que configura o pano de fundo do autoritarismo e de culto a personalidades que impõem comportamentos a serem replicados de modo a convergir exclusivamente para a manutenção do poder, deixando de lado o alcance do Bem Comum. 

Estas reflexões devem permear as eleições de 2020, e influenciar o debate sobre quais as escolhas que o Brasil deve apontar às futuras gerações. 


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Rogério do Nascimento Carvalho

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