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Bolsonaro será próximo ditador? Inércia do brasileiro pode ser fermento para golpe de 2022

Um aspirante a ditador deve saber arrastar, inflamar, exaltar seus ouvintes, inspirando ódio e desprezo para com os intelectuais e os que discutem
Carlos Russo Jr
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Napoleão Bonaparte ignorava quase tudo acerca da história da Europa, quase tudo sobre a arte, a criação humana, e foi-lhe por isto mais fácil removê-las, destruí-las. Tornou-se, no exercício do poder, um grande estrategista da guerra de destruição e até mesmo um mau legislador, escreveu Matternich: “graças apenas a seu instinto”

Boris Suvarine, fundador do Partido Comunista Francês, foi um dos primeiros socialistas a descrever Stalin, ainda no final dos anos 1920. Para ele, causava espanto a desproporção entre a vontade por um lado, e cultura e a inteligência do outro, daquele que seria continuador de Lenin: “Paciente, meticuloso, sóbrio em ilusões e palavras, e, sobretudo, seguro do seu desprezo pelo indivíduo, da sua falta de princípios, e de escrúpulos… deve o seu êxito político aos seus adversários. Não teria conseguido impor-se sem certo faro, sem faculdades naturais de intriga e uma liga eficaz de sangue frio e energia.” 

Ainda conforme Suvarine, Stalin era hábil em demorar soluções desfavoráveis, em dividir seus inimigos, em rodear obstáculos, não recuando perante nada que tivesse possibilidade de apressar seu poder, de ferir e de expulsar. 

 O verdadeiro ditador quer o poder pelo poder; toda a sua voluptuosidade está no exercício de mandar! As ideias, as reformas, o dinheiro, as mulheres ou os homens, os carros, o luxo, são para ele instrumentos ou objetos de poder, nunca o contrário.

Pois, o homem possuído pela autêntica vocação pelo poder não sonha senão com o poder. Esta é sua condenação, sua ideia fixa, sua profissão e família, seu prazer. Tendo todo o seu potencial psíquico absorvido por um único ponto, facilmente surge perante o vulgo, as massas, como extraordinário, um Mito, e torna-se o Chefe.

“O homem possuído pela autêntica vocação pelo poder não sonha senão com o poder”

Os gregos não tinham a menor dúvida sobre o caráter passional da tirania

A superioridade de todo chefe nazi fascista sobre seus adversários é essencialmente esta: ele aspira ao poder, só ao poder e nada mais senão ao poder!

Em “Mein Kampf”, de Hitler, temos uma passagem alegre num livro lúgubre: um comício durante o qual os seus S.A. espancaram os adversários até fazem sangue. E ele ri.

Stalin, por outro lado, homem desconfiado e fechado, confidenciou a Kamenev, antes de julgá-lo traidor e ordenar seu fuzilamento: “não há nada tão delicioso quanto tramar minuciosamente uma armadilha, em que seu adversário cairá inevitavelmente e ir para cama, dormir, repousar”.

Mao Tsé-tung desencadeou a dita “Revolução Cultural” para afastar do poder todos aqueles que poderiam fazer-lhe frente, após a mal sucedida campanha do “Grande Salto à Frente”que tentara promover na “marra” a industrialização do país.

Os milhões de trabalhadores que foram deslocados da agricultura para a metalurgia fizeram com que a produção agrícola do país diminuísse drasticamente. A fome se alastrou e levou à morte mais de 20 milhões de pessoas. 

As massas, que aderiram ao chamado do ditador Mao, fizeram parte da “Guarda Vermelha”, milícia que atuava na perseguição dos que pensavam diferente do líder do Partido, dentro do próprio Partido. A violência se generalizou; os acusados eram julgados em sessões caracterizadas pela humilhação pública e pela violência. Muitos dos considerados “traidores” foram enviados para campos de trabalho forçado, outros, executados em praça pública. 

Os membros da “Guarda Vermelha”, com o livro vermelho de Mao, sua única referência cultural, implantaram o culto ao Mito, ao líder na China dita Comunista.

De toda forma, os grandes alvos na “Revolução Cultural” foram os intelectuais e os artistas, sobretudo os professores. A cultura tradicional chinesa baseada em preceitos milenares, como o confucionismo, foi atacada, e templos e textos religiosos, destruídos. A perseguição aos professores foi tamanha que, durante uma década, o sistema de Ensino Superior Chinês praticamente inexistiu.

O terror, o medo e a subserviência foram as grandes marcas dos dez anos dessa “revolução”, que garantiu o poder político absoluto de Mao, até quase sua morte, em 1976.

Um aspirante a ditador deve saber arrastar, inflamar, exaltar seus ouvintes, inspirando ódio e desprezo para com os intelectuais e os que discutem

Pt.org
O ciclo deverá estar concluído em 2022, quando Bolsonaro se declarará vencedor das urnas

Bolsonaro é o próximo candidato a ditador!

Criticar um Mito perante um crente equivale a atacar a sua parte sublimada na qual ele consegue o conforto para suportar as dificuldades de sua vida miserável. 

Por isto, hoje em nosso país, ninguém é tão obtuso e radical quanto um bolsonarista. 

Que importa que o chefe diga e faça hoje o contrário do que dizia e fazia ontem, e mande matar inocentes com o uso de cloroquina, ou do mercúrio nas minerações?

Ou que, tendo assumido o poder no auge da apodrecida Operação Lava Jato, tenha se comprometido com a luta contra a corrupção, sendo ele mesmo um corrupto e corruptor, hoje associado ao tal do Centrão, que congrega em suas fileiras os maiores estelionatários do voto popular?

O elo mais forte que liga o chefe a seus cordeiros não é ideológico, programático ou ético: “se meu chefe age daquela maneira é porque tem razões para fazer”. E por não ter tido na vida o êxito, o fracassado que se crê um perseguido, como bolsonarista acaba ficando orgulhoso por seu chefe ser tão hábil e tão forte, tão sem caráter, acafajestado, mas que saiba de uma maneira ou outra exterminar seus próprios adversários. 

O elo mais forte que liga o chefe a seus cordeiros não é ideológico, programático ou ético 

E é esta estreita identificação entre chefe e a massa que o segue, que cria a forte coesão administrativa dos partidos totalitários, quer sejam partidos políticos ou militares, sempre ancorados em milícias aguerridas.

Totalitarismo bolsonarista

É certo que um partido totalitário depois da conquista do poder, torna-se partido da ordem, mas antes de o conseguir tem de ser, numa medida extrema e irreconciliável, o partido da desordem

Acontece que então, setores cada vez mais numerosos das forças armadas, da polícia, da magistratura e da burocracia estatal começam, primeiro em segredo e depois, abertamente, a apoiar o partido do líder fascista. 

O bolsonarismo sempre se absteve de apresentar qualquer programa reconstrutivo; em vez disto propaga uma ideologia representada por símbolos racistas, religiosos de um deus de conveniência, homofóbicos  e de nação, embora seu objetivo seja destruí-la para que grupos privados da Pátria degradada, dela se apossem totalmente.

A aparente civilização das classes médias é um verniz que se desfaz em situações de estresse social. Em todos os degraus da escala social dormitam resíduos de mentalidade primitiva, pré-lógicos e alógicos. 

O fascismo forma-se contra a razão da política; ele se amplifica por apelar aos instintos atávicos, à voz do sangue, à tradição, à mística dos rebanhos de ovelhas, à necessidade da massa em crer num chefe, à salvação corporal e espiritual baseada na obediência de ordens.

A tudo o que quiserem, mas nunca à razão!

Um aspirante a ditador deve saber arrastar, inflamar, exaltar seus ouvintes, inspirando ódio e desprezo para com os intelectuais e os que discutem. Isto Bolsonaro sabe fazer!

O ciclo deverá estar concluído em 2022, quando Bolsonaro se declarará vencedor das urnas, “TODAS ADULTERADAS” !!!! E conduzirá suas milícias à tomada do Poder!

E a inércia de nosso povo é e seguirá sendo o fermento do golpe do próximo candidato a ditador!


Referências: 

1. Daniel Tourinho Peres, da Universidade Federal da Bahia.

2. Bruno Lima Rocha, doutor em ciência políticas.

3. Liriam Sponholz, da Alpen-Adria-Universität em Klagenfurth, e Rogério Christofoletti, Universidade Federal de Santa Catarina. 

4. Flávio Moura, doutor em Sociologia.

5. José Arthur Giannotti, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo.

6. Álvaro Bianchi, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp.

7. Semprum, Jorge. Escola de Ditadores.

8. Silano, Ignazio. Escola de Ditadores.

9. Dobson, W.L. Escola de Ditadores.

Carlos Russo Jr, colaborador de Diálogos do Sul


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

   

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Carlos Russo Jr Carlos Russo Jr., coordenador e editor do Espaço Literário Marcel Proust, é ensaísta e escritor. Pertence à geração de 1968, quando cursou pela primeira vez a Universidade de São Paulo. Mestre em Humanidades, com Monografia sobre “Helenismo e Religiosidade Grega”, foi discípulo de Jean-Pierre Vernant.

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