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Dois lados da mesma fronteira: Enquanto Argentina recusa Copa América, Brasil nega vacinas e aprofunda genocídio no país

Aprovar a realização do torneio em nosso território é querer dividir mais ainda um dos países mais afetados pela pandemia
Helena Iono
Diálogos do Sul
Buenos Aires

Tradução:

De que lado da fronteira está a defesa da vida? Certamente não está do lado onde governa o negacionismo de Bolsonaro frente a um evidente estado de guerra sanitária planetária (com mais de 463 mil brasileiros mortos de covid-19). 

Não está do lado do rechaço às vacinas reconhecidas pela ciência; do esvaziamento do Estado e da entrega da soberania nacional (Petrobrás, Eletrobrás, Bancos estatais) provocando o colapso na economia popular. Não está do lado dos que negociam o futebol,  como show e aposta econômica dos magnatas da Conmebol, pisoteando a vida dos esportistas e da cidadania torcedora. 

Não está do lado onde um presidente evoca facilmente o ódio e a morte, consciente do efeito genocida de suas palavras e atos. Aprovar a realização da Copa América é querer dividir mais ainda um dos países mais afetados pela Pandemia; aprofundar o genocídio; satisfazer à repudiável indiferença de um setor abastado da classe média, ganhar seu voto, às vistas de tanta dor por milhares de caixões de mortos. 

Do outro lado da fronteira está a Argentina, não a física e geográfica, mas a política, a de um governo da Frente de Todos, com Alberto Fernandez e Cristina Kirchner, para quem, a preservação da vida da população é mais que uma bandeira. Por isso, foi renegada a realização da Copa América em território argentino.

Apesar do terremoto econômico, da herança da dívida externa macrista, e da guerra política e midiática, negacionista e mentirosa da oposição, a batalha sanitária, com apoio da maioria dos governadores e prefeitos, segue em frente, com restrições à circulação, mas sobretudo com um massivo plano de vacinação.

Aprovar a realização do torneio em nosso território é querer dividir mais ainda um dos países mais afetados pela pandemia

Reprodução: Facebook
O tecnico Tite e o principal jogador da seleção Neymar

O plano de vacinação na Argentina

Para uma população aproximada de 45 milhões, já foram recebidas cerca de 20 milhões de vacinas. Neste ritmo, a previsão é de que na metade de junho todas as pessoas a risco estejam imunizadas. A Argentina tem recebido continuamente vacinas Sputinik-V contratadas com o Instituto Gamaleya da Rússia (30 milhões), e da Astrazeneca-Oxford de coprodução Argentina-México (22,5 milhões com princípio ativo produzido na Argentina e enfrascado no México). Soma-se a isso, a importação de Sinopharm (8 milhões) e outras da Cansino Biologis em cooperação com a Fundação Huéspedes da Argentina (5 milhões), ambas da China. Retomou-se a chegada da Sinopharm, que esteve interrompida em função da realização do 100o. aniversário do PCC (que decidiu priorizar a imediata vacinação de 500 milhões de chineses). 

Além de tudo, há acordos com a Rússia e a China para, a curto prazo, fabricar-se na Argentina a vacina Sputinik V, e a Sinopharm, respectivamente. Em paralelo, estão se desenvolvendo pesquisas entre o Conicet (Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas) e o instituto Leloir para a produção de uma vacina argentina monodose contra diversas variantes. Ao mesmo tempo, a ministra da Saúde, Carla Vizzotti, na viagem a Cuba, acaba de encaminhar estudos entre a ANMAT argentina e os laboratórios cubanos que produzem a Soberana-2 e Abdala. 

Neste contexto promissor de relações bilaterais com a China-Rússia-Cuba-México, Alberto Fernandez é convidado de honra, e o único presidente latino-americano a falar  no ato de comemoração da fundação do PC Chinês em 6 de julho.  Isso sinaliza um apoio da China e do referido bloco de países ao governo de Alberto Fernandez e Cristina Kirchner frente aos ataques da oposição macrista no contexto da pandemia. 

A agressão através de porta-vozes políticos e da grande mídia afins ao macrismo não dá trégua no meio de tantas dores e desconcertos da Pandemia. A primeira das ridículas agressões da direita com efeito midiático foi o de que o presidente queria “envenenar” o povo com a Sputinik-V. Tal vacina tornou-se a mais renomada e disputada pela cidadania. 

O objetivo da oposição negacionista é atacar midiaticamente a Campanha pela Vacinação. Recentemente, faliu uma tentativa da extrema-direita, na pessoa da ex-ministra Patricia Bullrich, presidenta do PRO, que atua como lobista da Pfizer, ao acusar o presidente da República de tentar subornar essa companhia para a provisão de vacinas. A própria Pfizer, saiu imediatamente a desmentir que isso jamais ocorreu. 

Como já esclarecido pelo próprio governo, a não assinatura do acordo com a Pfizer, não responde a filtros ideológicos; houve dificuldades impostas pela própria empresa de não submeter-se a certas regras judiciais e de segurança sanitária, ao não concordar com os termos de indenização e responsabilidade do fabricante. Mas, o ministério da saúde continua com a busca de um acordo, e desmente a nova investida e distorção midiática espalhada pela fakenews de que a Argentina teria se recusado a receber vacinas Pfizer do mecanismo Covax da OMS.  A própria Covax desmentiu essa notícia. Saiba mais sobre o comunicado oficial da ministra Carla Vizzotti no qual chama a oposição a atuar com responsabilidade e “deixar essa obsessão pela Pfizer”.

As manifestações do 29M oxigenaram o Brasil

As manifestações no Brasil contra o Bolsonaro, pela vacinação e o auxílio-emergencial foram uma jorrada de oxigênio para o povo brasileiro que gritou um Basta ao genocídio!. Um sinal necessário à esquerda e às forças políticas progressistas na CPI, no Parlamento e na Justiça (STF) para ir adiante rumo ao impeachment. As manifestações de rua não foram só um desfile. 

Os cartazes, as palavras de ordem, a organização centralizada, coletiva, pacífica e cuidadosa, mas aguerrida como nunca, combinada com novos atores de uma classe média consciente, deram um sinal de que algo novo está surgindo, e que o Chile e a Colômbia estão presentes. Como diziam muitos cartazes: “Quando o povo sai nas ruas em plena pandemia é porque o governo é pior que o vírus”.

Não é casual que a grande mídia, Globo, CNN Brasil não dessem o destaque que as manifestações mereciam. Mas, repercutiram no mundo com vibração: “Finalmente, o Brasil reage!” Um recado forte para que a CPI resulte numa saída política decisiva não só para a democracia, mas para salvar urgentemente vidas, evitando que o país vá rumo a uma Colômbia. Isto é o que querem os oligarcas financeiros e intransigentes ruralistas do país! Aprovar a Copa América é querer tampar o sol com a peneira; tampar o fracasso de Bolsonaro no 29M com mais mortes. Mas, isso lhe resultará um custo social e político maior ainda.

O 29M foi um contundente recado para o Bolsonaro e seu governo. Mas, foi também para Lula, o mais provável futuro presidente do Brasil, de que há uma grande vontade, não só da velha guarda (que em boa parte se manteve na ativa retaguarda), mas da juventude, para que assim seja: Lula presidente! As ruas vão confirmando os números. Apesar de que há demasiado chão para caminhar até 2022. A voz da maioria dos manifestantes é não esperar. É Lula já! 

Lula está em campo

E de fato, Lula já está em campo; não apenas como articulador de uma Frente Única eleitoral em torno à sua candidatura, mas fazendo algo que está no seu ser como trabalhador nato e como experiente presidente que chegou à conclusão de que a mídia popular, aquela que conversa, explica e estimula as bases é imprescindível. Destacável sua dedicação na pandemia, como comunicador, entrevistando e concedendo entrevistas às rádios comunitárias. Assim, faz Alberto Fernández com rádios de tradição de popular na Argentina. Assim fez, Brizola ao tecer a Rede da Legalidade. Assim faz Lopez Obrador, no seu comunicado diário à imprensa. Vale ver e difundir a entrevista denominada “Revolução Social de Maricá”, que Lula fez ao prefeito de Maricá, Fabiano Horta, na TV Forum. Um exemplo de gestão de prefeituras com projetos sociais, Bancos populares, agricultura familiar e orçamentos participativos, para recuperar o vínculo do PT e partidos progressistas com o povo, os bairros, cidades e sindicatos.

* Colaboradora de Diálogos do Sul de território argentino
** Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Helena Iono Jornalista e produtora de TV, correspondente em Buenos Aires

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