Pesquisar
Pesquisar

MST alfabetizou mais de 100 mil pessoas no Brasil: "Luta por educação é paralela à luta pela terra"

Com base no método cubano "Sim, eu posso" e no Círculo de Cultura do brasileiro Paulo Freire, em 37 anos de luta, o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) alfabetizou mais de 100 mil pessoas.
Redação AbrilAbril
AbrilAbril
Lisboa

Tradução:

A 14 de Novembro, o MST celebra o Dia Nacional da Alfabetização, uma data importante para estes trabalhadores, que iniciaram as primeiras experiências com a Educação de Jovens e Adultos (EJA) a par das experiências isoladas de luta pela terra em várias regiões do Brasil, entre os anos 80 e 90.

No seu portal, o MST explica que, ao longo do processo de luta pela terra e a reforma agrária, os sem-terra edificaram o método, um processo de educação de jovens e adultos, tendo em conta a necessidade de alfabetização e o acesso à educação pública dos trabalhadores rurais.

A partir dos anos 90 do século passado, o MST definiu linhas políticas e deu início ao desenvolvimento de ações pedagógicas contra o analfabetismo nos territórios. O marco histórico na EJA, revela o organismo, foi o lançamento do Projeto de Alfabetização do MST, em 1991, no assentamento da antiga fazenda Annoni, em Sarandi, no estado do Rio Grande do Sul, que contou com a presença do educador Paulo Freire.

Com base no método cubano "Sim, eu posso" e no Círculo de Cultura do brasileiro Paulo Freire, em 37 anos de luta, o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) alfabetizou mais de 100 mil pessoas.

MST Alagoas
Campanha de Alfabetização "Sim, eu posso" em Alagoas

Entre 1991 e 1993, o projeto foi desenvolvido em parceria com o Instituto Cultural Francisco de Assis, o Ministério da Educação (MEC), a Caritas e a Ação de Educação Católica (AEC), envolvendo 100 turmas de alfabetização. Esta experiência viria a constituir a base para a construção do projeto político-pedagógico do movimento no domínio da EJA nos acampamentos e assentamentos de reforma agrária. 

Jornada de Alfabetização no Maranhão / Juliana Adriano 

Contribuir para que assentamentos e acampamentos fossem “territórios livres de analfabetismo”

Tiago Manggini, do setor de educação do MST, explica que, ao longo da sua trajetória de luta, o movimento organizou diversas campanhas de alfabetização que, entre outros objetivos, visaram “lutar por políticas públicas e criar uma mística buscando ampliar o processo de alfabetização e escolarização de jovens e adultos”.

Educação no Brasil: Bolsonaro para os pobres, Paulo Freire para os ricos

O movimento procurou desencadear um «processo de alfabetização de todos os jovens e adultos dos assentamentos e acampamentos coordenados pelo MST que não tiveram acesso à leitura e à escrita, contribuindo para que essas áreas se tornassem territórios livres do analfabetismo», disse Manggini.

Cristina Vargas, igualmente militante no setor de educação do MST, destaca como a experiência histórica do MST demonstra que a luta por educação é paralela à luta pela terra, desenvolvendo experiências concretas de alfabetização e reflexão acerca da realidade de vida dos trabalhadores do campo.

Criticada pelo governo, metodologia Paulo Freire revolucionou povoado no sertão

“A luta do MST pela reforma agrária acontece ao mesmo tempo em que o movimento reivindica o acesso ao conhecimento, e ele também se coloca para construir um processo de educação de forma reflectida, tendo como base a ação – reflexão – ação. Dessa forma, constitui a sua história e as suas ações na luta pela Educação do Campo”, refere Vargas.

 A campanha de alfabetização do MST tem como objectivo acabar com o analfabetismo nos territórios da reforma agrária / MST Bahia 

Enraizamento da Educação de Jovens e Adultos (EJA)

Em 1996 e 1997, o MST firma o primeiro convénio de EJA com o MEC, que envolveu 500 turmas de alfabetização e a formação e capacitação de 500 monitores – uma parceria que seria fundamental para o enraizamento dos projectos de alfabetização do MST nos acampamentos e assentamentos.

Neste período, foi importante o estabelecimento de parcerias com governos estaduais: Paraná, em 1996, e Sergipe, em 1995. Também nesta fase, foi firmada uma parceria entre o MST, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e o MEC, que visava a criação de 680 turmas de alfabetização envolvendo dez mil educandos.

Em 1997, merecem destaque, nesta área, a realização do 1.° Encontro Nacional dos Educadores e das Educadoras da Reforma Agrária, bem como a criação do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária.

Pecado de Paulo Freire foi sonhar com a utopia de um país educado e com liberdade

Segundo o MST, isto foi o “resultado de anos de lutas dos movimentos populares do campo, que por meio da pareceria com universidades e movimentos sociais possibilitou a alfabetização e escolarização de jovens e adultos, capacitação de educadores e realização de cursos de graduação e pós-graduação”, voltados para os trabalhadores ligados aos movimentos de luta pela reforma agrária no Brasil.

Tiago Manggini sublinha que os sem-terra não viam a EJA apenas como alfabetização, percebendo-a como “um processo de escolarização vinculado à formação humana nas suas várias dimensões”. Foi nesta altura que, mercê da força e da expressão ganha pela EJA, foi cunhado o lema da alfabetização nos assentamentos e acampamentos “Sempre é tempo de aprender”.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na Tv Diálogos do Sul

 

   

Se você chegou até aqui é porque valoriza o conteúdo jornalístico e de qualidade.

A Diálogos do Sul é herdeira virtual da Revista Cadernos do Terceiro Mundo. Como defensores deste legado, todos os nossos conteúdos se pautam pela mesma ética e qualidade de produção jornalística.

Você pode apoiar a revista Diálogos do Sul de diversas formas. Veja como:


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Redação AbrilAbril

LEIA tAMBÉM

Arthur_De_Olho_Nos_Ruralistas
De Olho nos Ruralistas ganha prêmio Megafone por investigação sobre Arthur Lira
Lira_Centrao_Legislativo_Executivo
Cannabrava | Parlamentarismo às avessas encurrala o poder Executivo
Petrobras
Juca Ferreira | Crise na Petrobras só atende interesses estrangeiros e do mercado
Mulheres_luta_por_moradia_Desocupação_do_Horto_RJ
Mais atingidas pela pobreza, mulheres estão na linha de frente da luta por moradia no Brasil