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“Marcha com Deus pela família”: ato de padre irlandês foi decisivo para ditadura, em 1964

Patrick Peyton, aliado à CIA, mobilizou madames e paulistas no que culminou em uma mobilização civil em apoio ao regime
João Vicente Goulart
Diálogos do Sul
Brasília (DF)

Tradução:

O golpe militar de 1964 foi encenado por um padre irlandês, padre Peyton, que organizou a famosa marcha com Deus pela família, em São Paulo. A iniciativa estimulou o levante militar de Juiz de Fora (MG), antecipando o que estava previsto pela cúpula militar traidora da Constituição.

Essa cúpula levou o país a uma sangrenta ditadura de 21 anos, que oprimiu a Nação, cassou mandatos, prendeu pessoas por crime de opinião, fechou jornais e revistas, censurou redações, matou opositores, sequestrou, torturou, matou dentro dos quartéis, exilou pessoas e fingiu aos olhos do mundo, que “ninguém segura este país”, “ame-o ou deixe-o”.

O milionário Padre Patrick Peyton e a CIA usaram a cruzada do Rosário, espalhando o rosário em família na América Latina, espalhando a verve anticomunista, pois como bom reacionário, nunca sequer tinha lido nada de Marx. Porém, foi assim que a fé de um estrangeiro mobilizou as madames e os paulistas naquela marcha da família, que culminou com a mobilização civil em apoio ao golpe de 1964.

Com a liberação dos áudios do Supremo Tribunal Militar nestes dias, reconhecendo as torturas praticadas nos quartéis, sangrentas, desumanas, asquerosas, podemos identificar os “heróis” daqueles que ainda defendem a ditadura, como Brilhante Ustra, capitão Benoni de Arruda Albernaz, capitão Ítalo Rolim, coronel Waldir Coelho, Dalmo Luiz Cirilo o “Cilo”, capitão Homero César Machado etc, etc, pois são mais de 300 nomes catalogados na Comissão de Anistia.

Patrick Peyton, aliado à CIA, mobilizou madames e paulistas no que culminou em uma mobilização civil em apoio ao regime

São Paulo in Foco
Curiosa imagem da marcha pela família. No canto direito, uma placa: entre vodka e whisky, prefiro pinga

A narrativa dos negacionistas

A voz do ministro do STM, Júlio de Sá Bierrenbach, admitindo as torturas enterra por vez a narrativa dos negacionistas, viúvas da ditadura.

Voltando ao questionamento desta construção interpretativa, temos que nos perguntar o que é a democracia que os militares brasileiros ainda não entenderam, não assimilaram ou se mascaram de tontos para tutelá-la.

Figueiredo dizia que prendia e arrebentava quem ficasse contra ela. Mas foi justamente quando ele foi chefe do SNI de Geisel que foram autorizadas as mais duras e numerosas ações em conjunto com a operação Condor, que atuou não só no Brasil, como em todo o Cone Sul, principalmente.

Atualmente, outro capitão presidente do Brasil fala em família, em Deus, em liberdade. Além disso, em plenário, defendeu Brilhante Ustra como o “maior exemplo de herói” e ainda emendou: “Medinho de Dilma”.

Forças Armadas não se dedicam a papel constitucional, mas a dominar próprio povo

A grande incógnita, após a liberação desses áudios, que dizem haver mais de 10 mil horas, é o conhecimento pelo governo da ditadura do que se passava nos porões de tortura, onde os próprios julgadores do STM reconhecem a ilegitimidade daqueles fatos e dizem que nada podem fazer.

Será que deixaram nas mãos de um deus bolsonarista? Temos que repudiar esses novos relatos; “SIM, HOUVE TORTURA”, para julgar, mesmo post-mortem, os animais e covardes, agentes do Estado brasileiro, policiais e militares que atuaram nessa podridão humana.

Não duvido que muitos deles saíram dali com as mãos sujas de sangue e dirigiram-se a uma capela ou igreja orar por suas almas e não pelas que deixaram sangrando, pelos ouvidos, seviciados, empoçados no seu sangue para se ajoelharem ante seu DEUS. Ainda não tinham a ideia de se batizar no Rio Jordão, com charlatães, que hoje consomem almas de homens simples, em templos de mercadores da fé.

Valorização do sadismo

A tortura, como valorização do sadismo, é o que os atuais militares parecem saudosos. Contudo, agora, denunciados pelos áudios do ex-ministro Bierrenbach, do STM, não se esqueçam mais da história que sabiam e escondiam. Foi a ditadura que manchou de vermelho nossa bandeira verde e amarela, foi do sangue dos combatentes torturados, mortos, assassinados e desaparecidos.

Voltem a cumprir suas funções institucionais, pois ninguém quer risadinhas do vice-presidente Mourão, dizendo que não podemos tirar os torturadores do túmulo para serem julgados. A instituição militar é que deve ser julgada, o que já deveríamos ter feito para o bem maior da Nação, pois seria um reconhecimento histórico definitivo, para encerrar esta página que Bolsonaro quer ressuscitar.

Quando procurávamos os restos mortais dos companheiros desaparecidos pela ditadura, escondidos em vários lugares do Brasil, o então deputado fez um cartaz no seu gabinete dizendo: “Quem gosta de osso é cachorro”.

Realmente, parece que o cachorro, após esses áudios, está dentro do gabinete do palácio.

Realmente, senhores militares, Deus existe para quem nele crê, se esperamos que apareça para perdoar-lhes, sem dúvida, morrerão sem ELE.


Poesia de Soledad Barret em homenagem a todos os brasileiros mortos pela ditadura

Mãe, me entristece te ver assim
o olhar quebrado dos teus olhos azul céu
em silêncio implorando que eu não parta.
Mãe, não sofras se não volto
me encontrarás em cada moça do povo
deste povo, daquele, daquele outro
do mais próximo, do mais longínquo
talvez cruze os mares, as montanhas
os cárceres, os céus
mas, Mãe, eu te asseguro,
que, sim, me encontrarás!
no olhar de uma criança feliz
de um jovem que estuda
de um camponês em sua terra
de um operário em sua fábrica
do traidor na forca
do guerrilheiro em seu posto
sempre, sempre me encontrarás!
Mãe, não fiques triste,
tua filha te quer.
Soledad Barret Viedma

João Vicente Goulart é colaborador da Diálogos do Sul.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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