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Cannabrava | É preciso rebater uso indevido da fé como Cristo fez com mercadores do templo

Seguidores das diferentes denominações evangélicas representam 30% do eleitorado de Bolsonaro e estão empenhados na campanha para a reeleição
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

Um negro pastor, como negro era o Cristo, pastor das novas mensagens que subverteriam a hierarquia eclesiástica e o próprio império romano. Cristo, o filho dos palestinos Maria e José, o carpinteiro. Cristo, o preso político, torturado e morto sob tortura na cruz.

Um pastor negro que se insurgiu contra a casa grande escravagista e se dispôs a lutar pela dignidade dos trabalhadores, contra a exploração e o saque das riquezas nacionais.

Assista na TV Diálogos do Sul

Ariovaldo Ramos é Presbítero da Comunidade Cristã Reformada, coordenador da Frente dos Evangélicos pelo Estado de Direito e participou, nesta quinta-feira (8), do programa Dialogando com Paulo Cannabrava

Conversamos sobre violência religiosa; as diferenças com pastores mais progressistas, como Henrique VieiraLula e os mercadores da fé.

Concordamos que um dos maiores problemas da atual conjuntura política eleitoral tem sido o fundamentalismo religioso de diversas denominações evangélicas, pentecostais e neopentecostais, que pregam a teologia da prosperidade, uma visão que está bem perto de ser adoração ao deus dinheiro, agentes de Mamon expulsos do templo por Jesus. Isso é história.

Assista a íntegra dessa conversa na TV Diálogos do Sul

 

A Nova Roma

A Nova Roma é o nome do livro que acabo de concluir e que deve ser lançado em meados de setembro. Nele, descrevo como os Estados Unidos, utilizando a crença dos povos e a religião, a diplomacia do dólar e dos canhões, construiu um império sediado em Washington. 

Igrejas com projeto de poder vieram dos Estados Unidos e se espalharam por toda a Nossa América. Hoje, estão conquistando novos espaços e alcançando povos em três continentes. 

Evangélicos, neopentecostais e a ascensão da extrema-direita ao poder no Brasil

O livro descreve inclusive, como algumas novas denominações neopentecostais se vinculam com o Estado teocrático sionista de Israel coadjuvante na ação colonizadora dos Estados Unidos em toda Nossa América.

Resistência

A Frente dos Evangélicos pelo Estado de Direito foi fundada pela jornalista Nilza Valéria Zacarias. Em 18 de agosto, formalizou apoio à candidatura de Lula e está promovendo a campanha “Não é pecado votar em Lula”. 

Presente em 20 estados, a frente é apartidária, mas na conjuntura que exige derrotar o fascismo justifica a adesão a uma frente de Salvação Nacional, e Lula encarna essa possibilidade.

Há outras organizações que se opõem ao fundamentalismo criacionista e à teologia da prosperidade, no entendimento de que Cristo é amor e acolhimento, entre outros os coletivos: 

Seguidores das diferentes denominações evangélicas representam 30% do eleitorado de Bolsonaro e estão empenhados na campanha para a reeleição

Wikicommons
Cristo Negro (Black Christ) – Iglesia de San Felipe – Portobelo – Panamá




O poder conquistado

Nada menos que nove partidos se dizem cristãos no Brasil atualmente. A Bancada da Bíblia conta hoje com 181 deputados e oito senadores. 

Os poderosos pastores contrastam com o povo pobre e negro que conforma sua base dos fiéis nas periferias de todos os Brasis. São quase todos brancos e ricos. Alguns, como Silas Malafaia e Edir Macedo, são bilionários e constam nas listas da revista Forbes entre os mais poderosos do mundo. Enriquecem às custas do dinheiro extorquido do povo pobre.

Carta da CNBB ao povo brasileiro é crítica contundente ao golpismo do atual governo

Levantamento do Instituto de Estudo da Religião constata que foram registradas no TSE 916 candidaturas identificadas como evangélicas. Mas nem todos se apresentam como pastor ou reverendo ou outra liderança evangélica. O número real é bem maior, consta entre eles mais de uma centena de candidatos à reeleição. 

Segundo o censo, os seguidores das diferentes denominações evangélicas somam 30 milhões e representam 30% do eleitorado de Bolsonaro. Garantiram a eleição em 2018 e estão perfilados na campanha para a reeleição. Contrariando as normas, as leis e a ética, pregam nas igrejas e nos meios de comunicação a falsa ideia do confronto entre o bem e o mal.

No projeto de poder, atuam junto a religiosos fundamentalistas e militares corruptos sedentos por prebendas. Após capturarem o poder, em 2018 através do questionável eleitoral, passaram três anos articulando a permanência. 

Além dos religiosos estão os militares das forças armadas e das forças de segurança como candidatos aos vários níveis do Legislativo e do Executivo para assegurar a continuidade no poder. Este é tema para outro artigo.

Frente evangélica anuncia apoio a Lula para derrotar Bolsonaro: “Anti-Messias”

Nesta sexta-feira (9), o ex-presidente e candidato Lula esteve com evangélicos no Rio de Janeiro, onde ressaltou que políticos não devem usar o nome de Deus para ganhar votos. 

“E eu posso dizer para vocês: eu admito um ser humano normal mentir, mas não é aceitável um pastor, que diz que fala em nome de Deus, mentir. Ninguém pode mentir em nome de Deus. Aliás, ninguém deve usar o nome de Deus em vão, ninguém deve usar o nome de Deus para tentar ganhar voto, ninguém deve”, disse Lula.

Em uma votação importante como esta, quando se tem uma economia em frangalhos, é inaceitável que a religião ocupe o centro do debate, mas é importante que evangélicos progressistas, sérios sigam se unindo contra o mal que o bolsonarismo representa ao país.

Evangélicos verdadeiramente patriotas, que creem no Cristo que veio ao mundo lutar por paz e vida, não podem ficar à mercê de corruptos e mercadores que roubam dos pobres para distribuir aos ricos. Religiosos de todas as matizes devem se somar à grande frente de libertação nacional. 

Paulo Cannabrava Filho, jornalista latino-americano e editor da Diálogos do Sul.


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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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