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EUA vão usar cavalo de troia para tentar implodir governo Lula, alerta especialista

Para Andrew Korybko, especialista em Guerra Híbrida, intervenção estadunidense não deve cessar sob governo Lula 3, mas sim mudar de configuração
Ana Livia Esteves
Sputnik Brasil
São Paulo (SP)

Tradução:

EUA têm boa vontade com Lula, mesmo após fomentarem campanha para retirar o PT do poder em 2016. Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o autor do livro “Guerras híbridas – das revoluções coloridas aos golpes“, Andrew Korybko, alerta que os EUA vão interferir no Brasil no governo Lula 3, utilizando frações do próprio PT para fazer o trabalho.

O apoio entusiasmado do presidente norte-americano, Joe Biden, à eleição de Luiz Inácio Lula da Silva levantou dúvidas sobre como serão as relações Brasil-EUA no governo Lula 3.

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Somente um dia após a eleição de Lula, o petista realizou o que o ex-chanceler de Lula, Celso Amorim, classificou de “uma bela conversa” com Biden, na qual foram debatidos temas como “combate às mudanças climáticas, salvaguarda da segurança alimentar, promoção da inclusão e democracia e gestão da migração regional”, conforme informou a Casa Branca.

Em entrevista ao jornal Globo, o ex-embaixador dos EUA em Brasília Thomas Shannon disse que Lula será útil à Washington por fazer uma “ponte entre a velha e a nova esquerda”. A “nova esquerda” parece ser mais palatável a Shannon, uma vez que, segundo ele, ela “não é antiamericana e está centrada em questões internas”.

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A boa vontade norte-americana com a esquerda brasileira contrasta com a já documentada participação de Washington na crise política que levou ao impeachment de Dilma Rousseff em 2016.

Para Korybko, a intervenção norte-americana no Brasil não deve cessar sob o governo Lula 3, mas sim mudar de configuração.

“A guerra híbrida dos EUA contra o Brasil vai se desenvolver de novas formas”, disse à Sputnik Brasil. “A fração liberal-globalista do Partido dos Trabalhadores, mais ligada ao Partido Democrata dos EUA, consiste na maior ameaça neste momento.”

Segundo ele, as correntes petistas associadas ao Partido Democrata são “ideologicamente motivadas a perseguir objetivos que contradizem o seu programa original soberanista e socialista“.

“Nesse caso, os EUA nem precisariam intervir diretamente, uma vez que essa fração do partido é capaz de fazer descarrilhar a agenda do partido por si própria […] mesmo que não esteja plenamente consciente disso”, acredita o analista norte-americano.

Para Andrew Korybko, especialista em Guerra Híbrida, intervenção estadunidense não deve cessar sob governo Lula 3, mas sim mudar de configuração

Gage Skidmore – Flickr
Guerras híbridas são aplicadas para derrubar governos inconvenientes para Washington, ou mesmo promover o próprio desmembramento do Estado




Guerra híbrida

Korybko ganhou os holofotes ao detalhar a estratégia norte-americana de guerra híbrida em casos emblemáticos, como os da Síria e Ucrânia.

“Guerra híbrida consiste na manipulação de um país-alvo para coagir a sua liderança a ceder em seus interesses objetivos e alinhá-los às demandas do Estado agressor”, explicou Korybko. “Os casos mais dramáticos do nosso século são os promovidos contra a Rússia, Ucrânia, Síria e Irã.”

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As guerras híbridas são aplicadas para derrubar governos inconvenientes para Washington, ou mesmo promover o próprio desmembramento do Estado, como no caso da Síria. Os instrumentos preferenciais das guerras híbridas são o uso de protestos de rua para promover as chamadas “revoluções coloridas”, a guerra informacional e sanções econômicas.

Além disso, as operações de guerra híbrida buscam explorar divisões existentes dentro das sociedades, como desigualdade social, diferenças religiosas e de valores, para enfraquecer o Estado-alvo. Ao empunhar bandeiras como o combate à corrupção, as operações de guerra híbrida buscam minar a confiança dos cidadãos em suas próprias instituições políticas.


Guerra híbrida no Brasil

O trabalho de Korybko teve ressonância significativa no Brasil, onde analistas perceberam que táticas similares às adotadas na Ucrânia e na Síria foram aplicadas durante a grave crise política que assolou o país a partir de 2013.

“Eu acredito que a razão pela qual o meu trabalho é tão popular no Brasil é porque fornece uma estrutura referencial para compreender a intervenção norte-americana no país durante a última década”, disse Korybko. “Fico muito honrado de saber que tantos brasileiros foram receptivos ao meu trabalho.”

Passados alguns anos, a participação norte-americana na Operação Lava-Jato e no financiamento de grupos que organizavam as chamadas “jornadas de junho de 2013” já está amplamente documentada e é de conhecimento público.Andrew Korybko, autor do livro “Guerras híbridas – das revoluções coloridas aos golpes” 

“Não há dúvidas de que [o impeachment de Dilma] foi o resultado de uma guerra híbrida conduzida pelos EUA contra o Brasil”, declarou Korybko. “A transformação de escândalos de corrupção em arma de guerra foi obra da interferência das agências de inteligência dos EUA na política interna brasileira.”

O analista acredita que o objetivo de Washington era “tornar esse gigante sul-americano em um Estado vassalo, cujos recursos pudessem ser impiedosamente explorados em prol da preservação da hegemonia norte-americana”.

Apesar de a democracia brasileira aparentemente ter sobrevivido, os danos gerados pela guerra híbrida no Brasil são de longo prazo: a polarização política, os danos econômicos gerados pelo desmantelamento do setor de construção civil, a intervenção dos EUA em estatais como Petrobras e Embraer são só alguns exemplos das consequências nefastas à sociedade brasileira.

“Todos os Estados devem educar seus cidadãos sobre os instrumentos básicos da guerra híbrida, para que eles possam ter consciência de como interações aparentemente inocentes em redes sociais e em processos como a globalização podem ser explorados por atores externos para desestabilizar as suas sociedades”, alerta Korybko.

No entanto, o analista lembra que as pessoas não devem julgar todos os protestos de rua como resultado de manipulação externa, tampouco “se sentir pressionadas a evadir seu direito de protestar ou de comercializar com o exterior”.

“Idealmente, a população atingirá um nível de ‘alfabetização em guerra híbrida’, que as ajudará a evitar serem exploradas como ‘idiotas úteis’, mas ao mesmo tempo se sentirem confortáveis para exercer seus direitos”, concluiu o autor.

O livro “Guerras híbridas – das revoluções coloridas aos golpes”, do especialista em Relações Internacionais de nacionalidade norte-americana, mas residente em Moscou, Andrew Korybko, foi publicado no Brasil pela editora Expressão Popular.

Ana Lívia Esteves | Sputnik Brasil


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Ana Livia Esteves

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